Vilarejo na Itália tem bandeira, princesa e quer sua independência
Conhecido como um dos vilarejos mais bonitos da Itália, Seborga é também uma terra em busca de sua independência.
Desde os anos 60, a cidade da Ligúria — uma região conhecida como a Riviera Italiana — com pouco mais de 300 habitantes busca o reconhecimento de que a documentação de sua anexação aos Reinos da Sardenha e, consequentemente, à Itália jamais aconteceu.
Segundo o site do Principado, como se autodenomina, Seborga é um estado independente desde 954, quando o conde Guidone de Ventimiglia doou o território a monges beneditinos da Abadia de Lérins. Em 1079, a região teria se tornado um principado.
Em 1729, ela teria sido vendida à família Savoy, que nunca pagou os valores. A República de Gênova passou a considerar a suposta ocupação então dos Savoy como ilegítima, enquanto o Papa Bento 14 teria “sido forçado” a regularizar a situação, reconhecendo em bula papal o direito da família ao vilarejo.
Mais tarde, Seborga teria sido anexada ao Reino da Sardenha, mas os documentos não reconheceriam a soberania do rei da Sardenha sobre a área, apenas a sua posse — o que teria sido provado porque o monarca jamais adotou também o título de príncipe de Seborga, apenas de “protetor do principado”.
Por isso, os cidadãos locais consideram que a anexação do principado ao Reino da Itália em 1861 e à República da Itália em 1946 seria ilegítima.
Apesar desta longa história, o movimento de independência começou apenas no início da década de 1960, segundo a CNN americana, quando o fundador da cooperativa de produtores rurais de Seborga, Giorgio Carbone, fez uma pesquisa nos documentos da cidade e notou discrepâncias.
Carbone, eventualmente, se tornou o primeiro príncipe de Seborga e reinou até sua morte em 2009, período em que ele chegou a fechar as fronteiras da cidade para estrangeiros. Atualmente, a monarquia se mantém, mas ao contrário da maior parte dos países europeus em que está presente, ela não é hereditária no principado: os príncipes e princesas são eleitos a cada sete anos.
Sua Alteza Sereníssima Princesa Nina de Seborga, que assumiu sua coroa em 2019, é a atual chefe da coroa. Para a alemã, que já viveu em outro principado, em Mônaco, a história toda é verdadeira — e, portanto, sua reivindicação de independência é legítima. No entanto, ela encara a situação com mais leveza que antecessores.
“É ótimo para o turismo também, não vamos negar. Quem não quer um conto de fadas, uma princesa e uma carruagem puxada por cavalos? Então, sim, [a coroa] é uma atração turística, mas também é parte da história de Seborga”, disse à CNN.
Apesar da Corte Constitucional Italiana e da Corte Europeia de Direitos Humanos já terem rejeitado o pedido de reconhecimento de Seborga como nação independente, a princesa continua a acreditar na possibilidade.
“Obviamente, não é um caso fácil. Não vai acontecer hoje ou amanhã, mas nada é impossível: olha só o Brexit. Os advogados continuam trabalhando nisso. É por isso que fui eleita princesa”, acredita.
*Com informações de UOL