Vampiros
Na abertura do ótimo filme baseado no romance de Bram Stoker, Drácula (1.992), uma frase impacta o expectador por, aparentemente, inferir uma desconexão com o tema central : “O amor nunca morre!”. E, no decorrer da trama, àquele que é capaz de ver além do básico das imagens tenebrosas, da escuridão dos ambientes retratados, floresce o entendimento. Assim como de lodaçais e desertos surgem flores magníficas, também do terror expresso na película emerge uma estória de beleza e plenitude.
A referência ao hematófago personagem, remete os incautos à ideia simplista de que sua eternidade pudesse lhe causar satisfação. O contexto, no entanto, invade uma seara, nascida de uma consistente luz, na escuridão da alma. Implica no sorver, mais que sangue, a vida de outras pessoas.
Assim, no mesmo diapasão, existem almas gestadas no mal, que não usam capa, não têm dentes sugadores, trafegam livremente pela luz do dia e não dormem em caixões. No entanto, alimentam-se das derrotas de outrem, da dor que impingem, da angústia que propiciam. Incapazes de coadunar com a felicidade alheia, pois que esta lhes causa repulsa.
Em um formato mais leve, o grande e saudoso cartunista Péricles nos brindou por algum tempo, nas páginas da extinta e ótima revista “O Cruzeiro” com as peripécias de “O Amigo da Onça”. Um “engomadinho”, de olhos espertos, cabelos pretos emplastados de “brilhantina Glostora”, bigodinho fino ao estilo Vincent Price. Esse “amigo” alcançava maior prazer em ver e, às vezes participar, de um processo em que alguém se desse mal. A graça residia nisso.
Em diferentes e variados níveis é possível encontrar esses “vampiros” no dia a dia. São aquelas pessoas para as quais nenhum dos projetos alheios tem valor; nada do que alguém gosta presta; todos os sonhos que não são os próprios, são ruins. E que lhe sorriem com malvada desfaçatez enquanto dizem amáveis, à guisa de companheirismo, com um vil disfarce: “desista!”; “não vai dar certo.”; “não posso ajudar agora!”. Não raro, ainda apoiam o adversário em detrimento do suposto amigo.
Numa cena com mesmo alinhamento em outra fita cinematográfica, dois jovens conversam sobre a ideia de um deles desenvolver um programa de computador que auxiliaria idosos a encontrar respostas simples e diretas para questões diárias básicas, como contatar transporte, farmácia, polícia, equipe médica de urgência, pessoas próximas, como amigos, vizinhos e parentes, entre outros. Para tanto precisaria desenvolver, inicialmente, um processo de pesquisa e implantação de um “piloto” para testes. Nesse momento percebeu que o “amigo” estava vendo outra coisa no celular, sem lhe prestar qualquer atenção. Então pergunta como avaliaria o projeto. A resposta parecia pronta há dias: “Não acho que alguém se interessaria por isso. Já tem muita coisa parecida por aí. Isso nem deve ser ideia sua. Você pode ser processado por plágio…”.
Na dúvida, vem a questão: “você entendeu o que eu estava propondo?”. E a resposta: “Mais ou menos, mas você não tem inteligência para criar um programa que funcione…”.
Quem tem amigos assim, talvez não precise de inimigos…

Mário Sérgio Rodrigues Ananias é Escritor, Palestrante, Gestor Público e ativista da causa PcD. Autor do livro Sobre Viver com Pólio.
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