Vacina contra carrapato já está em testes
Parasita causa milhares de problemas tanto com humanos quanto em animais
Na busca por uma vacina contra carrapatos, pesquisadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, trabalham em uma fórmula que adota a tecnologia de mRNA (RNA mensageiro) — a mesma estratégia usada pelas vacinas da Pfizer/BioNTech e da Moderna contra a covid-19. Por enquanto, a pesquisa está em fase pré-clínica, mas já demonstrou resultados promissores em porquinhos-da-índia.
Com os testes, os pesquisadores de Yale querem desenvolver uma estratégia de imunização contra a doença de Lyme, causada pela bactéria Borrelia burgdorferi e transmitida por carrapatos comuns nos EUA. Vale explicar que, no Brasil, o carrapato-estrela transmite uma doença semelhante, chamada borreliose brasileira ou doença de Lyme brasileira. O quadro não deve ser confundido com o da febre maculosa, desencadeada pela bactéria Rickettsia rickettsii, mesmo que ambas sejam causadas pelo mesmo vetor.
O diferencial da pesquisa, recentemente publicada na revista Science Translational Medicine, é que este imunizante não prepara o sistema imune para reagir ao patógeno, como os imunizantes “normais” fazem. Na verdade, a vacina ajuda o corpo a expulsar ou, pelo menos, a chamar a atenção para a presença do carrapato, que transmite a bactéria.
Quer ficar por dentro das melhores notícias de tecnologia do dia? Acesse e se inscreva no nosso novo canal no youtube, o Canaltech News. Todos os dias um resumo das principais notícias do mundo tech para você!
Dessa maneira, a fórmula combate apenas o vetor da doença, mas a estratégia pode ser muito eficaz. Para ilustrar, é como se uma vacina hipotética contra a dengue conseguisse evitar diretamente o mosquito transmissor da doença.
Testes com porquinhos-da-índia
De acordo com o estudo, a vacina de mRNA foi projetada para criar uma resposta imune aos carrapatos e, dessa forma, repeli-los antes de transmitirem a doença de Lyme. Isso porque a infecção bacteriana não ocorre de forma instantânea e pode levar até 36 horas. A fórmula aproveita este intervalo para “avisar” que a pessoa corre o risco de ser infectada, através de sinais na pele.
Este imunizante treina o sistema imunológico para responder a picadas de carrapatos, expondo-o a mais de uma dezena de proteínas encontradas na saliva do animal. Aqui, ocorre o mesmo processo das vacinas contra a covid-19. Isso significa que a fórmula de mRNA instrui as células a produzirem as proteínas presentes na saliva do vetor, da mesma forma que é feita com a proteína Spike do coronavírus SARS-CoV-2, o que prepara o sistema para encontros futuros.
Reações do imunizante
Com sucesso, vacina a contra o carrapato foi testada em porquinhos-da-índia
Durante o experimento, as cobaias que receberam a potencial vacina, quando foram picadas pelo carrapato, desenvolveram erupções cutâneas avermelhadas e coceira, sugerindo que o sistema imunológico estava respondendo ao contato do vetor. Em algumas circunstâncias, os próprios carrapatos se desprendiam, sem sugar o tanto de sangue esperado.
Em outra etapa do estudo com modelo animal, os pesquisadores colocaram carrapatos contaminados em contato com porquinhos-da-índia, sendo que um grupo estava imunizado e outro não tinha recebido a vacina.
Os carrapatos foram removidos das cobaias vacinadas quando surgiram sinais consistentes de erupções cutâneas — geralmente, nas primeiras 18 horas de contato — e nenhum deles foi infectado pela bactéria nesse intervalo. Por outro lado, metade dos animais não vacinados foi infectada.
E a vacina contra o carrapato para humanos?
Agora, os pesquisadores ainda devem coordenar estudos com outros modelos animais. Caso os resultados continuem positivos, a potencial vacina poderá ser testada em humanos. É esperado que, aos primeiros sinais de vermelhidão e coceira, a pessoa consiga identificar que foi picada por um carrapato e, assim, poderá removê-lo imediatamente.
Pode parecer que esta reação da vacina é insignificante ou de pouca utilidade, mas não é. Isso porque picadas de carrapatos costumam ser indolores e podem passar despercebidas, o que é muitas vezes fatal para o indivíduo. Como a tecnologia de mRNA é facilmente adaptável, a estratégia poderá, no futuro, ser usada também contra a febre maculosa.
*Com informações Canal Tech