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Turismo da vacina: viajar para ser imunizado fora do Brasil pode custar R$ 18 mil

Nossa colunista Renata Telles (@elaqueamaviajar) fala sobre o tema que levanta questões éticas e de desigualdade

Enquanto a imunização contra a Covid-19 segue atrasada em boa parte do Brasil, cresce o número de brasileiros atrás de doses mundo a fora. A “tendência” ganhou até nome: turismo da vacina. A pessoa viaja especialmente para receber a picadinha e, de quebra, curte o destino local.

Estranho? Antiético? Falaremos sobre a polêmica mais abaixo. Antes, é preciso contextualizá-los: diversas agências de viagens já oferecem pacotes que incluem o turismo de vacinação. Os casos mais populares entre os brasileiros são cidades nos Estados Unidos, como Nova York, Miami e Orlando, que, devido à grande oferta de vacinas e uma queda no contágio da Covid-19, passaram a permitir a aplicação de doses a turistas. Nesses lugares, inclusive, não é exigido comprovante de residência para se imunizar.

Os brasileiros “só” precisam cumprir duas semanas de quarentena em outro país, como por exemplo, México, República Dominicana e Costa Rica. “Recentemente com o anúncio de vacinação para turistas, surgiram muitas pessoas interessadas em obter detalhes de pacotes para fora do País. Temos orientado o de 14 noites no México (Cancún), e depois Estados Unidos. Mas não há garantias de vacinação por lá e nem sabemos qual será a vacina disponível no dia para aplicação. Existem variáveis nesse processo. Pode ser que seja vacinado? Sim, mas não é garantido”, ressalta Gabriel Cordeiro, gerente da BWT Operadora de Turismo, responsável por criar pacotes para mais de 2 mil agências.

Em maio, o buscador Kayak registrou 719% mais procuras de voos rumo à Nova York em relação ao mês anterior. Miami, Los Angeles e Orlando também tiveram um grande aumento (527%, 421% e 398% respectivamente). Recentemente, Sasha Meneghel e João Figueiredo se vacinaram em Nova York, Roberto Justus e Ana Paula Siebert tomaram a dose em Miami, assim como Anitta e outros.

Pacotes custam a partir de R$18 mil

Abu Dhabi também tem despertado o interesse de brasileiros. A capital dos Emirados Árabes Unidos distribui gratuitamente doses dos imunizantes da Pfizer/BionTech e da Sinopharm aos turistas. Atualmente, o país está aberto, desde que todos apresentem teste PCR negativo para a Covid-19 feito 72 horas antes do embarque.

Outro destino que junta as palavras paraíso e vacina na mesma frase são as Ilhas Maldivas. Em abril, o governo anunciou o programa 3V: visita, vacinação, férias (vacation, em inglês) a fim de estimular o turismo. O visitante pode até escolher a vacina que tomará: Astrazeneca/Oxford, Sinopharm e Pfizer. 

Claro, tudo isso considerando o preço que o turista precisa desembolsar para receber a tão sonhada imunização. “Um pacote de 20 dias em Miami com quarentena em Cancún sai por USD 3.739 (cerca de R$18 mil)”, diz Gabriel. A viagem inclui aéreo, hotel, seguro e até transporte e assistência pra vacinação. Para Maldivas, o pacote de 14 dias não sai por menos que R$20 mil.

Dilema ético: é errado se vacinar fora?

As viagens e tarifas são distante da realidade de grande parte dos brasileiros. E, talvez por isso, a revolta dos internautas ao ver a foto de alguém no Instagram exibindo o cartão de vacinação, por exemplo, na terrinha do Tio Sam. Vem o pensamento: “O coleguinha/famoso está lá curtindo e eu aqui esperando a minha vez na fila…”. Dói e ainda rola um “que absurdo”, mas será que se você tivesse grana, faria o mesmo?

Essa movimentação levantou diversos debates sobre ética e desigualdade, mas o fato é que não há irregularidades. Viajar pagando muito é uma oportunidade, para os que tem condições, de adiantar a imunização sem furar a fila brasileira. Gostemos ou não, essa galera não está fazendo nada errado.

“Em grande parte dos países, o turismo da vacina é absolutamente legal. A resposta dependerá da legislação de cada lugar. Contudo, destinos como os Estados Unidos estão vacinando todos sem nenhum tipo de limitação. O aeroporto de Orlando, por exemplo, tem posto de vacinação e passageiros que desejam ser imunizados, independente de nacionalidade ou status imigratório, estão sendo vacinados. As exigências seguidas são apenas as recomendações de saúde locais, como idade e eventuais condições que criem riscos para a saúde”, explica o advogado Mestre em Direito no Brasil e nos Estados Unidos Vinícius Bicalho.

Turismo da vacina em outros estados brasileiros

Em algumas cidades, a imunização está acelerada. É o caso de São Luís, no Maranhão, que já vacina pessoas a partir de 18 anos, e o Rio de Janeiro, que apesar de estar na casa dos 40 anos, é a única capital do sudeste a não exigir comprovante de residência a quem quer se vacinar. Cerca de 85 mil doses foram aplicadas em residentes de outros estados, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde.

O turismo da vacina, portanto, é uma realidade no Brasil também. Entretanto, Vinícius alerta que antes de seguir viagem pelo País em busca do imunizante, é preciso verificar a regra de cada estado e jamais tentar burlar a lei. “No Brasil, existe a regulamentação onde o cidadão deverá demonstrar que reside na localidade onde se vacina. Trata-se de algo para facilitar a organização dos municípios e evitar tumultos desnecessários. Mas é possível que algum cidadão cometa o crime de falsidade ideológica caso tente fraudar um documento para se beneficiar da vacinação em local diverso de onde reside. Comprovado o crime de falsidade ideológica, a pena é de reclusão de um a cinco anos, mais multa, se a adulteração for realizada em documentos públicos. Se a infração for cometida em documento particular, a pena é de reclusão de um a três anos, mais multa”, ressalta.

*Com informações da Glamour

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