Tang Ping: conheça o protesto de jovens chineses contra o trabalho
Nos últimos anos, a China é apontada como uma nação em ascensão, com crescimentos anuais em seu PIB. O Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu em um ritmo recorde de 18,3% no primeiro trimestre de 2021. Enquanto vários países ainda se recuperam da pandemia do coronavírus, a China já voltou a se desenvolver.
Além dos investimentos financeiros e tecnológicos do país, parte desse sucesso deve-se aos trabalhadores que trabalham arduamente para as empresas e, consequentemente, faz a nação crescer. Contudo, os jovens na China estão se cansando dessa cultura. Assim surgiu o movimento Tang Ping.
A história da República Popular da China
Ao olhar para o desenvolvimento econômico da China, algumas pessoas não se dão conta de que o país é uma república comunista. O Partido Comunista da China (PCC) chegou ao poder em 1949 e tinha como objetivo fundamental transformar a China em uma nação moderna, poderosa e socialista. Para economia, isso significava industrialização, melhoria no padrão de vida, diminuição de desigualdade e produção de equipamentos militares.
Entre 1959 e 1961, milhões de pessoas morreram de fome, após uma grande escassez. Assim, o partido precisou se reinventar para sobreviver e a partir de 1978 fez reformas e promoveu aberturas, liderada por Deng Xiaoping. Ou seja, o governo chinês conseguiu combinar a manutenção de um regime de partido-Estado com o capitalismo de Estado. Isso permitiu o progresso econômico nas últimas décadas, possibilitando que a população tivesse uma melhor qualidade de vida sem correr o risco de novos protestos contra o governo.
O que é o movimento Tang Ping?
Com a necessidade de se desenvolver, a China precisa que sua mão de obra trabalhe arduamente. Com essa pressão, principalmente sobre os jovens, surgiu uma nova tendência chamada Tang Ping que em tradução literal significa “deitar-se”. Nesse movimento, os jovens querem se rebelar contra a sociedade, simplesmente se deitando.
O estilo de vida Tang Ping inclui não se casar, não ter filhos, não comprar uma casa ou um carro e não aceitar trabalhar horas extras. Há no país quem trabalhe na chamada “cultura 996”, que é uma carga horária de 9h às 21h, 6 dias por semana, totalizando 72 horas.
Essa mudança cultural é relevante para o país, uma vez que impacta na força de trabalho da nação. Entre os anos de 1970 até 2013, a China vigorava com a política do filho único, para diminuir o crescimento populacional.
Agora, preocupado com o recuo do crescimento da população, o governo aumentou para três o número de filhos permitido por casal e está promovendo outras políticas de incentivo à natalidade. Com um mercado de trabalho em retração, os chineses precisam trabalhar cada vez mais.
O movimento Tang Ping é considerado um movimento espiritual e acredita-se que se originou em uma postagem popular de um site de mídia social chinesa. O termo viralizou quando um jovem descreveu sua rotina dizendo que ficar deitado é a justiça.
No post, ele narrou sua experiência de viver com 200 yuans, cerca de 155 reais por mês, duas refeições por dia e sem trabalhar por dois anos. Depois, os comentários foram discutidos no Weibo, uma rede social bem popular na China, levando o termo à popularidade. Porém, rapidamente a hashtag foi proibida na rede e o governo logo censurou o assunto na internet, falando em desonra.
O Weibo realizou uma pesquisa entre os dias 28 de maio e 3 de junho e descobriu que 61% dos mais de 240 mil respondentes disseram que gostariam de entrar nesse movimento. Com a desaceleração econômica causada pela pandemia e as tensões comerciais com os Estados Unidos, as pessoas estão mais receptivas a uma vida tranquila.
O descontentamento vem sendo amplificado pela desigualdade social. Nos últimos anos, os preços dos imóveis aumentou e a distância das classes sociais também. Assim, a classe alta monopolizou os recursos e a classe trabalhadora precisa arcar com esse padrão. Mesmo trabalhando muito, parte da população não consegue comprar uma residência ou arcar com os custos de ter um filho.
Para o governo, o movimento não é nada interessante uma vez que a população jovem é fundamental para manter o país em crescimento. Esses precisam constituir família, para garantir a força trabalhadora da nação de mais de um bilhão de habitantes nos próximos anos.
*Com informações do Mega Curioso