Seria a solitude a próxima tendência de bem-estar? Conheça o “namoro solo”
Desfrutar da própria companhia para uma série de atividades tidas como de casal está ganhando cada vez mais adeptas.
As histórias românticas podem ir e vir, mas o seu relacionamento consigo mesma é para sempre. Então, por que valorizá-lo menos do que os outros compromissos tradicionais, como namoro ou casamento? É aí que entra o conceito de solo dating (encontro sozinho, em tradução literal). A tendência, conhecida também como autonamoro, consiste em abraçar a vida sem um acompanhante e, consequentemente, sem uma validação externa. O objetivo é parar de esperar alguém para fazer o que você tem vontade, realizando atividades “românticas” ou divertidas por vezes reservadas para encontros tradicionais ou em grupos. Portanto, levar-se para jantar, ver um filme, jogar boliche ou cantar em um karaokê.
“Estamos reconhecendo a importância de investir em nosso próprio relacionamento e fazer atividades que queremos em vez de adiá-las enquanto esperamos por um parceiro”, diz Roxy Zarrabi, Psy.D, psicóloga-clínica especializada em ajudar mulheres a aumentar a autoestima. “Além disso, é fácil se cansar em um namoro moderno. Muitas estão deixando de usar aplicativos de relacionamentos porque percebem como isso afeta seu humor e querem utilizar o seu tempo de forma mais intencional.”
A tendência do namoro solo
Passar tempo sozinho não é um conceito novo, é claro, mas deixar de lado a ideia de que precisamos de outras pessoas para fazer as coisas que queremos pode ser uma forma de bem-estar e autocuidado no mundo frenético em que vivemos. “Usamos o namoro para conhecer alguém e construir um relacionamento com essa pessoa. Na versão solo, você está se conhecendo e aprofundando a relação consigo mesma”, diz Jenna Brownfield, psicóloga de Mineápolis, Estados Unidos. “Assim, você passa a tratar a si mesma como trataria alguém com quem está namorando: dando atenção sem distrações, mostrando interesse, planejando atividades divertidas ou indo a restaurantes e cafés legais.”
Fácil e divertido o suficiente, certo? Os criadores de conteúdo pensam assim. Centenas de tiktokers e usuários do Reddit narram suas aventuras solitárias online, incentivando outros a fazerem o mesmo. Não à toa, termos de pesquisa como “namoro solo”, “namorar a si mesmo”, “namorar sozinho” e “ideias para namoro solo” já acumulam milhares de visualizações e até geram debates nas redes sociais sobre se o namoro solo é triste, confuso ou empoderador.
Revolução do autocuidado
Quando tudo, desde o seu café da manhã até a rotina de treinos, pode ser publicado na internet, desconectar-se para fazer algo para si mesma é extremamente libertador. “A era digital atual e a cultura das redes sociais nos deixam com pouca privacidade”, diz Jenna. “O namoro solo é uma maneira de recuperar a vida privada, algo que é só para você, fora dos olhos e julgamentos dos outros.”
Também é fácil se perder cultivando uma imagem online e até perder de vista o verdadeiro “eu” no processo, acrescenta Lynn Zakeri, assistente social e terapeuta. “Namorar sozinho pode nos forçar a ser reais novamente; não somos uma imagem ou uma persona. Quem sou eu? Vou me levar para jantar e descobrir!”
Algo aplicável na vida real, já que, às vezes, precisamos de um lembrete de que não existimos apenas em relação aos outros ou para os outros. Por exemplo: você é alguém que sempre precisa pedir conselhos antes de tomar uma decisão? Namorar sozinho pode ajudá-la a desaprender esse comportamento. “Todos nós nos beneficiamos da validação, e é comum buscá-la no outro. Porém, fazer isso sempre pode virar um problema quando você não é capaz de fornecer a si mesma qualquer aprovação interna”, diz Roxy – ao que Lynn concorda. “Muitas têm uma inclinação para agradar as pessoas – ‘Eu não me importo, você escolhe!’, ‘O que você quiser está bom para mim!’ – e namorar sozinha desafia isso, incentivando a autoconfiança.” Mas não é só sobre isso, “é realmente gostar de si e apreciar o tempo com você”, Lynn esclarece. “Ao namorar sozinha, você se conhece mais e muda seu autorrelacionamento.”
Para as especialistas ouvidas nesta reportagem, a prática pode ser curativa para qualquer pessoa que não se sinta “tão amável” ou que a sociedade tenha dito que algum aspecto dela é inadequado. “Algumas pessoas LGBTQIAP+ precisam aprender a se amar, mesmo vivendo em uma sociedade que pode ensiná-las que não são dignas de amor”, explica Jenna. “Namorar sozinho, fazer terapia e cultivar relacionamentos afirmativos são formas de ajudá-las a desmontar qualquer homofobia internalizada e construir amor-próprio.”
Namorar sozinho, então, nos permite ver que as atividades que consideramos “compartilhadas” não precisam ser tratadas como tal. “Você pode desfrutar delas sozinha, isso permite que você recupere um tempo agradável em sua vida”, complementa.
Experiências e vantagens da trend
Os benefícios de namorar sozinho são infinitos. “Você pode fazer algo agradável sem depender da disponibilidade dos outros. Você conhece mais sobre si mesma. Você aprende o que gosta ou não gosta sem a pressão social das opiniões de outras pessoas e sem tentar impressionar alguém”, continua Jenna.
Os entusiastas do namoro solo concordam. “Eu sou filha única, então basicamente tenho saído sozinha minha vida toda”, diz Anna Moeslein, editora adjunta da Glamour US. “Acho que preciso recarregar minha bateria social mais do que a maioria, então é uma forma de aproveitar momentos sem me desgastar socialmente.”
Anna é tão fã da prática, que seu marido uma vez a presenteou com um tempo sozinha. “No Dia dos Namorados , ele pagou para eu ter uma ‘staycation’ enquanto cuidava dos nossos gêmeos em casa. Me sentei em um bar sozinha, jantei, tomei vinho e li o último livro de Sarah J. Maas. Foi a coisa mais romântica que ele poderia ter feito por mim.”
A escritora freelancer Ces Heredia, 31 anos, que vive no México e pratica o namoro solo desde 2013, concorda com o sentimento de exaustão. “Por mais que eu ame sair com amigos e namorar, estar sozinha me dá a chance de aproveitar o momento e experimentar atividades fora da minha rotina sem ter que gastar minha bateria social”, diz. “Eu não tenho a pressão de manter uma conversa.” Isso também a ajudou a mudar suas ideias de namoro romântico. “Eu me trato muito bem, então esse é meu requisito agora. Qualquer um que não consiga ou não queira atender a isso pode gentilmente seguir em frente”, conta.
Você não precisa estar solteiro para namorar sozinho, é claro. Helen, 40 anos, gerente de RH que vive no Brooklyn, tem um longo relacionamento estável, mas ele não se interessa por algumas das coisas que ela gosta. “Eu me levo a encontros incríveis desde os meus 20 anos, e isso não diminui os momentos maravilhosos que tenho com meu parceiro. Nunca foi algo estranho”, diz ela, acrescentando que isso ajudou na relação dos dois. “Não é apenas uma forma de autocuidado, mas também evita que eu fique magoada com ele por me afastar das coisas que quero fazer. Muitas pessoas pensam que é preciso fazer concessões quando há outra pessoa envolvida, mas ele me ama do jeito que sou e sabe que isso inclui meus momentos sozinha!”
Você não precisa esperar por um relacionamento para fazer todas as coisas que sempre quis experimentar. “Eu odeio quando quero realizar algo e não faço porque falta companhia, mas percebi que não preciso estar com outras pessoas para fazê-las”, diz Elsa Cavazos, escritora de 28 anos que vive na Califórnia. “No ano passado, fui a um festival de música, mas também curti outros shows e me levei para jantar”, acrescenta. “Mais pessoas deveriam fazer isso. É saudável aprender a apreciar sua própria companhia. Se você não gosta de estar consigo mesma, por que outras pessoas gostariam de estar com você?” Para refletir!