Tá na cara (Foto: Getty Images)

Procedimentos estéticos: como a pandemia afetou o mercado de cirurgias plásticas

O home office fez com que a gente se olhasse mais (dá-lhe reunião no Zoom, videochamada, filtro de Instagram…). Investigamos como isso impactou o mercado de procedimentos estéticos e cirurgias plásticas

Atire a primeira ring light quem nunca se pegou analisando o próprio rosto durante o call de equipe no Zoom ou sentiu curiosidade de testar um filtro que aumenta os lábios e afina o maxilar (aproveitando a luz boa que entra pela janela, claro). Tais comportamentos podem ter levado a pensamentos como “preciso melhorar a minha pele” ou até mesmo “meu nariz fica grande demais no vídeo”. Por mais paradoxal que seja, nosso rosto nunca esteve tão coberto – por máscaras PFF2 e N95 e face shield – e, ao mesmo tempo, tão exposto nas telas.

“A pandemia deixou a face ainda mais evidente ao transformar até os encontros entre amigos e familiares em videochamadas. Sem contar a produção de conteúdo para as redes sociais”, diz o médico Alan Landecker, cirurgião plástico especialista em rinoplastia. Estima-se que, antes da pandemia da Covid-19, eram realizados cerca de 1,5 milhão de procedimentos estéticos no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Um número que não apenas se mantém como tende a crescer no cenário pandêmico (acredite!), inclusive pelo fato de haver mais tempo em casa para a recuperação.

O poder das redes

Em 2013, selfie foi eleita a palavra do ano pelo Dicionário Oxford. Quem diria, oito anos depois, ela segue pautando não só a estética do mundo virtual como também a do real. Todo mundo tira, mas pouca gente sabe: selfies não são 100% fiéis à realidade, tá? De acordo com uma pesquisa norte-americana, publicada no periódico Jama Facial Plastic Surgery, as fotos que tiramos de nós mesmos podem aumentar em até 30% o tamanho do nosso nariz, por exemplo. E o motivo é simples: essa parte do rosto está mais próxima da câmera. Apenas isso!

Partindo daí, fica mais “fácil” entender o poder que os filtros e aplicativos de edição exercem nas redes sociais e, consequentemente, na nossa autoestima. “Mesmo na pandemia, diversas mulheres pediram por procedimentos que levam a mudanças semelhantes às que os filtros fazem, sem entender que muitas delas se tratam de transformações irreais”, conta o cirurgião plástico Leandro Pereira. O resultado de conviver com tantas caras utópicas faz o nosso cérebro “bugar”, plantando algum grau de insatisfação com a aparência até em quem se considera em paz com o espelho. “Vale dizer também que as redes sociais disseminaram informações sobre procedimentos estéticos e cirurgias numa velocidade inédita”, complementa o especialista.

Tá todo mundo igual?

Você já teve a impressão de bater o olho no seu feed do Instagram e notar que certas mulheres – sejam elas anônimas, celebridades ou influenciadoras – estão com características semelhantes? O sentimento é real. Prazer, Instagram Face, termo publicado em 2019 na The New Yorker que apresenta a “beleza moderna”. Fruto da cultura digital, ela é definida por uma pele clara e sem poros, maçãs do rosto salientes, olhar agateado com cílios alongados, nariz delicado e lábios carnudos. Isso te lembra alguém? “Atributos presentes nas selfies de Kim Kardashian e Kylie Jenner serviram de molde para criar a Instagram Face e influenciaram mulheres, marcas e até cirurgias e procedimentos estéticos, levando a um imaginário de beleza feminina que exige muito trabalho cosmético e alteração digital para ser alcançado”, diz a escritora e pesquisadora Camila Cintra, autora do livro recém-lançado O Instagram Está Padronizando os Rostos? (Estação das Letras e Cores, R$ 40).

Durante a pandemia, a vontade de ostentar características veneradas por um mar virtual de gente (juntas, Kim e Kylie somam 466 milhões de seguidores no Instagram, quase metade de todos os usuários que utilizam a plataforma) deu match com indivíduos enclausurados, cujas opções de entretenimento estavam reduzidas e que tinham um tempo livre em casa nunca antes experimentado. “Enquanto diversos ramos perderam clientes, a procura por procedimentos faciais na clínica cresceu”, diz a dermatologista Karla Assed. Falando de um recorte extremamente privilegiado de pessoas, o preenchimento facial para dar volume aos lábios, a toxina botulínica nas marcas de expressão, o ultrassom para firmar o rosto e os peelings que suavizam manchas apareceram no topo da lista de desejos neste período. “Se antes as pacientes procuravam tratamentos menos invasivos, que não as tirassem da rotina, hoje elas estão mais abertas aos que exigem uma recuperação maior por estarem de home office”, afirma Karla.

Tá na cara (Foto: Getty Images)

Carência emocional

O enredo você conhece bem: de um dia para o outro, lá se foram o contato com os colegas de trabalho, os programas de fim de semana com os amigos e os planos de viagens. No meio da montanha-russa de sentimentos na qual a pandemia nos colocou, muitas mulheres (e homens também) acabaram buscando na estética uma forma de se sentir melhor. “Mais do que nunca, vejo os indivíduos precisando de atenção e elogios – alguns deles acreditam que vão encontrar na cirurgia esse suporte emocional”, diz Landecker. Mas isso quer dizer que não posso ter vontade de mudar o que me desagrada no meu corpo? Não é por aí! O cirurgião reforça que entrar no bisturi deve ser a estratégia escolhida apenas para quem tem um alto nível de desconforto, e não a alternativa para suprir uma carência emocional – que, sim, é real e legítima neste momento (#tamojuntes).

Outro ponto constatado pela dermatologista Valéria Marcondes, é que a sensibilidade física em relação aos tratamentos aumentou. “Pacientes habituais relataram que os procedimentos nunca estiveram tão doloridos quanto agora. O estresse causado por esse cenário pandêmico deixou as pessoas mais sensíveis, emocional e fisicamente”, conta.

Combo estético

Outra mudança significativa foi a diminuição das viagens ao consultório. “Em contrapartida, houve um aumento de demanda pela combinação de procedimentos para resolver todas as necessidades de uma vez”, diz Fernanda Nichelle, especializada em estética. Portanto, em vez de aplicar toxina botulínica num dia e voltar dali a algumas semanas para fazer um laser, as pacientes preferem agendar um horário maior e aproveitar a saída do isolamento para tirar do papel tudo o que for possível.  Contudo, à medida que a população for vacinada, a chance de as pessoas quererem gastar sua liberdade recém-redescoberta em um consultório médico ou se recuperando em casa é pequena. Afinal, nada melhor para a autoestima e o autoconhecimento do que viver o mundo fora das telas. Estamos prontas!

Zoom incômodo

A exposição digital resultou em aumento de busca por tratamentos para…

Papada: Houve maior procura por procedimentos com os emptiers (enzimas que dissolvem a gordura), para diminuir o volume entre o queixo e o pescoço que aparece quando olhamos para nosso celular.

Nariz: A busca, que sempre foi alta, cresceu devido ao efeito de distorção que a câmera causa nessa parte do rosto (deixando a região maior) e a popularização do “antes e depois” nas redes sociais, prática vetada pelos Conselhos Regionais de Medicina.

Olhos: Com o uso das máscaras, o olhar se tornou o maior responsável por traduzir nossas expressões. Tamanha pressão levou muita gente a querer se livrar de olheiras, pés de galinha e pálpebras caídas.

*Com informações da Glamour

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