Percepções

Esse pessoal do Marketing deve possuir algum equipamento ou sentido diferenciado que os faz antever reações, emoções, focos, como se olhassem o futuro da mesma forma que nós, os comuns, olhamos para o presente ou mesmo para o passado. Eles são capazes de propor formas de expressão visual, auditiva, sensoriais enfim, que nos conduzem ao cerne daquilo que querem apresentar. E o resultado desse trabalho genial, depois de exibido, parece tão absolutamente simples que nos perguntamos aturdidos: “Por que não pensei nisso antes?”. Acho que a resposta é simples: Porque os criadores dessas soluções são especialistas; são dotados de talentos incomuns.

Quando se valem de figuras de linguagem, como o oxímoro, por exemplo, para fixar uma ideia ou conceito, valendo-se exatamente de seu contrário, de sua antítese. Ou ainda, para demonstrar uma percepção que pode ser conduzida em paz para um posicionamento altamente conflagrado. Ou ainda, como num palco, lançar luz sobre um personagem menor, distraindo a plateia da cena mais importante, que gera maior consequência para enredo da peça.

A título de exemplo, lembro de uma propaganda de creme dental em que aparecem personagens com um mínimo triângulo escuro nos dentes e cada um deles apresenta também outra condição de destaque: a um deles falta uma orelha; em outro uma das mãos tem seis dedos. Mas, espantoso, sem que o apresentador informe, as pessoas só percebem o detalhe no dente. E isso é o mote para sugerir a frequente higiene dental. E, claro, usando o produto do reclame, que seria melhor por isso e por aquilo.

Para um importante contingente de PcD, os valores humanísticos, intelectuais ou outros são perdidos ou menosprezados, pois pelo prisma através do qual são observados, só a deficiência sobressai, como no caso dos personagens no anúncio da pasta de dentes. Frequentemente os olhares recaem sobre a sequela visível apenas, ofuscando quaisquer nuances em que se possam perceber qualidades ou competências que fariam significativa diferença, caso fossem notados para além das deficiências.

Na última e importante Conferência Nacional da Pessoa com Deficiência, em Brasília, de 14 a 17 de julho de 2024, foram apresentadas diversas demandas que, caso atendidas, transformariam a realidade de muitas pessoas, de tomadoras para ofertantes de serviços e produtos que auxiliariam na economia familiar e, consequentemente, na estatal. No entanto, cumpre observar que a maioria das pautas agora em debate já foi apresentada em outras grandes conferências Brasil afora, como a que participamos no início na década de 1980 em BH, no Clube Labareda. O que implica dizer que, por melhores que sejam as intenções, quase nada muda no contexto geral.

Resta-nos, então, a fé, como na romântica música de 2009, do bom carioca Felipe Valente (Há um Deus): “A minha dor é enorme, mas eu sei que não dorme quem vela por nós! Há um Deus, sim. E esse Deus lá no céu há de ouvir minha voz.”

E vamos vivendo da fé, enquanto a ação dos homens não se consolida. No entanto, nosso tempo está se esvaindo rápido.

Mário Sérgio

Mário Sérgio Rodrigues Ananias é Escritor, Palestrante, Gestor Público e ativista da causa PcD. Autor do livro Sobre Viver com Pólio.

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Site: Mário S. R. Ananias – Sobre Viver com Pólio (mariosrananias.com.br)

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11 Comments

  • Muito bom.

  • a visibilidade que essa revista está dando à questão dos pcds é algo a ser elogiado. Trata-se de um tema relevante, atual e necessário, principalmente nos dias atuais quando o discurso de uma suposta defesa de minorias tornou-se uma mera bandeira político-ideológica para um certo seguimento político.

    • Realmente.
      Muito orgulho de estar parceiro da Pepper, pelo seu engajamento em causas importantes.

  • Nosso tempo está se esvaindo e não estamos dando o devido valor a ele. As vezes passamos 2 ou 3 ou mais horas trabalhando, mas não nos cuidamos, não cuidamos do próximo. Deixamos de lado propostas e ações que ajudariam a sociedade, pois damos mais interesse ao que é de cunho único e pessoal.
    Texto excelente e muito bom para abrir os olhos de todos.

    • Concordo integralmente.
      E esta Revista Pepper tem feito seu papel social com dignidade.

    • Realmente.
      Esse trabalho parceiro com a Revista Pepper tem esse objetivo: levar conhecimento e conscientização.

  • Texto excelente…
    Infelizmente dependemos de pessoas que não atuam, mas apenas fazem a média da mídia para divulgar…
    Deus realmente cuida sem distinção, mas nós temos muito que aprender

    • Agradeço.
      Estamos, nessa parceria com a Pepper, tentando levar conhecimento e conscientização.

  • Marketing é iludir com palavras e imagens interessantes, falta AMOR pelos PCDs e queria ver se uma Campanha de persuasão decente não transformaria as cidades e teriam acessibilidade que necessitam(de fato e de direito). Minha opinião.

  • Acato suas palavras como um incentivo.
    O trabalho que vimos fazendo em parceria com a Pepper já começa a apresentar bons resultados.

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