OS ANACORETAS COMPULSÓRIOS
Como Santo Antão do Deserto e Santo Afraates, da Igreja Siríaca, assumimos, compulsoriamente, a vida de anacoretas. Achei esse termo tão curioso e interessante, que resolvi escrever sobre ele nestes sombrios tempos de pandemia.
Por toda a vida, da infância à adolescência e da maturidade à velhice, buscamos a liberdade como um sentido para a vida. E liberdade, no meu ponto de vista, significa tudo, até se decidir viver em reclusão. E agora, a pandemia transformou esse direito sagrado em obrigação. Tornamo-nos anacoretas obrigatórios. E por mais que a gente aceite, pois ninguém quer morrer, a obrigação de se recolher fica impositiva.
Puxa, como era bom andar por aí, respirando ar puro sem máscara e sem rumo. Sou obediente, não transgrido, mas dá uma vontade danada de pegar um avião e voar até São Paulo para ver meus amigos/irmãos, de juntar numa roda meus amigos cantores e poetas, de me sentar num botequim com desconhecidos e ficarmos amigos de longa data em segundos, depois da quinta cerveja. Como seria bom!
A figura simbólica do anacoreta, substantivo de dois gêneros, no sentido restrito como monge cristão ou eremita vivia em retiro, solitariamente, em especial nos primeiros tempos da era cristã. Já no sentido figurado, é a pessoa que escolhe viver recolhida, afastada do convívio social, monge, como define o doutor Google, que sabe tudo.
Estou doido para sair e alguém, surpreso, me perguntar: “Oi, Roberto, há quanto tempo! O que você anda fazendo?” E eu: “Nada, sou um anacoreta.” E com essa ordem vamos vivendo.
Até mais, anacoretas!
Belo Horizonte, 24 de dezembro de 2020
Roberto Hermeto Brandão – advogado e professor aposentado
Email: robertohbrandao@gmail.com