O TENOR ENGASGADO

Desde pequeno, sempre gostei de cantar.
Em Ijuí, no Rio Grande do Sul, espantava as galinhas no quintal, cantando uma ária dramática com uma vozinha em formação, mas bem forte. As galinhas corriam de medo daquele guri com voz grossa que, rápido, buscava as ovos nos poeiros para a mamãe fritar para o café da manhã. Papai, soldado, precisava sair bem alimentado para enfrentar as rotinas do dia como o único 1º Tenente médico de um batalhão de mais de 2.000 homens naquele quartel de fronteira. Montado no Guri, um Pecherón branco que o ordenança trazia selado às cinco da manhã para a árdua jornada do dia, papai, no trote, saía fortificado com os ovos que o guri havia colhido.
Bem antes, no Rio, eu era convocado para apresentar o vozeirão em todas as festinhas infantis na pensão da Rua Constante Ramos.
Algum tempo depois, já em São Paulo e com o violão da Lúcia, minha irmã, eu voltava a cantar os tons da bossa-nova numa interpretação bem personalizada que alguns, para homenagear-me, diziam que minha voz se parecia com a voz do Dick Farney.
Nos Estados Unidos, certa vez, gravei um LP com sambas cantados no tom de Lá +, bem próprio para o timbre de tenor.
E a vida foi passando e eu me frustrando, até que um dia resolvi fazer um teste para um coral que estava selecionando vozes para compor seu quadro, em Belo Horizonte. Na sede da FIEMG, os nervosos concorrentes apresentaram suas habilidades vocais e fui selecionado como tenor. Era uma vocação? Foi uma glória que não consegui atender por absoluta falta de tempo. Os ensaios eram diários e eu não tinha tempo para nada. Vivia um momento de plena dedicação ao começo de uma vida como publicitário num mercado muito competitivo em Belo Horizonte e não sobrava tempo para a música, muito menos para o iniciante tenor. O publicitário venceu, o tenor, morreu!
Um viva aos colegas Pavarotti, Carreras, Domingo e Bocelli.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Não há esperança sem medo nem medo sem esperança. Baruch Espinoza filósofo holandês (1632-1677)

Email: robertohbrandao@gmail.com
Roberto Hermeto Brandão – advogado e professor aposentado

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