O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE RACISMO AMARELO
Com a onda de ódio que pessoas amarelas sofreram devido à pandemia da COVID-19, o racismo amarelo ficou ainda mais escancarado. É importante comentar que a Ásia é um continente que abrange diversos países com diversas raças, como vou retratar assuntos que já vivi enquanto mulher amarela, não posso chamar de racismo asiático. Também vale dizer que o racismo que eu sofro não é o mesmo que pessoas negras sofrem, não chega nem perto, e eu reconheço meu lugar de privilégio, mas ele ainda existe e precisa ser combatido também.
Um ponto que é super importante para ressaltar neste começo é que o que descendentes de asiáticos não sofrem apenas de xenofobia, porque não somos estrangeiros, os preconceitos que sofremos não tem a ver com o local onde nascemos, mas são sobre nossos antepassados, e sobre nossa cultura, por isso, classificamos como racismo amarelo.
Existe uma pergunta na internet que é “quando você percebeu que não era branca?” E para mim, foi quando meus colegas da escola começaram a puxar os olhos e perguntar “como você enxerga assim?”, ou quando começaram a zombar dos meus costumes – pense que há 13 anos o consumo de sushi, por exemplo, não era tão comum – ou quando começaram a me colocar em estereótipos que não me cabiam, ou quando começaram a me perguntar de onde eu era, e a resposta certa nunca foi “São Paulo”, que é exatamente onde eu nasci. Ali eu entendi que não era como as outras crianças.
Tendência foxy eyes
Você deve ter visto por aí a tendência dos foxy eyes, e a discussão se é ou não apropriação cultural. Como o assunto é amplo e extenso, eu deixo aqui uma reflexão: apropriação cultural não é sobre você, indivíduo, querer usar algo que pertence a uma outra cultura, ou grupo étnico, é mais sobre ser classificado como bonito em pessoas brancas do que nas pessoas do grupo de origem. Sendo assim, por que, em diversos casos, olhos puxados em pessoas brancas são bonitos, mas em pessoas amarelas não?
a luta antirracista precisa ser em conjunto, mas os grupos étnicos com mais privilégios, como os amarelos, precisam reconhecê-los para que a luta seja justa.
O yellowfever é um termo usado para falar sobre a sexualização e fetichização de pessoas amarelas, principalmente mulheres. Se você já se perguntou “por que alguns descendentes de leste-asiáticos só se relacionam com outros descendentes?” muitas vezes é para não sofrermos com esse tipo de objetificação.
Como um último ponto, acho importante falar sobre a minoria modelo, que consiste em colocar pessoas descendentes de leste-asiáticos como modelo, principalmente de comportamento: os melhores alunos, as pessoas mais comportadas e etc. Esse conceito afeta um pouco os amarelos que não conseguem se encaixar, mas ele é muito mais prejudicial para outras etnias, porque passa a ideia de que uma minoria é melhor do que a outra. A luta antirracista precisa ser em conjunto, mas os grupos étnicos com mais privilégios, como os amarelos, precisam reconhecê-los para que a luta seja justa.
Vale lembrar, mais uma vez, que eu reconheço meu local de privilégio entre as minorias, mas ainda sinto que é super importante falar sobre racismo amarelo, e às vezes a xenofobia, que a comunidade que eu estou inserida sofre.
*Com informações da Steal the Look