O que é dogging? Prática sexual que ficou conhecida como ‘Surubão do Arpoador’ tem regras e ‘gaviões’
Sexóloga e fundadora de sociedade liberal Voluptas esclarecem dúvidas sobre a prática sexual em grupo e feita em público que atrai praticantes em busca de adrenalina e ousadia
Um assunto instigou o noticiário nos primeiros dias do ano após uma prática sexual em grupo, ao ar livre e em local público vir à tona durante o Réveillon do Rio de Janeiro, mais especificamente no Arpoador, na Zona Sul do Rio.
Um vídeo com dezenas de pessoas participando de um ato sexual coletivo nas primeiras horas de 2025 ficou conhecido como “Surubão do Arpoador” – em uma referência ao chamado de “Surubão de Noronha”, que emulava uma possível orgia de famosos no arquipélago pernambucano.
Mas para quem estuda a sexualidade humana, a prática tem outro nome: dogging. Ou melhor, a prática de fazer sexo em público e que mistura voyeurismo e exibicionismo, conforme explica a psicóloga e sexóloga Laís Melquíades.
“O dogging é, basicamente, quando pessoas se encontram para momentos íntimos ou apenas para observar. É como um ‘evento ao ar livre’, com cenas quentes e exclusivas”, explica.
Os encontros de dogging costumam acontecer à noite ou em locais discretos. Segundo a sexóloga, alguns podem ser combinados previamente em fóruns ou redes sociais, mas também acontecem de forma espontânea.
“A ideia é juntar quem gosta de se exibir e quem curte assistir, criando uma interação que mistura adrenalina com liberdade”, diz.
Entenda quais as regras do dogging
Camila Voluptas, psicanalista e fundadora da Voluptas Society – sociedade liberal para casais e pessoas solteiras -, afirma que as regras não são explicitamente estabelecidas, mas elas existem.
“Em um ponto de dogging, por exemplo, não é qualquer homem solteiro que consegue participar, pois os próprios ‘gaviões’, como são chamados os que controlam o comportamento dos demais, mantêm a distância para respeitar o espaço do outro”, explica.
Assim como no Rio de Janeiro vários locais de dogging acabaram vindo a público, em São Paulo também existem diversos pontos.
“Entre eles, um parque de São Paulo, uma praça famosa, porém eles pedem para nunca divulgarem publicamente exatamente o local, justamente para preservar a prática”, diz.
No mundo do dogging, liberdade e diversão são as palavras-chave, mas a sexóloga acrescenta que isso não significa que vale tudo.
“Geralmente, são estipuladas algumas ‘regras’ básicas para garantir que todo mundo curta a experiência sem desconfortos”, explica.
Ela cita que o consentimento precisa ser lei, ou seja, nada acontece sem que todos estejam de acordo. E, quem não foi convidado, fica na plateia, assistindo a interação de outras pessoas.
“Embora não tenha um manual oficial, o jogo pode seguir algumas práticas, como luzes piscando ou gestos, que ajudam a comunicar interesse sem chamar atenção”, conta.
Como saber se em um local acontece dogging?
Camila dá a dica para identificar os locais onde a prática sexual acontece.
“Basta ver se há vários homens parados e espaçados próximos às árvores como se tivessem aguardando alguém chegar. Quando um carro ou um casal se aproxima, eles fixam bem o olhar e sabem quais casais estão “caçando” um solteiro, seja nos pontos comuns de carro ou nos pontos em que os casais passam caminhando”, explica.
Segundo a autora do livro “Ela, Dama de Espadas”, a regra é clara: o casal sinaliza com um olhar, piscando o farol ou chamando. “O gavião jamais se oferece sem que haja indícios reais de que é um casal liberal em busca de uma aventura”, afirma.
Entenda a motivação para praticar sexo em públicos
Os motivos para a prática podem variar, mas geralmente têm a ver com adrenalina, curiosidade e até mesmo com o desafio de transgredir as normas sociais, lista a sexóloga Laís Melquíades.
“Para muitos, a emoção do risco é um grande atrativo. É a mistura de frio na barriga com liberdade, que faz tudo parecer mais intenso. Algumas pessoas sentem prazer ao se exibir, enquanto outras preferem observar. O dogging junta esses dois mundos”, observa.
Mas há também as pessoas que desejam sair da rotina e experimentar algo novo ou, ainda, quem veja nessa prática uma forma de explorar sua sexualidade sem julgamentos.
Ela cita ainda o “senso de comunidade” que existe nessa prática, já que é um ambiente onde pessoas com interesses parecidos se conectam.
Cuidados para estrear no dogging
Voluptas recomenda que os casais interessados no dogging busquem conhecer adeptos nas redes liberais. Segundo ela, essa etapa é importante, pois quem tem experiência sabe como se preservar.
“É preciso ter cuidado, pois casais iniciantes podem cair em situações complicadas, como correr riscos à segurança topando com alguém ruim ou estando vulnerável a assaltos de alguém mal-intencionado”, alerta.
E acrescenta sobre a abordagem da polícia: “Você claramente vai ser punido, de acordo com o artigo 233 do Código Penal. Praticar sexo em público é crime, sendo considerado ato obsceno, e a pena para este crime é de detenção de até um ano ou multa.”
Para quem deseja começar, a sexóloga sugere sex clubs e casas de swing como ótimas opções.
“Esses lugares oferecem privacidade, segurança e um ambiente onde todo mundo está ali pelo mesmo motivo, com consentimento garantido. Outra possibilidade é explorar espaços ao ar livre, mas privados, como sítios ou campings fechados, onde dá para curtir com tranquilidade sem infringir a lei.”
Dentre as regras entre os adeptos do dogging, Camila destaca o uso de preservativos e recolhimento do próprio lixo, como toalhas de higiene e embalagens.
*Com informações de Globo.com