O PISEIRO
Nas minhas andanças pelo nordeste brasileiro, Salvador, Recife, Natal e Fortaleza, sempre senti a presença da característica e animada música nordestina. Como músico, por lá também algumas vezes cantei, acompanhado pelos trios típicos de sanfona, triângulo e zabumba, mas nunca me aventurei a dançar, primeiro porque não sou bom bailarino, segundo, porque talvez não conseguisse variar com os passos e os gingados.
Soube agora de um novo ritmo, ou melhor, um balanço, como eles mesmos o tratam: o piseiro, que é o forró de hoje. Os pés, geralmente calçados com sandálias, vão batendo no chão, ao acompanhamento da batida do zabumba, ajudando a contaminar todo o ambiente. Isto acontece nos salões, nas praias, ou mesmo nas feiras de ruas e, naturalmente, nas comemorações foclóricas do Nordeste.
Com tais lembranças vem junto o nome de dois dos maiores e melhores compositores brasileiros: Luiz Gonzaga e Dominguinhos, seu sucessor. O Gonzaga foi carinhosamente apelidado de “o Lua”, pela sua cara redonda e sorridente, e foi quem nos trouxe o baião, o xote, o xaxado e o forró, legado que nos levou ao agora, novíssimo, piseiro.
Difícil de descrever por que ritmos não se descrevem, são dançados. Quando pequenos, até costumávamos ouvir dos mais velhos: “Vem cá moleque, vou te ensinar a dançar: bolero é assim, um pra cá, dois pra lá; o samba é um e um, a valsa, também um pra cá, um pra lá, mas em passos largos, abertos. O tango, dois largos e dois curtos; a rumba e o mambo, passos cadenciados no mesmo lugar, provocando o remelexo nas cadeiras.” Já o merengue, que conheci na República Dominicana, também é marcado com os pés e as cadeiras frenéticamente remexidas ao som dos trombones e clarins, no acompanhamento da bateria bem marcada. Enfim, os dançarinos, ritmistas e os “pés de valsa” podem agora também incorporar aos seus momentos de alegria e descontração, o piseiro.
Y vamos a bailar, como disse o meu amigo Néstor.
Roberto Hermeto Brandão – advogado e professor aposentado
Email: robertohbrandao@gmail.com