O conserto do seu carro ficou caro? Por que não explodi-lo? 

Pois é, isso mesmo! Foi o que fez Tuomas Katainen, um finlandês que ficou pouco revoltado quando seu Tesla Model S parou por problemas na bateria. E, após rebocá-lo à uma oficina, recebeu um orçamento de singelos 20 mil €, cerca de R$ 130 mil. A felicidade foi tanta que ele chamou seus amigos do canal Pommijätkät, que levaram o carro até um local remoto, prenderam 30 kg de dinamite nele, e CABUM! 

Imagem: Reprodução

Link para o vídeo: https://youtu.be/7_9aVzf5fC4 

Lógico que foi um modo de transformar a tragédia em comédia, e ganhar alguma grana nesse processo. Mas essa situação mostra algo que passa despercebido na maioria das discussões sobre híbridos e elétricos. 

Já falamos sobre isso na nossa coluna do dia 25 de novembro de 2021, “Antigamente os carros eram feitos para durar”: quanto mais eletrônica um carro tiver, maior será a quantidade de trocas de componentes, e menor será a quantidade de reparos. Sim, tem diferença! Algumas pessoas exaltam os carros elétricos como salvação da humanidade, mas se esquecem que baterias acabam. E são caras… Quando a bateria do seu celular fica ruim você troca a bateria ou o celular? Pois é… É bem provável que o mesmo aconteça com seu primeiro carro elétrico ou híbrido.  

“Ah Antonio, mas carros à combustão também tem conserto caro…” Sim, isso também é verdade. Então vamos fazer uma matemática roubada! Em uma rápida pesquisa no site carvago.com, vimos Tesla Model S 2013 anunciados na Europa de 39 mil a 75 mil €, dependendo da versão. Vamos considerar a média então? 57 mil €. 

Então, imagine que você é o nosso amigo finlandês Tomika Ghandu e está dirigindo seu Tesla de 8 anos de idade que vale 57 mil €. De repente ele para, e você recebe um orçamento de 20 mil €, 37% do valor do carro, pelo reparo.  

De volta à realidade: Você mora no Brasil e tem um Jetta 2.0 TSI 2011, que vale algo em torno de R$ 60 mil. Ele para, e você ouve do mecânico que a situação é braba… O motor foi pra vala e você precisa fazer uma retífica. Junto com a má notícia vem um orçamento de R$ 10 mil, 17% do valor do carro. 

“Ah, mas o Jetta ia dar problema em transmissão, que o elétrico não tem…” Ok, meu amigo insistente. Mas o elétrico tem uma série de componentes eletrônicos que o Jetta não tem… Componentes estes que poderiam ser danificados pelo funcionamento incorreto da bateria. Para não prolongar nossa rinha de hipóteses, só me deixe concluir meu raciocínio. 

Carros elétricos ainda são mais caros que carros à combustão. Um dia serão mais baratos? É possível… Mas esse dia está longe. Possuem componentes mais caros que precisarão ser trocados, enquanto o valor do carro vai diminuindo. Se considerarmos um período onde valha mais a pena consertar o carro em vez de explodi-lo, para elétricos e híbridos esse período ficaria entre 8 e 10 anos. E para carros à combustão? Bom, difícil dizer. Mas tem muito Audi turbo 2002 andando por aí… 

“Mas os elétricos não poluem!” Cara, você tem que ser como o Lion dos Thundercats, e usar sua visão além do alcance! 

A não emissão de poluentes é uma vantagem dos elétricos. UMA. E não: não é uma vantagem suprema. É lindo e maravilhoso pensar em uma frota inteira rodando por Brasília sem nenhuma grama de fumaça! E eu concordo que os grandes centros precisam de veículos elétricos. Mas por trás dessa cidade dos ursinhos carinhosos existe uma nuvem negra de poluição. 

Os materiais usados na fabricação de componentes eletrônicos vêm de mineradoras, em sua grande maioria. Baterias então… Nem se fala. A energia elétrica para carregar uma frota de elétricos vai ter, invariavelmente, participação de termoelétricas em sua geração. E, por fim, o descarte de veículos elétricos e seus componentes acontecerá antes de veículos à combustão. Então, querido, antes de dar o cinturão de salvador das florestas aos elétricos, vamos considerar todas as variáveis. 

Aliado a isso, poucas pessoas comentam sobre o impacto que um aumento significativo na quantidade de elétricos traria para as redes de distribuição de energia elétrica. Matemática simples! Seu condomínio hoje consome X kW. Quando 50% dos seus vizinhos tiverem carros elétricos, que serão ligados nos postos de carga à noite e desligados pela manhã, seu condomínio passará a consumir, sei lá: 1,3 X kW. Sem contar que esse acréscimo ocorrerá no horário de pico de consumo. “Mas e daí?” E daí? Isso quer dizer que qualquer condomínio de médio porte, que hoje possui uma ligação de energia em baixa tensão, se assemelhará à uma indústria, tendo alimentação em média tensão, com seu próprio transformador. Imagine o impacto disso em uma cidade. É possível? Claro! Mas, como tudo que envolve custos, precisa ser analisado. 

Eu não quero aqui te convencer que elétricos e híbridos são bons ou ruins, longe disso. Se você quiser ter um, tenha! Usufrua de suas vantagens. Meu papel aqui é mostrar a vocês, meus amigos da Pepper, que a galera mais radical que prega que veículos à gasolina, diesel etc. deveriam ser proibidos AMANHÃ não estão enxergando o problema como um todo. 

Ah, para você se divertir nas discussões de mesa de bar aqui vai mais munição: o Brasil é rico em oferta de combustíveis mais limpos que a gasolina e o diesel, como: etanol, GNV, biodiesel… E parece que todos se esqueceram disso… 

Leia mais em: https://quatrorodas.abril.com.br/noticias/finlandes-explode-tesla-model-s-sem-conserto-com-elon-musk-dentro/ 

Antonio Frauches, engenheiro mecânico e entusiasta do mundo automotivo. 

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