No The Town, brasileiros mostraram que não tem tempo ruim que acabe com a nossa animação
Esta é minha (quase) carta de amor para o público do nosso país, que é incomparável ao marcar presença em festivais de música
Não adianta. Pode cair o mundo, o chão virar lama e a fila do banheiro ser quilométrica: a gente vai, claro, reclamar e xingar muito no Twitter (ou X, chame como quiser), mas nada vai tirar a nossa animação dentro de um festival de música. Tô dizendo isso, primeiro, porque eu faço parte desse time e, segundo, porque foi isso que eu vi acontecer aqui em São Paulo no primeiro fim de semana de The Town, festival dos mesmos criadores do Rock in Rio.
Não é a primeira vez que chove sem parar num grande evento como esse, é bom lembrar. Eu lembro de um Lollapalooza que eu, sem exagerar, pisava no chão e a lama chegava quase no meu joelho. Divertido não é, claro. Mas se tem um povo que sabe se divertir em qualquer situação é a gente aqui no Brasil. E eu resolvi escrever esse texto porque ouvi de uma menina na fila do banheiro de sábado lá no The Town a seguinte frase: “Eu já tô aqui, então melhor aproveitar o máximo que der, né?”, enquanto ela tentava secar a meia que tava encharcada dentro da bota (não existe nada pior do que meia molhada, sério).
Ela não era a única assim. Era só andar e olhar pro lado que você via várias outras pessoas molhadas dos pés a cabeça, mas sorrindo e se divertindo com os amigos. E isso me fez pensar, mais uma vez, em como o público aqui do Brasil é especial quando o assunto é música. Não à toa a gente vê vários artistas gringos dizendo isso nos shows e voltando pra cá inúmeras vezes. O Post Malone foi um deles – essa foi a terceira vez dele aqui no país e ele fez questão de elogiar a recepção dos fãs e agradecer ao público que tava lá cantando todas as músicas e curtindo o show mesmo com chuva. Ele ainda usou camisa do Brasil, chamou um fã pra tocar com ele no palco e se jogou mesmo – reizinho do carisma desde sempre.
Outro momento que me marcou bastante também foi o show dos Racionais com a Orquestra Sinfônica de Heliópolis, que rolou provavelmente no momento de maior chuva. Logo que entrou, o Mano Brown disse “isso aqui tá um sabão, hein”, fazendo uma piadinha com o chão do palco. A chuva também atrapalhou bastante a orquestra e alguns músicos precisaram sair pra não estragar os instrumentos. Mas nada disso desanimou quem tava na plateia – ouvir todo mundo cantando junto com o maior grupo rapper do país, embaixo daquela chuva, foi com certeza um dos momentos mais emocionantes do festival.
Talvez você que esteja lendo pense que eu tô romantizando o perrengue e a chuva ou até mesmo ignorando algumas falhas da organização do festival, mas não é essa a ideia. Claro que ninguém quer passar aperto e claro também que o festival precisa acertar muuuuuita coisa para os próximos dias, mas é impressionante como “não tem tempo ruim” pra gente aqui no Brasil. E isso me dá um baita orgulho toda vez que eu vou em festivais assim. Admito que sou suspeita pra falar, mas não existe público melhor que o nosso, em qualquer situação. Então esse texto é quase uma carta de amor a vocês, companheiros de festivais – ainda tem The Town no próximo fim de semana e eu espero encontrar vocês por lá, faça chuva ou faça sol. Mas se puder fazer sol, a gente agradece.
*Com informações de CNN