Não foi por teoria famosa que deu o Nobel a Einstein
Diferentemente do que muitos pensam, não foi o desenvolvimento da famosa Teoria da Relatividade o motivo pelo qual o cientista Albert Einstein ganhou o Nobel da Física, há cem anos. As razões para o título dado em reconhecimento a figuras ilustres de diversos campos de conhecimento foram as contribuições do cientista à física teórica, especialmente sua descoberta da lei do efeito fotoelétrico, fundamental no estabelecimento da teoria quântica.
Os pressupostos apresentados em relação ao fenômeno são utilizados, por exemplo, para a geração de energia limpa renovável através de painéis solares, em função da radiação magnética a que estão expostos. “Um cientista será lembrado para sempre se estiver nessa lista de ganhadores do Nobel, que confere uma espécie de imortalidade. Essa é a natureza, a aura que envolve o prêmio” , afirma a historiadora Ruth Lewin Sime.
Antes de ser agraciado, Einstein foi preterido em outras oito oportunidades pelo colegiado responsável por definir os homenageados, dadas as ressalvas dos integrantes em relação aos estudos sobre a relatividade, assim como à atitude política do cientista, classificada de socialista por setores da elite.
Considerado um dos estudiosos mais influentes do século passado, o alemão naturalizado suíço e, posteriormente, norte-americano publicou mais de 300 trabalhos científicos, além de mais de 150 obras não científicas. Além do Nobel, o intelectual é mencionado cotidianamente em aulas para estudantes desde o ensino fundamental ao mais alto grau de pós-graduação de universidades em todo o mundo. “A importância do trabalho dele é fundamental para a física. Revolucionou a compreensão de alguns fenômenos.
É um grande desafio apresentar esses conteúdos em sala de aula. Precisamos estar atentas para não acabar simplificando demais ou banalizando alguns conceitos para facilitar a compreensão” , diz Naiara Moreno, licenciada em química e professora de química e física na rede pública e privada do Rio de Janeiro. A docente — também estudante de astronomia e mestranda em ensino de ciências da natureza pela UFF (Universidade Federal Fluminense) — fala sobre a preocupação com a ascensão de ideias negacionistas e a necessidade de reforço do que chama de alfabetização científica para evitar conspirações, entre as quais a concepção da terra plana.
“Acredito que devemos refletir e questionar onde estamos errando ao longo dos anos de escolarização. Investir na alfabetização científica dos estudantes e promover debates relevantes na escola são imprescindíveis. Se os alunos estão finalizando o ensino médio, aqueles que conseguem terminar, com tantas concepções errôneas sobre a ciência, estamos falhando miseravelmente. Também é importante a divulgação do tema nas redes sociais, grandes mídias. Muitas notícias equivocadas circulam.” Naiara Moreno, professora.
Einstein não escapa do terreno das distorções e imprecisões. O pesquisador, crítico da utilização da ciência para a promoção da guerra, advertiu o governo norte-americano sobre a preparação de armas nucleares pela Alemanha nazista, assinando um documento no qual alertava as autoridades sobre os riscos da empreitada.
Por conta disso, muitos consideram indevidamente que ele tenha sido responsável pelo desenvolvimento do artefato. Dez anos mais tarde da explosão da bomba atômica no Japão, em 1955, o cientista morria, aos 76 anos, mas suas descobertas atravessam o tempo. Da matemática ao verso, o músico Siba ajuda a traduzir a teoria mais famosa do mundo: “Toda vez que dou um passo, o mundo sai do lugar” . Einstein tirou o mundo do lugar.
Passagem pelo Brasil
Visita ao Museu Nacional, à Academia Brasileira de Ciências e ao Instituto Oswaldo Cruz, além de conferências, marcaram o roteiro do curto período em que Einstein esteve no Brasil, em maio de 1925. Nessa mesma viagem, ainda passou pelos vizinhos Uruguai e Argentina. “Em 1 de junho, voltei da América do Sul. Foi uma grande agitação sem interesse verdadeiro, mas também algumas semanas de repouso durante a travessia. Para achar a Europa alegre, é preciso visitar a América. Na realidade, as pessoas de lá são desprovidas de preconceitos, mas elas são, na sua grande maioria, vazias e pouco interessantes, mais do que as daqui” , escreveu no mesmo ano.
Versões dão conta de que também teria realizado atividades para arrecadar fundos junto a grupos de judeus da região para financiar pesquisas e a causa sionista, devido à expansão do movimento nazista. Em outra descrição a respeito do país, Einstein classifica a experiência como fantástica citando a “deliciosa mistura étnica nas ruas: português, índio, negro, com todos os cruzamentos. Espontâneos como plantas, subjugados pelo calor” .
*Com informações de Uol