Mutum-pinima | Espécie desaparecida por 40 anos é vista na Floresta Amazônica
Uma equipe de ornitólogos, especialistas em pássaros buscando espécie ameaçada de extinção, conseguiu avistar ave que ficou desaparecida no Brasil por 40 anos — é o mutum-pinima (Crax fasciolata pinima), que foi fotografado em Bom Jesus do Tocantins, na Terra Indígena Mãe Maria, no estado do Pará. Não foi visto apenas um deles, mas sim seis indivíduos, uma grande vitória para os pesquisadores, que devem voltar ao local em dezembro, buscando registrar mais espécimes num esforço de proteção aos animais.
À Agência Brasil, o ornitólogo Gustavo Gonsioroski, que participou do esforço, contou que a equipe conseguiu gravar e observar o mutum-pinima por mais de dez minutos. Para encontrar a espécie, os pesquisadores contaram com a ajuda de indígenas que habitam a região, especificamente da etnia Gavião Parkatejê, bem como dez gravadores de áudio e dez câmeras trap instaladas pela floresta amazônica, capturando imagens sempre que algum animal aparecesse.
Pássaro ameaçado e conscientização
Um dos aspectos que preocupa os pesquisadores em relação ao mutum-pinima é o habitat restrito. O pássaro só vive em uma região pequena da Amazônia, entre o leste do rio Tocantins e o lado maranhense da floresta. Essa área de mata de várzea tem sido largamente devastada, e, para piorar, a caça de aves na região é cultural. Gonsioroski, que traz essas informações sobre o habitat do animal, também conta que o encontrar é sinal de que a terra indígena ainda é um local mais protegido, um santuário à espécie.
Segundo o biólogo e ornitólogo Leonardo Victor, que também estava na expedição, a ave foi vista quando os pesquisadores já estavam quase desistindo. A ave ficou desaparecida por 40 anos, sendo vista desde então apenas uma vez, em 2017, na região maranhense do mosaico do Gurupi.
Entre as metas da pesquisa está a proteção de 12 espécies ameaçadas de extinção, todas em estado crítico — o último antes do desaparecimento —, e conscientização das comunidades locais, de acordo com Laís Morais Rêgo, superintendente de biodiversidade e Áreas Protegidas da Secretaria de Meio Ambiente do Maranhão (Sema) e coordenadora do esforço. A equipe está montando materiais educativos para melhorar a divulgação acerca das espécies afetadas.
Segundo Victor, os indígenas locais ficaram comovidos com a situação do mutum-pinima, se dispondo a ajudar na divulgação da mensagem anti-caça. Uma das ideias dos pesquisadores é informar a população de que o pássaro colabora para a vida humana ao participar do ciclo de vida de outras espécies, como o açaí. Se alimentando do fruto desse tipo de palmeira, a ave leva sua semente para o meio da floresta, ajudando a plantá-lo e colaborando para o sustento das comunidades que dele dependem.
Rêgo afirma que a explicação didática sobre a dispersão do açaí ajuda a ilustrar a ligação natural entre fauna e flora, mostrando que, quando uma espécie deixa de existir, outras também passam por dificuldades — o meio ambiente é interligado, como uma engrenagem. Os cientistas voltarão à região em dezembro para buscar gravadores e câmeras e explorar mais partes da floresta, em busca do “tímido” pássaro, que aparece apenas de manhã e no final do dia. Acredita-se haver apenas 50 deles na natureza.
O esforço é parte do Plano de Ação Territorial para Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção do Território Meio Norte (PAT Meio Norte), coordenado pela Secretaria de Meio Ambiente do Maranhão (Sema), junto ao Instituto Natureza do Tocantins (Naturantis) e o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-Bio).