Modelo promete surpreender como uma serpente no desfile da Viradouro: saiba quem é Duda Almeida
Cria da Cidade de Deus, com carreira internacional, ela sofreu com preconceito: ‘Queriam alisar meu cabelo’
Última escola a desfilar na segunda-feira de carnaval, a Viradouro vai levar para a Avenida o enredo “Arroboboi, Dangbé” para mostrar o culto à cobra sagrada e sabedoria africana numa história que exalta o poder feminino. E que poder! No último ensaio técnico, a escola de Niterói levou um time de beldades para a Sapucaí. Uma delas, porém, roubou a cena: Duda Almeida.
A modelo de 27 anos é a própria personificação da serpente, que estará representada logo no início do desfile. “Nossa, foi uma emoção muito grande esse ensaio, de uma força surreal”, ainda se surpreende ela, que vai performar numa alegoria e entrar por alas, se misturando aos componentes, como uma cobra que chega ao Sambódromo rastejando.
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“Não posso dar spoiler, mas um pouco do que foi visto no domingo vai ter no desfile oficial também. Só posso dizer que é dificílimo ser cobra. Vem exigindo um grande preparo de mim”, avalia.
Se no ensaio Duda hipnotizou o público presente, no desfile para valer a chance de repetir o feito é grande. Coisa de quem está imersa na “personagem”. “Ela significa a transformação, a prosperidade infinita. Eu vou passar por esse processo nessa transcendência quase espiritual mesmo, estou a serviço da escola, mas sinto que este lugar tinha que ser meu, como Duda”, observa.
Duda se matriculou no Pilates, tem aulas de dança e coreografia, e travou sua agenda internacional para se dedicar ao carnaval. Sim, porque a moça, criada na Cidade de Deus, favela da Zona Oeste do Rio, transita pelos maiores mercados da moda. “Não tem semana de Milão, Londres, Paris que chegue perto do que é o carnaval no Rio. Travei a agenda, faço trabalhos no Brasil mesmo, o que é ótimo, e me permito estar aqui. Ainda mais esse ano, que meu papel na escola tem tanta importância”, justifica.
Com isso, Duda está batendo ponto na quadra, nos ensaios de rua e nos secretos, que acontecem na alta madrugada na Avenida para ninguém ver ou filmar. Integrante da agremiação desde 2023, Duda tem uma longa história com a folia.
Sua família foi dona de duas escolas de samba da Cidade de Deus, a avó, costureira, a mãe, porta-bandeira, o tio-avô, compositor de samba. Não podia dar outra. A Viradouro chegou na vida dela há exatos 20 anos, quando a escola reeditou o samba ““A Festa do Círio de Nazaré”, de um tio.
“Na primeira vez que pisei na quadra, o enredo era sobre Nossa Senhora de Nazaré. Na minha estreia, ano passado, representei outra Maria, todas santas, e agora uma cobra sagrada que se transforma em guerreira. Alguma coisa tem aí”, especula.
Modelo desde 2017, quando ganhou um concurso e se tornou embaixadora de uma marca internacional de xampu, por ironia não começou antes justamente por conta dos cabelos:
“Queriam alisá-lo a todo custo. Sempre sonhei com esse mundo artístico, com câmera, poder ser qualquer pessoa que eu quiser dentro de um papel e queria muito ser modelo. Só que não aceitei mudar o que sou para caber num padrão. Não existe essa possibilidade. Minha família, por conta do carnaval mesmo, sempre se empoderou e me mostrou a importância da nossa ancestralidade”, pondera.
Foi o carnaval que botou comida na mesa da família por muitos e muitos anos. Então, para Duda, além da festa, o assunto é levado a sério. Inclusive quando lembra que sua escola é uma das que mais preserva os postos de musas para mulheres pretas.
“Foi o povo preto que criou esse espetáculo lindo que é o carnaval, e me sinto muito bem de estar numa escola que preserva isso, porque outras meninas, assim como já sonhei um dia, precisam e ver representadas”, diz ela, que também tem o seu sonho: “Já fui rainha de bateria da Caprichosos de Pilares lá na Intendente Magalhães (onde desfilam as escolas da série Prata), mas ser rainha no Grupo Especial ainda é um sonho, um desejo”.
*Com informações de Extra