Líder dos Rolling Stones Mick Jagger faz 80 anos
Sempre fiel ao ditado “pedra que rola não cria limo”, o roqueiro inglês e “sir” nascido em 26 de julho de 1943 segue fazendo o tempo parar quando sobe ao palco – além de ser o patriarca de um vasto clã.Em 1965 Mick Jagger e seus então parceiros de banda Brian Jones e Bill Wyman foram multados em 5 libras esterlinas, cada um, mais os custos do processo por “comportamento ofensivo”: proibidos de utilizar o sanitário, os três tinham urinado no pátio de uma garagem.
A multa provavelmente não os incomodou muito, pois o incidente sedimentava definitivamente a imagem do grupo de rock Rolling Stones como “garotos transviados”, a prova definitiva para os fãs de que Jagger e companhia eram modelos de rebeldia.
Pouco mais tarde, a canção (I can’t get no) Satisfaction cuidaria para lançar a fama mundial da banda, tornando-se o hino de toda uma geração, regravado incontáveis vezes, também em versões estrangeiras, inclusive a brasileira Não tem jeito, de 1967.
O ex-estudante de economia Mick sempre soubera muito bem onde vale a pena arriscar. Pois até hoje combina dois talentos aparentemente incompatíveis: de um lado, o homem de negócios frio e calculista; do outro, o carismático líder de um conjunto de cuja imagem faz parte escandalizar, não importa onde nem quando.
Dar uma de bad boys irreverentes, aliás, foi também uma estratégia de marketing genial, uma vez que o terreno dos “meninos bonzinhos” já estava ocupado pelos Beatles.
Até que ponto tudo não passava de mero espetáculo, provavelmente nem o próprio Jagger saberá mais dizer. Numa entrevista anos mais tarde, ele minimizaria essa época desbragada, afirmando que os Stones não passavam de uma “banda pop teenie”, sem a menor intenção de ser rebeldes.
“Pedra que rola não cria limo”
Para o guitarrista Brian Jones, essa “banda pop teenie” terminou em narcodependência e morte trágica em 1969. Jagger iniciara os Rollig Stones junto com ele e seu outro amigo Keith Richards sete anos antes, já tendo adquirido experiência como cantor na Blues Incorporated de Alexis Korner.
Reza a lenda que o encontro histórico entre Jagger e Richards foi na estação ferroviária de Dartford, no condado de Kent, onde Michael Philip Jagger nascera em 26 de julho de 1943. Justo no dia de seu aniversário, em 1961, ele estava a caminho da School of Economics de Londres, onde era estudante. Richards é natural de Dartford, ambos se conheciam dos tempos de escola, e marcaram de se reencontrar para fazer música.
Um ano e pouco mais tarde, fundavam a banda, inicialmente “Rollin’ Stones”. O nome vinha do provérbio “a rolling stone gathers no moss” (pedra que rola não cria limo), e de uma das canções de Muddy Waters favoritas do duo.
Até hoje ambos escrevem juntos os maiores sucessos do grupo, numa parceria comparável à de John Lennon e Paul McCartney. Com sua exuberante presença de palco, Jagger marcou o inimitável estilo Stones, tendo como perfeita contraparte musical. os surpreendentes riffs de guitarra de Richards.
Tumulto no palco e na vida privada
The Rolling Stones pisaram solo alemão pela primeira vez em 1965, sendo o show inaugural em Münster, em 11 de setembro. Assim como os fãs da Inglaterra e dos Estados Unidos, o público reagiu com euforia.
Alguns dias mais tarde, porém, na Waldbühne de Berlim, ficaria confirmado quanto potencial rebelde o grupo era capaz de liberar: a apresentação termina com a destruição total da arena ao ar livre, horas de confrontação entre a polícia e os espectadores, envolvendo a mobilização de canhões d’água. Só sete anos mais tarde o venerável local reabriria para concertos.
A vida particular de Mick Jagger é tão tumultuosa quanto a de sua banda. Ainda em 1970, ele desmentia à revista alemã Musik Express boatos de que pretendesse casar-se e ter filhos – afinal, um matrimônio pequeno-burguês não combinava com a imagem de bad boy. Um ano mais tarde celebrava em Saint Tropez, França, as bodas com a estudante de ciências políticas nicaraguense Bianca Pérez-Mora Macías.
O que Jagger escondera do público na época, é que com a cantora Marsha Hunt já tinha uma filha, Karis, contando então um ano de idade. A felicidade conjugal com Bianca acabou em 1979, custando ao roqueiro respeitáveis 2,5 milhões de dólares de compensação (hoje, cerca de 10,5 milhões), por ocasião do divórcio.
O segundo casamento, com a modelo Jerry Hall, durou de 1990 a 1999. Sua atual esposa é a dançarina Melanie Hamrick, quase 44 anos mais jovem, com quem teve em 2016 o menino Deveraux. Jagger ostenta ao todo oito filhos, com idades de quatro a 50 anos, além de cinco netos e dois bisnetos. Mas de muito tempo ele não parece dispor para esse clã tão ramificado.
Se não está em turnê com a banda, ou em algum projeto solo, Jagger divide o microfone com outros astros do pop e rock. Em 1985, por exemplo, participou ao lado de David Bowie do projeto beneficente Live Aid, com a canção Dancing in the street. Entre seus parceiros de dueto constam ainda Jerry Lee Lewis, Carly Simon, Tina Turner, Michael Jackson, Jennifer Lopez ou Taylor Swift.
Combatendo o limo com sucesso há seis décadas
Só em 1985 Jagger ousou o que outros colegas dos Rolling Stones já haviam empreendido antes dele: She’s the boss foi seu primeiro álbum solo, com a colaboração de músicos do calibre de Herbie Hancock, Jeff Beck e Pete Townshend – um sucesso certeiro. Seguiram-se outros três, e em 2007 um “Best of”.
Mick Jagger também demonstrou seus talentos no cinema e na TV. Após a estreia em 1970, no faroeste australiano A forca será tua recompensa, seus papéis foram desde o homem de teatro francês Antonin Artaud (1896-1948) num curta-metragem, e o cantor travesti Greta, em Bent (1997), à participação na série Os Simpsons.
O músico inglês atuou ainda do celebrado Fitzcarraldo (1982), numa cena cortada da versão final. Numa entrevista, em 2012, o diretor Werner Herzog o classificaria como “uma lacuna trágica na história do cinema”: alguém que não tivera o devido reconhecimento, mas poderia ter se tornado um ator realmente grande.
Contudo não se pode dizer que têm faltado honras ao velho roqueiro: além de numerosos prêmios musicais, em 2003 o então príncipe e atual rei Charles 3º do Reino Unido o ordenou cavaleiro, por seus “méritos em prol da música popular”. Desde então, Michael Philip Jagger pode ostentar um “sir” antes de seu nome.
Os incansáveis Rolling Stones decididamente não se mostram dispostos a criar musgo: seu último álbum inclui outro veterano octogenário do pop inglês, o também “sir” Paul McCartney. E a figura de proa da banda continua cantando e dançando como se os swingin’ sixties fossem eternos: em certos momentos ao vivo, de fato parece que o tempo não passou para Mick Jagger.
*Com informações de Cultura