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LGBTQIAP+: qual o significado de cada letra da sigla?

Em comemoração ao Mês do Orgulho, a Pepper vem explicar o que significa cada letra do movimento

Hoje, 1º de junho, é dada a largada para o Mês do Orgulho LGBTQIAP+. A data faz referência à revolta de Stonewall, série de manifestações violentas e espontâneas de membros da comunidade LGBT contra uma invasão da polícia de Nova York que ocorreu na madrugada de 28 de junho de 1969, dentro da boate de Stonewall. A rebelião durou seis dias e é considerada como um marco na luta pelos direitos da comunidade.

Mas, para começar o assunto, você sabe o que significa cada letra da sigla? E mais: de lá para cá, foram acrescentadas outras. Por quê? Quando? O que elas representam? Com a ajuda de Lucas Bulgarelli, antropólogo, doutorando pela USP, coordenador do Núcleo de Pesquisa em Gênero e Sexualidade da Comissão de Diversidade Sexual da OAB-SP e Diretor do Instituto Matizes – Pesquisa e Educação para Equidade, preparamos um verdadeiro dossiê LGBTQIAP+! “Quando a gente vai falar sobre a sigla, sobre essa sopa de letrinhas como menciona a antropóloga Regina Facchini, a gente está falando de um conjunto de identidades políticas que, há pelo menos 40 anos aqui no Brasil, tem reivindicado visibilidade e respeito”, introduz Lucas.

L, G e B: lésbicas, gays e bissexuais

O primeiro movimento teve início em meados dos anos 70. Era o MHB, o Movimento Homossexual Brasileiro. Nos anos 80, ele é substituído pelo Movimento de Gays e Lésbicas. Daí, já surgem as duas primeiras letras que conhecemos da sigla hoje, o G e o L. “O movimento, inicialmente, era conhecido apenas como homossexual e, por conta das reivindicações sobretudo de mulheres lésbicas que entediam que o termo geralmente era associado apenas aos homens homossexuais, inclui-se o L de lésbicas.”

A gente pode entender que héteros são aqueles que sentem desejo por pessoas de um gênero oposto ao seu, ao passo que homossexuais são aquelas que sentem desejo pelo mesmo gênero que o seu. “Gays têm relações afetivas sexuais com outros homens e lésbicas são as mulheres que têm essas relações com outras mulheres – independente desses homens e mulheres serem cis ou trans”, explica Lucas.

Bissexuais são pessoas que apresentam desejo e afeto por pessoas dos dois gêneros. “O B vai ser acrescentado na sigla lá nos anos 2000 no contexto de conferências e políticas públicas. Até então, o movimento chamava GLBT e, aí, em 2008, durante conferência nacional, o L passa na frente por uma questão de reivindicação de visibilidade. Em 2011, na próxima conferência, a sigla já era LGBT”, explica.

É importante lembrar que quando falamos de gays, lésbicas e bissexuais, estamos falando de orientação sexual. “São essas identidades que dizem respeito não ao modo como a pessoa se apresenta na sociedade – essa seria a identidade de gênero –, mas como elas se relacionam e sentem desejo por outras pessoas”, diz.

Em 1978, surge o Somos: Grupo de Afirmação Homossexual, um dos primeiros grupos do movimento brasileiro. E, logo em seguida, surge o GALF, Grupo de Ação Lésbica Feminista, um dos primeiros coletivos feministas de mulheres lésbicas no Brasil.

T: travestis

Os movimentos de travestis, que já existiam desde os anos 50 e 60, passam a se aproximar do movimento de gays, lésbicas e bissexuais. “Até então, essas travestis já se organizavam em seus próprios locais de trabalho para poder se proteger, seja da violência policial ou da violência da própria sociedade.”

O antropólogo explica que isso, somado ao paradigma da chegada da epidemia da Aids, fez com que os movimentos se unissem ainda mais. “A doença afetava, particularmente, a população LGBT, então foi natural a aproximação das categorias. Até porque estavam surgindo políticas de saúde e conscientização para a comunidade. Nos anos 90, então, o movimento incorpora o T na sigla”, diz ele.

De maneira didática, travestis são pessoas que chegam ao mundo e não se entendem nem como mulheres cis e nem como homens cis. “A gente tem uma forma binária de explicar a identidade de gênero, que é sempre pensando em cis e trans. Dessa forma, trans seriam aquelas pessoas que entendem que tem um gênero diferente do qual o médico o designou no nascimento; e cis aqueles que entendem sua identidade de gênero igual ao que o médico anunciou quando e saiu da barriga da mãe”, explica Lucas.

Travesti, então, é uma categoria que não é nem mulher trans e nem mulher cis. “É uma categoria que coloca a gente para pensar nesse binarismo de gênero. As travestis são pessoas que não se reconhecem no gênero masculino, mas também não se reconhecem como mulheres trans: se reconhecem, portanto, em uma expressão de gênero feminina.”

Travesti é um termo que vem cheio de ressignificações, já que por muito tempo foi utilizado de forma pejorativa. E Lucas também ressalta que, em relação as transgeneridades, é importante que tenhamos noção do que cada letra significa, mas, principalmente, entendamos que essas categorias funcionam por meio do autoreconhecimento. “Na verdade, travesti ou mulher trans são a forma como cada uma se reconhece. Existe uma classificação médica que tenta fazer uma distinção como se a mulher trans fosse aquela que quer operar ou já fez, e a travesti ser aquela que não deseja ou nunca fez – mas essa distinção é enganosa, ela é uma classificação médica bastante preconceituosa. No entanto, todas as travestis vão, certamente, reconhecer-se na expressão gênero feminino. Então, é importante e necessário tratá-las no feminino”, fala.

I: intersexuais

A categoria I representa o intersexo, pessoas que nascem com uma genitália ambígua (nem do sexo feminino nem do masculino). O movimento emergente surge porque os médicos precisam respeitar um protocolo por meio do qual esse bebê recém-nascido tem que ser operado para que haja uma adequação dessa genitália – escolha feita pelo profissional.

“Existe um alto índice de suicídio dessas pessoas porque a maior parte delas descobre ao longo da vida que foi mutilado ao nascer. De certa forma, quem decidiu qual seria a genitália daquela pessoa foi um médico e isso cria uma série de problemas identitários para ela”, explica Lucas. “É menos conhecida do público, mas que é importante da gente valorizar porque são pessoas que tem sofrido há muito tempo. E a visibilidade tem esse aspecto, de tornar visível algo que já existe há muito tempo. Não é porque a gente não via ou não sabia que isso não existia”, reflete Lucas.

Q, A, P e +: queer, assexual, pansexual e identidades não binárias

Por fim, temos também um conjunto de letras que representam os queers (pessoas que tem uma forma fluída de se representar em termos de gênero e sexualidade na sociedade), assexual (pessoas que tem relações afetivas sem necessariamente ter também relações sexuais), pansexual (pessoas atraídas por diferentes gêneros), e o +, que faz referência à todas as identidades não-binárias e gêneros fluidos.

“Esse conjunto de categorias, de certo modo, está dizendo que não é apenas aquela sopa de letrinhas que representa toda a diversidade sexual e de gênero. Mais do que isso, diz que tanto gênero quanto sexualidade são questões que dizem respeito ao nosso tempo. O fato dessas letras estarem crescendo e sempre se modificando é uma forma de mostrar como esse debate não é um debate já finalizado. Ele está em aberto e vai continuar a mudar. As letras fazem o papel de mostrar que as questões existem e são visíveis para que as pessoas possam compreender. É um debate que se diz respeito a essa multidiversidade de se relacionar e como a gente tem lidado com essa questão”, finaliza Lucas. Um ótimo dicionário para você começar a mergulhar nessas discussões tão importantes para uma sociedade mais empática com todas as formas de viver e amar.

*Com informações da Glamour

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