Intervenção
A primeira vez, foi com nove anos de idade. E houve muita preocupação devido a todas as incertezas que o procedimento poderia acarretar para o bem ou, quem sabe, para pior. Até que ponto as mudanças positivas seriam consolidadas e o quanto das promessas de correções seriam, de fato, cumpridas? Também a grande esperança de ajustes definitivos, para melhor, era então tema das fervorosas orações pelo sucesso da empreitada.
Os primeiros dias após o fato não confirmaram as melhores expectativas. Nem os que se seguiram. Na verdade, apesar de toda a comoção e de todas as apostas de que haveria uma diástase da qual nos lembraríamos felizes, quase como um milagre, resultou em apenas mais do mesmo, intercalado por uma promissora tentativa.
A segunda, veio breve, com objetivo similar. E com o mesmo resultado.
Vinte anos depois, após evento traumático e doloroso que causou mudanças profundas na vida, veio a terceira. Uma espécie de tentativa de recuperação que, afinal resgatou, em parte, a funcionalidade, mas, tanto o trauma quanto a própria intervenção não conseguiram passar sem deixar marcas profundas que serão parceiras eternas da nova condição de viver.
Nessa fase, quando as coisas teimam em alternar momentos de sucessos que tranquilizam a alma e logo a seguir, derrotas incômodas que parecem querer estimular o retrocesso ou desânimo, vem outra.
Essas intervenções começam a parecer ocorrência comum, processo de alternância entre o bem e o mal. Mas, depois de mais dez anos de relativa estabilidade, num momento de festa e comemorações, outra vez se faz necessário retirar com lâmina afiada um mal que está prestes a explodir e afetar todo o conjunto. Se se confirmasse a previsão desse deflagrar, tudo se perderia, com grande dose de certeza. E não seria a última, pois quinze anos depois houve a necessidade premente de nova intervenção. São como terremotos que mudam os projetos, que alteram os caminhos e assustam a quem está envolvido diretamente. Quase sempre são inadiáveis e o descaso em relação ao mal, que cresce e nos põe em risco, inclusive de morrer, pode não oferecer uma segunda chance de solução.
Desde a última, há aproximadamente oito anos, durante os quais o bem-estar esteve presente e permitiu bom nível de desenvolvimento, com crescimento pessoal, relacional e até, de certa forma, econômico, aconteceu. Nova sombra se apresenta e, dessa vez, dobrada por ambos os lados: direito e esquerdo. Não há saída simples. Não há remédio ou vacina. Mesmo com grande nível de receio, será necessário o enfrentamento, com coragem e fé. E sabe-se de antemão, da necessidade de um longo período de acomodação até o retorno às lides cotidianas. A ansiedade, aliada à dor que antecede e que sucede a esta intervenção, causa temor, porém não se pode retroceder. Já não dá para adiar.
Essa intervenção cirúrgica, do manguito rotador, no ombro direito, será a única forma de resgatar as funções naturais do braço. E minha sequela de poliomielite exige muito dos braços. Brevemente será a intervenção no ombro esquerdo. Assim seja.
Mário Sérgio Rodrigues Ananias é Escritor, Palestrante, Gestor Público e ativista da causa PcD. Autor do livro Sobre Viver com Pólio.
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