GERONTOLESCÊNCIA
A dinâmica da língua portuguesa – aliás, de todas as línguas – vai trazendo vocábulos e expressões novas que nos surpreendem, e obrigam os dicionaristas a atualizarem suas edições com muita frequência.
“Gerontolescência”, a palavra de ontem, por exemplo, me deixou estupefato. Ouvi-a de um jornalista – sempre eles! -, que apresentou o novo vocábulo na nobre missão de especular sobre todas as coisas passíveis de virarem notícia, renovando assim numa matéria sobre a evolução da pandemia, assunto então tão chato e repetitivo em todos os jornais, revistas, rádios e tevês. Com isto, o repórter chamou minha atenção com esse “palavrão”, que nunca tinha ouvido, e resolvi prestar atenção ao conteúdo da matéria.
Os velhotes agora classificados como “gerontolescentes”, com a vacinação, haviam interrompido a estatística crescente de mortes e, claro, estariam prestes a retomar suas vidas como “dantes, no quartel de Abrantes.” Encaixado no meio deles, e já vacinado com as duas doses da Coronavac, me senti como se tivesse tirado um peso das costas, expressão gasta pelo tempo, mas que bem representa o que venho sentindo desde todo o ano de 2020 e início de 2021.
Felizmente, com um intelecto razoável, compreendi e aceitei as novas regras para a vida, mas sempre carregando o tal peso simbólico que, ontem, depois da segundona, me fez me sentir levinho para desfrutar da minha “gerontolescência” revigorada, com máscara e álcool gel, sem abrir a guarda.
O termo é edificante, pois nos remete àquela fase mais gostosa da vida onde tudo é fácil, simples de ser levado, mesmo com as briguinhas e separações do namoro, as dificuldades para adaptação ao novo emprego e ao desafio de iniciar uma carreira de acordo com a profissão escolhida.
Que venham tempos melhores para a nossa “gerontolescência”!
Belo Horizonte, março de 2021
Roberto Hermeto Brandão – advogado e professor aposentado
Email: robertohbrandao@gmail.com