Evento celebra produção audiovisual de mulheres negras
Com recursos do FAC, V Mostra Competitiva de Cinema Negro Adelia Sampaio começa no domingo (7), com sessões presenciais no Sesc Presidente Dutra e no Campus Universitário Darcy Ribeiro e exibições online
Brasília recebe, a partir deste domingo (7), a V Mostra Competitiva de Cinema Negro Adelia Sampaio, promovida com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC), da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec). O evento segue até 12 de novembro com filmes de curta, média e longa-metragem, oficinas, debates e apresentações musicais.
As obras serão apresentadas presencialmente no Sesc Presidente Dutra e no Anfiteatro 10 do ICC Sul, no Campus Universitário Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília (UnB). Também é possível acompanhar a mostra online, pelo site oficial da mostra.
Entre 94 inscrições, foram selecionadas 22 obras que representam todas as regiões brasileiras e os países República Dominicana, no Caribe, e Cabo Verde, na África. As produções trazem questões que afetam a vida das mulheres negras em forma de documentário, ficção, animação e videoclipe.
“A mostra é necessária para dar visibilidade aos filmes de mulheres negras, que têm muito pouco espaço”Edileuza Penha de Souza, idealizadora do evento
Os filmes concorrem ao Troféu Adelia Sampaio em nove categorias: melhor longa-metragem, média-metragem ou telefilme, curta-metragem, júri popular, direção, direção de arte, fotografia, trilha sonora, montagem, roteiro e atriz.
Pelo Distrito Federal, participam as películas Eu Era o Lobisomem da Cei, de Suéllen Batista, de Ceilândia, e Me Farei Ouvir, de Bianca Novais e Flora Egécia, do Plano Piloto. Há ainda participações de obras do Mato Grosso, Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Bahia, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e Amapá.
A idealizadora do evento, doutora em educação pela UnB e cineasta Edileuza Penha de Souza, afirma que o evento é o primeiro do gênero no Brasil, com o objetivo de reconhecer a atuação de diretoras e produtoras negras para o cinema. “A mostra é necessária para dar visibilidade aos filmes de mulheres negras, que têm muito pouco espaço”, pontua.
“A ideia, sobretudo, é fazer com que o Brasil conheça a primeira cineasta negra que trabalhou com quase todos os diretores do Cinema Novo, que produziu coisas importantíssimas. Adélia foi a primeira mulher a realizar um filme lésbico, primeira na América Latina a fazer um filme desse tipo, e ficou no esquecimento por anos. Então, homenagear essa mulher em vida é reconhecer o legado que tem deixado para as novas gerações”, avalia Souza.
“Se levou cem anos para surgir uma cineasta negra, daqui para frente, serão milhões. A gente vai falar de nós de uma forma objetiva e, por certo, orgulhosa”Adélia Sampaio, cineasta
Adelia Sampaio
O nome da mostra competitiva é uma homenagem, em vida, à primeira cineasta negra do Brasil e da América Latina. Adelia Sampaio estreou em 1978, com o curta-metragem Denúncia Vazia, e em 1984 lançou o primeiro longa, Amor Maldito. A obra, do qual também foi roteirista e produtora, inaugura a temática lésbica no cinema nacional.
Em 1987, ela dirigiu o documentário Fugindo do Passado: Um Drink para Tetéia e História Banal, sobre a ditadura militar no Brasil. Em 2001, dirigiu o longa AI-5 – O Dia que não Existiu, em parceria com o jornalista Paulo Markun; e em 2018, O Mundo de Dentro, que estreou no Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo.
“Eu sou a contestação da visão de que negro não dá certo. Escolhi uma arte elitista e me tornei uma cineasta, sendo negra e filha de uma empregada doméstica”, afirma Adelia. “Se levou cem anos para surgir uma cineasta negra, daqui para frente, serão milhões. A gente vai falar de nós de uma forma objetiva e, por certo, orgulhosa.”
A mostra não ocorreu em 2020 devido à pandemia do novo coronavírus e, no ano seguinte, foi realizada de forma online. Agora, ocorre com apoio do edital FAC Periférico. “Quando não se investe em cultura, não temos a chance de levar os filmes até as pessoas. É essencial que tenhamos recursos, porque estamos gerando empregos, construindo cultura”, avalia a idealizadora.
A abertura do evento está marcada para as 18h, no Sesc Presidente Dutra, com a exibição do filme AI-5 – O Dia que Nunca Existiu, de Adelia Sampaio. Entre os dias 7 e 11, ocorre a exibição dos filmes selecionados e debates, das 14h às 22h.
O encerramento ocorre no mesmo local e horário, no dia 12, com premiação da mostra competitiva e apresentação musical de Martinha do Coco. A diretora homenageada também estará presente.
A partir do dia 14, ocorre a Sessão Erê, com a exibição de quatro filmes infantis em cinco escolas públicas do DF, em parceria com o Festival Internacional de Cinema Kilombinho – Audiovisual negro com crianças, crias e comunidades. Trata-se de uma novidade no evento, que visa incitar o reconhecimento da população negra em obras cinematográficas desde a infância.