EM OUTUBRO, “UMA CRIATURA DÓCIL” NO SESC GARAGEM
Nos dias 26 e 28 de outubro de 2021, a Companhia de Teatro OS DRAMÁTIKOS leva aos palcos o espetáculo “Uma Criatura Dócil”, numa homenagem ao bicentenário de Dostoiévski.
Em um trecho de “Em busca do tempo perdido” onde aparece uma reflexão sobre a potência e o valor da literatura e da arte, Marcel Proust disse, mais ou menos, o seguinte: “Quando nasce um escritor, o mundo é criado novamente”.
Se é possível demonstrar essa máxima com o exemplo do próprio universo de Proust, também se pode divisar um mundo – e uma visão de mundo – na obra de Fiódor M. Dostoiévski. O autor russo, cujo bicentenário é comemorado em novembro, nos apresentou as paisagens urbanas de seu país no século XIX e os subterrâneos de suas cidades, seus habitantes e sua sociedade.
Sua obra é marcadamente mental e dramática. Nela, nos deparamos com os embates entre os personagens e os desequilíbrios dentro de cada um deles – e de nós. Tais embates e desequilíbrios chegam ao leitor numa linguagem fragmentada, revelando pensamentos aparentemente desconexos e apresentando situações entre o fantástico e o fantasmagórico, num humor próximo do grotesco e em falas que se aproximam da demonstração própria dos personagens de teatro.
Essa é a transgressão que a Companhia de Teatro OS DRAMATIKOS leva para o palco nos dias 26 e 28 de outubro de 2021, homenageando o autor em seu bicentenário através da leitura dramatizada de “Uma Criatura Dócil”, texto baseado na novela homônima de 1876. O próprio monólogo, adaptado pela escritora Claudine M. D. Duarte, é infringido pela opção de três atores interpretarem o mesmo personagem e sua “arte de falar em silêncio”.
Na obra, após a morte da mulher, o marido atormentado rememora fatos, crimes e pecados; pequenos detalhes são revelados no desespero do personagem masculino, mostrando nuances, fragmentos de ciúme, prepotência, covardia, incompreensão e a angústia pela impossibilidade de comunicação entre o casal.
“Uma Criatura Dócil” é uma tragédia do silêncio. Neste 2021, segundo ano de pandemia, o espetáculo visa provocar o público com a discussão sobre essência e humanidade: pactos de silêncio, dores da solidão, afastamentos involuntários, ausência de abraços e relações fragmentadas.
Em cena, Abaetê Queiroz, André Araújo e Léo Gomes amparam o personagem: ambivalente, enigmático e ressentido, em sua busca por entendimento e redenção. No palco, a polifonia de Dostoiévski ganha corpo, luz, movimento e, principalmente, a multiplicidade de vozes requerida pela trama.
Entre os gêneros literários possíveis para a execução da arte da palavra, Dostoiévski opta pelo romance, transformando-se em um dos maiores do seu tempo e da história da literatura. O escritor leva o público para o cotidiano da “gente pobre”, dos “humilhados e ofendidos”, dos homens e mulheres “do subsolo”, não apenas no sentido real – realista/naturalista – e social, mas também no sentido psicológico, e até mesmo religioso, das proposições. A miséria e a perdição percorrem corpos, almas e tecidos sociais e são confrontadas pela reflexão, pela consciência e por uma tênue esperança nos valores do amor e da beleza.
Em 2016, Claudine dirigiu a primeira montagem do monólogo com o ator Arthur Tadeu Curado. A trilha original do espetáculo, de Guilherme Cobelo e Lucas Muniz, está sendo resgatada para as leituras dramatizadas no SESC Garagem, na 913 sul, em Brasília, dentro do projeto SESC ESTÚDIO. Nas duas próximas apresentações, a verdade que sairá da boca do narrador pelas vozes de Abaetê, André e Léo fará com que o público se torne cúmplice da verdade das relações humanas.
SAIBA MAIS
Fiodór Mikhailovitch Dostoiévski nasceu em 11 de novembro de 1821, em Moscou, Rússia. Após uma estreia promissora em 1846, com Gente Pobre e O Duplo, seu envolvimento com um grupo radical valeu-lhe a pena de morte, comutada para o exílio na Sibéria entre 1850 e 1859. De volta a Petersburgo, Dostoiévski dedicou-se ao jornalismo, em parceria com o irmão Mikhail, e à literatura, escrevendo vários contos e novelas, bem como os quatro grandes romances: Crime e Castigo (1866), O Idiota (1868), Os Demônios (1872) e Os Irmãos Karamázov (1880). A novela Uma Criatura Dócil (1876) foi inspirada por um caso verídico que chamou a atenção do escritor, que registrou em sua coluna no jornal Grazhdanin (O Cidadão), em 2 de outubro de 1876. O escritor faleceu em São Petersburgo, em fevereiro de 1881.
Claudine M. D. Duarte, arquiteta, dramaturga, escritora e ativista na formação de novos leitores. Adaptou Dostoiévski e Sándor Márai para o teatro e dirigiu os respectivos espetáculos: Uma Criatura Dócil (2016) e O Legado de Eszter (2019). Integra o Coletivo Editorial Maria Cobogó, pelo qual publicou seus primeiros livros: Desencontos (2018) e Sete Pequenos Tumultos (2020). Foi finalista do Prêmio Jabuti pelo projeto Calangos Leitores (2018).
SERVIÇO
Uma Criatura Dócil
De Fiódor M. Dostoiévski
Adaptação de Claudine M. D. Duarte
Com Abaetê Queiroz, André Araújo e Léo Gomes – Os Dramatikos
26 e 28 de outubro de 2021
SESC Garagem – 20h
Ingressos gratuitos e limitados pelo Sympla
Será exigido passaporte de vacinação completo
FICHA TÉCNICA
Trilha sonora: Guilherme Cobelo e Lucas Muniz
Captação: Miá Filmes
Backstage: Rodrigo Lelis
Assessoria de Imprensa: Josuel Junior
Fotos e Mídias Sociais: Mari Mattos
Produção: Guinada Produções / Guilherme Angelim
Apoio:
SESC DF / SESC Estudio
BIG BOX Supermercados
MARIA COBOGÓ Coletivo Editorial
No dia 11 de novembro de 2021, no canal do youtube do SESC DF, será veiculado um vídeo comemorativo do bicentenário do escritor russo Fiódor M. Dostoiévski. Trata-se da contrapartida do espetáculo Uma Criatura Dócil aprovada pela curadoria do projeto Sesc Estudio. No vídeo intitulado “Dostoiévski em Várias Vozes”, conteúdo audiovisual produzido por oito artistas e escritoras, Abaetê Queiroz, Léo Gomes, André Araújo, Marcia Zarur, Claudine Duarte, Christiane Nóbrega, Solange Cianni e Ana Maria Lopes, com textos selecionados pela professora de Literatura Eva Leones.