Elementos | Como novo filme da Pixar pode ditar o futuro da Disney
Você deve ter percebido que, nos últimos anos, a Disney vem investindo cada vez mais em franquias que já são bem sucedidas em vez de criar novas histórias com mais frequência. Provas disso estão em live-actions como O Rei Leão, A Bela e a Fera e Aladdin, ou ainda em sequências e spin-offs, como Lightyear e o vindouro Frozen 3.
A estreia mais recente da Pixar, portanto, pode trazer muitas respostas para o futuro da Disney como um todo. Com o lançamento de Elementos nos cinemas, a companhia terá uma nova oportunidade de medir a audiência e a preferência por novas histórias, personagens e universos — e provar que ainda há espaço para histórias originais e não apenas a reciclagem de personagens já conhecidos.
Desafios
O lançamento de Elementos no cinema é de bastante importância para o futuro da Pixar, visto que os últimos anos foram complicados para a empresa. Já faz um bom tempo que uma animação do estúdio estourou nos cinemas, o que aconteceu com Toy Story 4 — e ele já era um capítulo de uma das franquias de animação mais adoradas dos últimos tempos.
O quarto filme da saga Toy Story estreou em junho de 2019 e logo se tornou o segundo lançamento de maior arrecadação de bilheteria da Pixar, ostentando mais de US$ 1,07 bilhão. O longa ficou atrás somente de Os Incríveis 2, que está no topo com US$ 1,2 bilhão em em bilheteria.
No ano seguinte, veio a pandemia e as coisas ficaram complicadas. Lançado exatamente em março de 2020, quando o pesadelo começou, o filme Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica foi de mal a pior nas bilheterias, acumulando apenas US$ 142 milhões.
As próximas estreias, então, aconteceram diretamente na plataforma de streaming, ainda que não tenha sido o plano inicial. Soul, por exemplo, foi feito para as telas grandes, como explica Pete Docter, diretor de criação dos estúdios Pixar.
No entanto, só havia duas opções: lançar no Disney+ ou aguardar o fim da pandemia e a retomada das atividades dos cinemas. Nos anos seguintes, outras animações foram diretamente para o streaming, como Luca e Red: Crescer é uma Fera, o que tornou mais desafiadora a missão de avaliar a resposta do público da maneira tradicional.
Expectativas
Agora, com a volta total dos cinemas, a Pixar tenta trazer de volta a magia de assistir aos seus filmes nas telonas, apostando fortemente em Elementos. O problema é que paira sobre a Disney essa impressão de que sequências e remakes são apostas muito mais certeiras do que o lançamento de novas propriedades intelectuais. E, com várias continuações já engatilhadas para os próximos anos, a comédia romântica entre Faísca e Gota pode ser o teste de fogo para provar que ainda há espaço para histórias inéditas.
Parte dessa percepção da empresa parece estar relacionada a uma mudança no comportamento do público pós-pandemia. Docter assume que é muito mais em conta financeiramente para as famílias esperar uma animação chegar ao streaming para assistir com os filhos, mas rebate alegando que as produções dos estúdios oferecem uma experiência única ao se assistir no cinema.
“No caso de Elementos, é um espetáculo lindo, há detalhes por toda a parte. Eu acho que você sente mais isso e é uma experiência melhor”, comenta o diretor criativo da Pixar. “Também há a experiência compartilhada, em que você pode ver (o filme) em uma sala com estranhos, há alguma coisa na energia que vem de outras pessoas que torna a experiência como um todo mais vibrante e interessante”, completa.
No ano passado, a Pixar teve essa mesma tentativa com Lightyear, mas a resposta das bilheterias foi fraca, arrecadando US$ 226 milhões globalmente. Em Elementos, no entanto, a aposta é ainda mais ousada por se tratar de um novo universo, personagens completamente inéditos e abordagem mais profunda.
O investimento em Elementos é ainda mais arriscado ao pensar que a direção é de Peter Sohn, que também esteve por trás de O Bom Dinossauro, de 2015, que teve um lançamento fraco. A animação também prometia novos personagens e um novo universo, mas não conseguiu entregar a tão esperada magia da Pixar.
Resultados iniciais
A primeira semana de estreia de Elementos nos cinemas ainda não traz muitas respostas. Nos Estados Unidos, foi a pior estreia da Pixar em 28 anos, ficando atrás até mesmo de Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica e O Bom Dinossauro. Já no Brasil, o filme ficou na primeira colocação em arrecadação de bilheteria.
Considerando números globais, Elementos arrecadou apenas US$ 121 milhões nas primeiras duas semanas. Não é um número impressionante, mas tem seus méritos: no mesmo período, superou The Flash, que estreou na mesma data nos EUA, e passou à frente até mesmo de Homem-Aranha: Através do Aranhaverso — com a diferença de que a animação do herói já está em cartaz há mais tempo.
Futuro
Elementos ainda tem várias semanas pela frente para conseguir entregar a resposta definitiva para a Pixar: as famílias estão interessadas em produções totalmente inéditas ou é muito mais seguro continuar se sustentando em reviver antigas produções?
Ambas as respostas são arriscadas, mas o maior fato de toda essa história é que a Pixar realmente precisa treinar o público novamente para que a escolha seja ir aos cinemas assistir a um novo filme em vez de esperar sair no Disney+ ou em outra plataforma de compra ou aluguel.
Essa “magia” tão esperada pode vir de Elementos, uma vez que a animação dedicou grande parte de seus esforços na emoção. A trama conta a história de um universo em que os elementos água, fogo e terra têm vida, com foco em Gota e Faísca, um ser feito de água e um de fogo que se apaixonam.
Elementos mostra a importância de expressar os sentimentos, além de ensinar os mais novos a entender a diferença das pessoas e aceitá-las em todas as suas formas, culturas e vivências, não só no romance. O filme também faz uma forte alusão à imigração, uma questão bastante presente na América do Norte e na Europa, principalmente.
Na questão visual, o filme também acerta trazendo novas técnicas de animação, possíveis justamente pela proposta de explorar elementos que seriam apenas “coadjuvantes” de personagens comuns. Agora, fogo, água, ar e terra não são cenários, mas sim personagens por si só, demandando muito mais dedicação dos profissionais — o que também elevou o custo de produção e que, consequentemente, exige que o desenho arrecade muito mais para ser considerado lucrativo.
Depois de Elementos, a nova aposta da Pixar será em Elio, que vai contar a história de um garoto azarado, mas de imaginação fértil — e outra produção original. A animação será a 28ª do estúdio e deve estrear somente em 2024. Depois disso, o estúdio deve engatar uma série de sequências, como Divertida Mente 2 e Toy Story 5.
Você pode assistir ao filme Elementos nos cinemas de todo o Brasil.
*Com informações de Canal Tech