É verdade que engolimos 8 aranhas por ano durante o sono?
Você já deve ter visto um rumor pela internet — ou até mesmo fora dela, já que é uma informação trivial antiga, replicada há décadas — de que nós, humanos, comemos cerca de 8 aranhas por ano durante o sono, sem sequer perceber. Do número de aracnídeos ingeridos ao fato em si, o suposto dado é estarrecedor, ainda mais para os aracnofóbicos, que não devem pregar o sono por conta disso. Mas, será que isso é verdade?
A resposta é não! Não somos involuntariamente alimentados com 8 aranhas durante o sono anualmente, e, na verdade, não há dados que confirmem um evento desses sequer. Como a ciência também nunca viu ligações entre alguma preferência secreta dos aracnídeos pela boca humana, ou vantagens que eles teriam por entrar em nosso corpo, é provável que isso nunca tenha realmente acontecido.
A ciência do sono — e das aranhas
As chances de um fato desse ocorrer são baixíssimas. Quando alguém está dormindo de boca aberta, condição necessária para o incidente, é comum que esteja roncando. Um som como esse assustaria e espantaria facilmente qualquer aranha próxima. Mesmo que o bicho em questão seja corajoso e ainda assim resolva explorar essa via aérea, certamente acordaríamos por conta da sensação das múltiplas pernas aracnídeas passeando em nosso rosto, língua ou boca.
Um artigo do periódico científico Scientific American em 2014 aponta que o mito iria contra a biologia tanto dos humanos quanto dos aracnídeos. As camas que usamos, ao menos no ocidente, não atraem nenhuma aranha em particular, já que a chance de oferecerem qualquer presa suculenta para os bichos é baixíssima, quase nula.
Especialistas também apontam que somos uma superfície ruim para um aracnídeo escalar ou ficar sobre, já que causamos vibrações com nossos batimentos cardíacos e respiração. Para uma aranha, vibrações são importantíssimas, e qualquer mudança nesse sentido as afasta. Escalar um humano dormindo de propósito não é um passatempo muito atraente para os bichos.
De onde saiu o rumor?
Não há como saber exatamente onde o rumor começou, mas há algumas teorias. Um livro de 1954 chamado Fatos sobre Insetos e Folclore (tradução livre do original Insect Fact and Folklore) traz essa informação, por exemplo, que pode ter pegado quando, em 1993, uma coluna jornalística citou o mito como um exemplo de mentira facilmente aceita como verdade pela população.
O problema é que, aparentemente, isso nunca esteve no livro citado, e a coluna PC Professional, que teria falado sobre o assunto, também não existe. Alguém, então, inventou tudo isso apenas para veicular um fato ficcional como se fosse verdade, sem grandes motivos? Sobre o assunto, tudo o que temos de concreto é que, em 1999, o jornal britânico The Guardian incluiu o suposto fato em uma lista de curiosidades — mas não há como saber de onde tiraram isso.
Fonte: Scientific American, The Guardian