“Doença da urina preta”: BR investiga 49 casos e 1 óbito no Amazonas e na Bahia
No Brasil, 49 casos e um óbito relacionados à doença de Haff — condição popularmente conhecida como a “doença da urina preta” — estão em investigação pelas autoridades de saúde. Na segunda-feira (30), o estado do Amazonas confirmou mais 11 casos, totalizando 44. Os outros seis foram notificados no estado da Bahia.
De acordo com a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Drª Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP), os 44 casos amazonenses da “doença da urina preta” estão espalhados pelo estado, sendo que 34 são de Itacoatiara — incluindo um óbito —, quatro em Silves, dois em Manaus, dois em Parintins, um em Caapiranga e um em Autazes. Atualmente, apenas 10 pessoas seguem internadas.
Já a Secretaria da Saúde da Bahia recebeu, este ano, a notificação de oito casos suspeitos da “doença da urina preta” nos municípios de Alagoinhas, Simões Filho, Maraú, Mata de São Jorge e Salvador. Sabe-se que dois deles foram descartados, mas seis ainda seguem em investigação pelas autoridades públicas.
O que está causando o surto da “doença da urina preta”
Uma das principais características da doença de Haff é o escurecimento da urina, inclusive, está é a origem do seu apelido. A cor mais escura é provocada pela rabdomiólise, ou seja, ocorre uma ruptura do tecido muscular e essa quebra libera, por sua vez, uma proteína tóxica na corrente sanguínea dos pacientes contaminados.
Segundo o Ministério da Saúde, a doença é causada por uma toxina que pode ser encontrada em determinados peixes — como tambaqui, badejo, arabaiana — ou crustáceos — como lagostas e camarões —, quando eles não são acondicionados de maneira adequada.
Além disso, a doença também pode ser desencadeada por um medicamento, por um metal pesado, pela ingesta de toxinas ou por uma atividade física extenuante, após convulsões. Por isso, é tão necessária a investigação sobre as origens de cada caso. Eventualmente, pode-se descobrir que um metal pesado está contaminando as águas da região.
Consumo de peixes?
“Ainda trabalhamos no campo das hipóteses”, explica o infectologista da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), Antonio Magela. No Amazonas, os casos foram relatados em regiões onde há o consumo histórico de peixes, mas não é possível confirmar a relação.
“Pode ser uma bactéria, um vírus, ou até mesmo uma toxina”, pondera o infectologista. “As pessoas têm um quadro clínico sugestivo de intoxicação, após a ingesta alimentar, e é de evolução rápida; e, até hoje, em todas as situações que isto ocorreu, com todas as análises de amostras, de tecidos, não conseguiu ainda dar uma confirmação da causa real desses casos de rabdomiólise, associados à prévia ingesta de peixes”, destaca o infectologista. Este é o terceiro surto que o estado enfrenta.
Sintomas e tratamento da doença de Haff
Além da urina escura, o médico Magela explica que uma característica comum das pessoas com a condição é que desenvolveram um quadro que se inicia com dores de cabeça e musculares. “São dores nos grupos musculares que nós temos controle sobre eles, que nós chamamos de musculatura esquelética. A isso se associa fraqueza e dificuldade nos movimentos”, detalha.
“Nós sabemos que nesta situação, havendo a ingesta prévia de peixe, a equipe de saúde já está ciente que está ocorrendo isso, e lança mão de alguns exames de laboratório, que podem confirmar ou descartar essa possibilidade. No caso de confirmação, se encaminha a pessoa para o tratamento adequado”, explica o infectologista sobre o protocolo adotado na rede pública de saúde do estado.
Agora, o tratamento dependerá da gravidade do caso. Por exemplo, pode demandar internação hospitalar ou apenas um tratamento no domicílio do paciente. “O grande risco é que estamos falando de uma condição que é ocasionada por destruição muscular. Tanto a destruição de musculatura de caixa torácica, abdominal, membros, mas nós podemos falar também em musculatura cardíaca, além da toxicidade para o rim, fazendo com que o paciente possa evoluir para insuficiência renal”, afirma o médico sobre os riscos. No entanto, casos graves são poucos entre os relatados.
*Com informações do Canal Tech