Dia do Samba: ouça 10 canções da nossa lista-homenagem ao gênero mais brasileiro

Cartola, Beth Carvalho, Ataulfo Alves, Martinho da Vila e Alcione são alguns dos artistas que pedem passagem neste 2 de dezembro

Antes de qualquer coisa, é preciso dizer que a lista que o leitor verá a seguir não tem pretensão nenhuma de apontar os melhores ou maiores samba de todos os tempos. Tampouco servirá para dizer quem são os artistas mais representativos desse gênero tão importante para a cultura brasileira. Trata-se, portanto, da relação pessoal deste repórter com 10 faixas que, inevitavelmente, estão entre os grandes clássicos do samba.

Muito bamba e várias canções ficaram de fora. Impossível abarcar tanta história em uma dezena da canções. O que fica expresso aqui é uma homenagem ao samba e aos sambistas, cantores, cantoras, compositores e compositoras que jamais deixaram o samba morrer. Cronistas de um Brasil cantado em rimas e versos.

O 2 de dezembro é o Dia do Samba porque foi nessa data que Ary Barroso visitou Salvador pela primeira vez, em 1940. As comemorações, inicialmente, ficaram restritas à capital baiana, mas depois invadiram todo o país. O Dia do Samba é uma celebração nacional. Fica aqui a nossa homenagem.

“Timoneiro” (Paulinho da Viola)

Parceria de Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho, “Timoneiro” é dos maiores clássicos de Paulinho, cuja voz doce e elegante anuncia os primeiros versos da canção, uma ode ao mar como metáfora da vida: “Não sou eu quem me navega/ Quem me navega é o mar/ É ele quem me carrega/ Como nem fosse levar”. Há sambistas que deixam a vida os levar, outros, navegando entre ondas e redemoinhos, deixam que o mar os carregue pela rede do destino.

“Peito Vazio” (Cartola)

Impossível escolher apenas uma música do genial Angenor de Oliveira, o saudoso Cartola (1908-1980). Compositor de maravilhas como “As Rosas Não Falam”, “O Mundo é Um Moinho”, “Preciso Me Encontrar” e “Alvorada”, Cartola tinha uma veia poética e usava como ninguém a melancolia dos sambas-canções. “Peito Vazio”, de 1976, fruto da parceria com Elton Medeiros, é dilacerante, triste e dolorosa como um tango. “Um vazio se faz em meu peito/ E de fato eu sinto em meu peito um vazio/ Me faltando as tuas carícias/ As noites são longas e eu sinto mais frio.” Ah, os sambas tristes de Cartola…

“Naquela Mesa” (Nelson Gonçalves)

O jornalista Sérgio Bittencourt tinha 28 anos quando seu pai, Jacob do Bandolim, um dos maiores músicos de choro que o Brasil já viu, morreu vítima de um infarto. Jacob tinha só 52 anos. Para falar da admiração que tinha pelo pai, Sérgio compôs, em 1969, a linda e comovente “Naquela Mesa”, que embala rodas de samba e noites boêmias até hoje. A canção ficou famosa nas vozes de Nelson Gonçalves e Elizeth Cardoso.

“Fita Amarela” (Noel Rosa)

O carioca Noel Rosa (1910-1937) tinha apenas 26 anos quando perdeu a batalha contra a tuberculose. Porém, em uma década de carreira, Noel compôs sambas inesquecíveis, entre eles “Fita Amarela”, lançada em 1933. A letra exalta as mulheres e a boêmia e brinca com dualidades e antagonismos como vida e morte e catolicismo e candomblé. “Quando eu morrer/ Não quero choro nem vela/ Quero uma fita amarela/ Gravada com o nome dela”, diz o famoso refrão da canção.

“Na Cadência do Samba” (Ataulfo Alves)

Mineiro de Miraí, Ataulfo Alves (1909-1969) compôs e cantou sambas imortais, como este que integra a lista. De Ataulfo também vale relembrar “Ai! que saudade da Amélia”, parceria com Mário Lago, e “Meus Tempos de Criança”. Lançada em 1962, “Na Cadência do Samba”, interpretada e relida por Elizeth Cardoso, Novos Baianos e Cássia Eller, joga bonito e elege o samba como companheiro até o fim dos dias. “Eu quero morrer numa batucada de bamba/ Na cadência bonita do samba”, diz o cantarolável refrão.

“Andança” (Beth Carvalho)

“Por onde for quero ser seu par”, cantou Beth Carvalho no Festival Internacional da Canção de 1968. “Andança”, composição de Danilo Caymmi, Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, ficou em terceiro lugar na tradicional competição, além de ter sido o primeiro grande sucesso da carioca, que nos deixou em 2019. A música deu nome ao primeiro disco de uma das rainhas do nosso samba. Clássico incontestável.

“Construção” (Chico Buarque)

“Construção”, quarta faixa do disco homônimo lançado em 1971, é o samba da desgraça do trabalhador sem nome, com orquestra, tons de suspense e 6m24s de uma peça épica. Verdadeira construção, arquitetura maravilhosa de Chico Buarque, a última palavra de todos os versos é sempre proparoxítona: tímido, último, bêbado, sábado, pródigo, máquina, lágrima, náufrago… Mas não só isso: Chico faz um jogo de palavras em que ora o sujeito senta para descansar como se fosse sábado, ora como se fosse um príncipe, ora como se fosse um pássaro, e as palavras vão se misturando criando um caos lindíssimo. “Construção” é absurdamente genial e engenhosa. Sufoca e atordoa.

“Casa de Bamba” (Martinho da Vila)

Entre as pérolas enfileiradas em “Martinho da Vila” (1969), primeiro disco desse grande artista brasileiro, “Casa de Bamba” virou música indispensável no vasto e importante repertório de Martinho, que a apresentou pela primeira vez no IV Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, em 1968. A canção retrata um ambiente familiar, que pode ser o de milhões de brasileiros, de maneira leve, popular e descontraída. “Mas se tem alguém cantando/ Todo mundo canta, todo mundo dança/ Todo mundo samba e ninguém se cansa/ Pois minha casa é casa de bamba”, e todo mundo bebe, canta e samba.

“Não deixe o samba morrer” (Alcione)

Um dos maiores hinos do samba, “Não Deixe o Samba Morrer” foi composto por Edson Conceição e Aloísio Silva. Gravado em 1975 por Alcione no álbum “A Voz do Samba”, com o qual ganhou seu primeiro disco de ouro, a canção ressalta a importância do Carnaval e do samba para os brasileiros, mas também faz um chamado à preservação do gênero e um apelo para que os sambistas das novas gerações mantenham viva e pulsante o ritmo dos cavaquinhos, violões, pandeiros e cuícas.

“A Voz do Morro” (Zé Keti)

Em 2021, comemorou-se o centenário de Zé Keti (1921-1999), proclamado, com toda justiça, como “A Voz do Morro”, mesmo nome do grupo fundado por ele e que contava Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Nelson Sargento, Anescarzinho do Salgueiro, Jair do Cavaquinho, Zé Cruz e Oscar Bigode numa seleção invejável. “A Voz do Morro” foi lançada em 1955, tornou-se imenso sucesso no Carnaval do ano seguinte e, desde então, foi regravada diversas vezes, mantendo-se sempre na boca do povo. Zé Keti podia cantar com toda propriedade: ​​“Eu sou o samba/ Sou natural daqui do Rio de Janeiro/ Sou eu quem levo a alegria/ Para milhões de corações brasileiros”.

*Com informações do Tempo

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