De ponta-cabeça
Entre tantas brincadeiras de criança, em um tempo analógico, era possível, e relativamente fácil, caminhar um bom percurso dessa forma: utilizando as mãos como pés. E de pernas para o ar. Destreza apreendida pela observação nos circos mambembes que, em raras ocasiões, visitava a nossa pequena cidade no interior de Minas.
Com membros inferiores leves, débeis, decorrente de sequela permanente presenteada pela poliomielite, a paralisia infantil, se podia fruir uma atenção mais gentil com foco na habilidade, na competência, em detrimento daquela mais comum, que era pelo caminhar disforme, desequilibrado. E nunca foi estimulante ser objeto de piedade. Mesmo considerando que as Pessoas com Deficiência – PcD, incontáveis vezes foram exploradas como aberração circense ou para fetiche sexual.
A poliomielite acompanhou a humanidade desde sempre, conforme se confirma pelos registros rupestres e hieroglíficos, sem que se soubesse com certeza do que se tratava. Então se criavam justificativas baseadas em crendices das mais bizarras. Isso só começou a mudar em 1.840, quando o ortopedista alemão Jakob Heine, em trabalho conjunto com o pediatra sueco Karl Oskar Medin, identificou, pela primeira vez a patologia como entidade clínica. Por isso a patologia ficou conhecida como Síndrome Heine-Medin. Nesse ano o mundo passou por grandes transformações, como a criação do telégrafo com fios e sua linguagem peculiar, por Samuel Morse, importante evolução nas comunicações. Nasceram Tchaikovski e Auguste Rodin.
E tratando de comunicações, nesse ano terminou a guerra no Norte do Brasil, a Cabanagem, que quase extinguiu o povo, a língua e a cultura Tupi-Guarani. Ao mesmo tempo, D. Pedro II ascendia ao trono do Brasil, no processo que ficou conhecido como “Golpe da Maioridade”.
Importa alertar agora para esse tema porque, conforme constatado pela OMS, o Brasil voltou a entrar no Mapa de Risco da Poliomielite. Estamos muito vulneráveis à volta dessa doença. O fato de estar erradicada há mais de 40 anos, fez com que, assim como antes de Heine-Medin, muita gente, ou se esqueceu ou nem chegou a saber a extensão do mal de que a pólio é capaz. E ela pode ser fatal ou produzir sequelas permanentes, tanto em adultos quanto em crianças.
Melhor é viver a vida sem tropeços, sem quedas. Sorrir sem grilhões ou quaisquer obstáculos evitáveis, pela imunização, por exemplo. Direcionar nossa energia ao desenvolvimento, ao aprendizado, à alegria e ao sucesso e não a lutar continuamente para reparar ou conviver com deficiências, paralisias.
Mário Sérgio Rodrigues Ananias é Escritor, Palestrante, Gestor Público e ativista da causa PcD. Autor do livro Sobre Viver com Pólio.
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18 Comments
Palavras sábias, lindas, verdadeiras! Parabéns pelo belo texto! Mário Sérgio, que trabalho bonito que você faz! Parabéns! Inclusão, engajamento, empatia, amor incondicional! Paz e amor no mundo sempre! Por mais pessoas inclusivas no mundo como você!
Muito obrigado por suas palavras de carinho e apoio, Senhora Elise.
Essa batalha contra a volta da pólio é árdua, mas tem sido frutífera.
Grande abraço.
Gostei de o artigo citar Tchaikovski e Auguste Rodin.
Obrigado, Senhor Roberto.
Esses grandes artistas são uma inspiração para continuar o empenho.
Grande abraço.
Leitura leve e descontraída que aborda problemas sérios decorrentes da poliomielite que pensávamos estar muito longe dos nossos dias mas é um fantasma que pode voltar se não for encarado por todos com respeito e seriedade.
Parabéns pela crônica Mario.
Obrigado, Senhora Rosângela.
Esse é o espirito: conscientização para uma ação efetiva e ao mesmo tempo simples para p´roteção de nossas crianças.
Grande abraço.
Muito boa e importante essa matéria sobre a poli. Escritor top
Obrigado, Senhora Adriane.
É um empenho para o qual sempre esperamos contar com todos.
Abraços.
muito interessante o artigo, parabéns ao autor.
Obrigado, Senhor Fábio, pelo apoio e gentileza.
Grande abraço.
Sábias palavras!´[ vale ressaltar a importância de direcionar esforços para promover uma vida livre de obstáculos evitáveis, enfatizando a imunização como uma medida preventiva fundamental. Isso nos lembra que todos devemos trabalhar juntos para criar uma sociedade mais inclusiva, onde todos tenham a oportunidade de buscar o desenvolvimento, aprendizado, alegria e sucesso, independentemente de suas habilidades físicas. Excelente Escritor, meus parabéns!!!
Obrigado, Senhor Glauber.
Seu apoio é uma honra.
Grande abraço.
O mundo precisa se empenhar na erradicação dessa e outras doenças! O Brasil não pode deixar esse mal voltar! Vamos todos em corrente lutar em favor das vacinas e das boas condições sanitárias!
Obrigado, Senhor Lincoln.
Esse trabalho, certamente, só terá sucesso com a conscientização e ação positiva no sentido de buscar a proteção para nossas crianças.
Grande abraço.
Excelentes palavras meu amigo Mario Sergio; inclusão, engajamento, empatia, amor incondicional, isso nos faz lembrar que devemos avançar para sermos mais inclusivos, para que outros tenham mais oportunidades.
Obrigado, Senhor Oscar.
Acredito que o conhecimento será a melhor arma contra a volta da pólio.
Grande abraço.
O mundo precisa se empenhar na erradicação dessa e outras doenças! O Brasil não pode deixar esse mal voltar! Vamos todos em corrente lutar em favor das vacinas e das boas condições sanitárias! Não ao negacionismo.
Obrigado, Senhor Lincoln.
Nossas crianças merecem e necessitam de proteção.
Grande abraço.