D. Pedro II, o primeiro pichador do Brasil?
Em sua coluna, o professor de História Vítor Soares relembra alguns hábitos peculiares do monarca do segundo reinado brasileiro
D. Pedro II foi um imperador diferente de outros. Poliglota, apaixonado por ciência e tecnologia, e obcecado pelo conhecimento, ele era um monarca culto, mas também cheio de hábitos curiosos. Um deles pode até fazer com que ele seja considerado o primeiro pichador do Brasil.
Durante suas viagens pelo mundo, D. Pedro II gostava de deixar sua marca. E não estamos falando de reformas, monumentos ou grandes discursos, mas sim de literalmente escrever seu nome em monumentos históricos.
Um caso emblemático aconteceu em sua viagem ao Egito. Fascinado pela cultura local, o imperador decidiu eternizar sua passagem por lá gravando seu nome nas pedras externas e no sarcófago da Pirâmide de Quéops. Para completar, ainda assinou uma ruína próxima ao seu acampamento.
Prática recorrente
A prática de deixar inscrições não parou por aí. Em 1876, enquanto visitava a Finlândia, ele repetiu o gesto, deixando seu nome gravado em uma rocha na cidade de Imatra. No século XIX, esse tipo de registro era comum entre viajantes ilustres e pode ser encontrado em diversos monumentos ao redor do mundo.

Pedro II não fazia isso por descaso, mas por um fascínio genuíno pelas civilizações antigas. Em seu diário, ele registrou sua experiência ao visitar as pirâmides do Egito: “Só se faz ideia da altura da grande pirâmide quando se observam os que por ela trepam e vá-se tornando cada vez mais pigmeus”.
Sua curiosidade e desejo de conhecer o mundo estavam diretamente ligados à sua atuação como governante, sempre interessado em inovações e descobertas.
Cultura
Seu governo, que durou 49 anos, foi marcado pelo incentivo às artes, à ciência e à educação. Ele era um grande defensor da preservação histórica e chegou a se indignar ao ver que o Egito gastava mais dinheiro em novas construções do que na conservação de seus monumentos antigos.
Seus registros deixados em diferentes partes do mundo são um reflexo de sua personalidade inquieta e curiosa. Talvez, para ele, marcar presença significava mais do que simplesmente visitar um lugar: era uma forma de se conectar com a história.