Com exposição de fantasias e leitura cênica, projeto aviva a memória do carnavalesco Clóvis Bornay

Com patrocínio da Lei Paulo Gustavo no DF, Quase Bornay mostra a força criativa e os multitalentos do carnavalesco e museólogo

Ícone do carnaval brasileiro, o museólogo e artista performático Clóvis Bornay (1916 – 2005) é fonte de inspiração para projeto que mergulha em seu complexo universo de criação. Há um ano, o diretor e dramaturgo Sérgio Maggio, o ator e artista visual Jones Schneider e a artista visual Astaruth Lira estão diante do legado do carnavalesco, responsável por criar os bailes de fantasia que encheram os olhos dos foliões no século 20 e a figura dos destaques de luxo nos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro.

“Há uma plasticidade na criação de Bornay que deixa todos nós hipnotizados diante da aproximação entre a arte e o popular. Ele mostrou que o carnaval era mais que uma folia de cinco dias, era uma expressão cultural em que cabiam muitas possibilidades de criação. Do samba no pé dos passistas do morro aos figurinos de puro luxo”, conta o ator Jones Schneider, que, ao lado dos coletivos Instituto Cidade Céu e Criaturas Alaranjadas, acompanhou a confecção de quatro fantasias inspiradas em Bornay.

O conceito da inspiração, aliás, sugere o nome do projeto selecionado pela Lei Paulo Gustavo do Distrito Federal. “Quase Bornay é o nome que batiza esse projeto porque desde o início intuímos que era impossível tocar na profundidade do legado deixado por esse multi-artista que dialogou com várias facetas da arte e do patrimônio. Foi museólogo, carnavalesco, ícone LGBTQIAPN+, cantor de marchinhas, figurinista. Jurado de programas de auditório. Um homem culto de alto respeito às tradições e suas origens, que fez esse diálogo entre a moda de alta costura e a extravagância momesca”, observa Astaruth Lira, gestora do projeto.

Peças em exposição

Há cinco meses, envolvido no ateliê compartilhado da Criaturas Alaranjadas e do Instituto Cidade Céu, localizado no centro de Brasília (Conic), Jones Schneider segue o ritual inspirado na rotina de trabalho de Bornay, que trabalhava do croquis ao acabamento. Acompanha as fases de confecção que envolve equipe de costureiras, bordadeiras e aderecistas para dar forma a quatro fantasias: Guerreiro Misterioso da Mata Ciliar, O Príncipe do Carnaval de Veneza. O Monge Interplanetário do Apocalipse e Os Sons do Cavaleiro Blues. As quatro peças entram em exposição ao público entre 2 de maio e 3 de junho, das 9h às 18h, na Salão Multiuso do Complexo Cultural Samambaia.

“O desafio foi criar essas peças com materiais sustentáveis que não tivessem origem animal, uma premissa do projeto. Substituir as plumas de aves raras, utilizadas num tempo em que essas questões de direito animal não estavam em voga, foi estimulante. O tempo todo me perguntei se seríamos capazes de provocar os meus efeitos visuais. Acho que conseguimos”, aposta Jones.

Leitura cênica

Enquanto ocorria a confecção das peças, Sérgio Maggio mergulhou nas muitas facetas de Clóvis Bornay para criar um texto dramatúrgico não necessariamente biográfico. “São muitos os Bornays que habitaram no mesmo corpo recoberto de pedras semipreciosas. Fui buscar a sua humanidade porque a memória coletiva em torno de Bornay estimula tanto estereótipos como campos enevoados. Ele era muito discreto em sua vida pessoal, mas trazia muito claramente o seu projeto artístico”, observa.

O texto Quase Bornay será lido em quatro sessões, às 14h e 16h30, no Teatro Verônica Moreno, do Complexo Cultural Samambaia, aberto ao público e com a presença de estudantes de escolas públicas. Em cena, Jones Schneider estará ao lado da pianista Janaina Sabino e do percussionista Pedro Tupã. “Não se trata de um texto biográfico e, sim, de um pensamento construído por um homem, artista, aficionado pela arte     

Legado de Clóvis Bornay 

Além de sua imensa importância cultural, Bornay foi um museólogo e artista com anquiloglossia (deficiência de mobilidade da língua), nascido no Rio de Janeiro em 14 de janeiro de 1916 e falecido em 14 de dezembro de 2005. Seu papel na preservação e promoção do Carnaval brasileiro é inegável – suas fantasias exuberantes frequentemente representavam personagens icônicos e históricos, além de serem fundamentais para a rica história da festa.

“Preservar a memória de Clóvis Bornay é essencial não apenas para homenagear um ícone do Carnaval, mas também para reconhecer seu papel como defensor da cultura, da diversidade e da liberdade. Através do projeto Quase Bornay, buscamos celebrar seu legado e inspirar novas gerações a continuarem lutando pela equidade e pela valorização da arte carnavalesca”, defende Astaruth Lira.

*Com informações de Gibi Comunica

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