CINEMA E POLÍTICA
Por Aloisio Nascimento
Jornalista
Historicamente, a primeira projeção de um filme ocorreu em 1895 em um café de Paris, produzido pelos irmãos Louis e Auguste Lumière. E o cinema foi considerado a Sétima Arte -ao lado da pintura, escultura, música, literatura, dança e arquitetura- no início do século XX a partir da publicação do “Manifesto das Artes”, escrito em 1911 pelo intelectual italiano Ricciotto Canudo.
Alem de reflexos da cultura e tradição de cada povo, no geral as artes retratam diferentes aspectos da realidade, assegurado o direito à interpretação que preencha os requisitos de conhecimento, ou não, e os sentidos de cada um. Para Leonardo da Vinci, o maior gênio da humanidade, “a lei suprema da arte é a representação do belo”. Nesta linha de livre interpretação, os 3 parágrafos seguintes têm conteúdos distintos e podem, eventualmente, guardar semelhanças/ou não, com os filmes elencados no final do artigo. Importante frisar que não me refiro ao roteiro dos filmes, mas apenas aos títulos que eles ganharam nas exibições brasileiras. Títulos criativos reforçam sucessos de bilheteria.
Judiciário
O Supremo Tribunal Federal é o guardião da Constituição Nacional. Em 2016 seus ministros aprovaram a prisão de réus após condenação em Segunda Instância, e a revogaram poucos anos depois. Mudou a Constituição? Não. Agora , o réu somente poderá ser preso após o trânsito em julgado, esgotados todos os recursos possíveis, e os imagináveis, dependendo da criatividade advocatícia ante leis tipo queijo suiço em nossa legislação.
No inicio da Operação Lava Jato, o STF e o Superior Tribunal de Justiça decidiram que a 13* Vara Federal de Curitiba, do juiz Sergio Moro, era competente para processar e julgar os casos daquela operação anti-corrupção. Seguindo a jurisprudência, a condenação do ex-presidente Lula foi confirmada e a pena ampliada pelo Tribunal Regional Federal-4.
Em decisão monocrática na 2* Turma do STF, em 2021 o ministro Edson Fachin (nomeado por Dilma Rousseff), anulou a condenação de Lula argumentando que a Vara de Curitiba não tinha competência para julgá-lo. Levada ao plenário, a decisão é confirmada, o juiz Moro é julgado parcial, Lula deixa a prisão e ganha a eleição presidencial no ano seguinte. A Constituição é a mesma.
Há poucos anos o ministro José Dias Tofolli (nomeado por Lula) foi noticia sobre suas relações com empreiteiras envolvidas na Lava Jato. Uma delas teria bancado a reforma da sua casa e era cliente do escritório de advocacia da mulher dele. Ministros do STF não disputam eleição. Disputam prestígio junto ao governo que os indica, com mandatos e mordomias incríveis até a aposentadoria compulsória aos 75 anos. São sabatinados e aprovados pelo Senado Federal, onde devem comprovar “reputação ilibada e notório saber jurídico”. Sério? Antes do STF, Dias Tofolli foi reprovado em 2 concursos para a magistratura.
Há poucos dias o presidente Lula indicou seu advogado Cristiano Zanin para o STF. Os escritórios de Zanin e seu sogro/sócio Roberto Teixeira (compadre de Lula) foram denunciados de envolvimento em esquema de corrupção liderado por Orlando Diniz, presidente do Sesc, Senai e Federação do Comércio do RJ. Em delação premiada, Diniz “entregou” ambos pela prática de tráfico de influência nos tribunais. Os recursos desviados pelo esquema corrupto no período 2012/2018 chegaram a 150 milhões de reais. E não se fala mais nisso.
Operação Lava Jato? Depois de devolverem (confissão de culpa) parte dos bilhões que roubaram dos cofres públicos, empresários e políticos foram todos libertados. E o STF está a todo vapor: decidiu hoje arquivar processo por suspeita de corrupção de Arthur Lira, presidente da Câmara de Deputados, e absolveu Waldez
Goes, ex-governador do Amapá (3 mandatos) condenado por corrupção. Ele é o atual ministro da Integração Regional, pasta com verba anual de 20 bilhões de reais, e principal foco de corrupção dos últimos governos. Seu padrinho político é o senador Davi Alcolumbre.
Executivo
Além das declarações confusas e desastradas sobre a guerra da Ucrânia, que sepultaram seu antigo sonho de ganhar o Premio Nobel da Paz, o presidente Lula também vê derreter seu pacote de promessas de campanha: montar uma equipe ministerial competente e séria; aprovar as reformas indispensáveis à retomada do crescimento econômico; reposicionar o país no cenário internacional, especialmente na área ambiental; retomar relações comerciais com parceiros históricos para aumentar a receita de exportações; não se render às exigências do Centrão; formar uma bancada parlamentar forte para aprovar os projetos de interesse do governo,etc.
Em lugar disso, sofre pressões para trocar ministros; repete seu antecessor como refém do poder do Centrão liderado pelo deputado Arthur Lira; criticou até romper a relação com o setor do agronegócio; não teve força para impedir o esvaziamento dos ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas e tem que negociar caso a caso os projetos que envia ao Congresso Nacional. E recebe críticas justas, inclusive internacionais, ao defender a ditadura venezuelana de Nicolas Maduro.
Ganhou a eleição por uma estreita margem de votos a partir da formação de uma frente democrática com MDB, PSD e União Brasil em troca de 9 ministérios (3 para cada um), acreditando que esse acordo completaria a maioria parlamentar de apoio ao governo. O primeiro teste na Câmara foi amargo e expôs a fraqueza do executivo: 83% dos deputados daqueles partidos votaram contra o governo na MP sobre o Marco Temporal das terras indígenas.
Em alguns momentos, Lula dá a impressão de continuar em campanha eleitoral. Fala e viaja muito, realiza pouco e parece estar à procura de um rumo para seu governo. O presidente ainda não percebeu que os tempos mudaram em relação aos seus mandatos anteriores. É preciso governar.
Legislativo
As eleições do ano passado resultaram em mudanças importantes na composição de forças no Congresso Nacional, com consequências negativas para o executivo na sua relação com o legislativo. O PL, principal partido de oposição e ligado ao bolsonarismo, elegeu a maior bancada de deputados e integra o Centrão para amplificar os problemas do governo na votação de projetos. Na votação da MP sobre a estrutura administrativa do governo, exigiu mais ministérios (o executivo reluta em atender); alterou o texto original para garantir mais cargos (de preferencia com orçamentos polpudos, como a direção da Funasa, na Saúde) para apadrinhados; mudanças na área ambiental para atender exigências do setor do agronegócio, e as coisas não vão parar por aí.
Longe de representarem os interesses do país e seus eleitores, deputados e senadores -há exceções- legislam muito em defesa de interesses de grandes corporações privadas, lobies ou deles próprios. Essa prática levou à formação de grandes blocos partidários com predominância do Centrão, cujo poder de pressão sobre o executivo é diretamente proporcional aos seus interesses políticos e pecuniários.
Fosse vivo hoje, escritor lusitano Eça de Queirós certamente revisaria seu conceito sobre a necessidade de políticos e fraldas serem trocados, de tempos em tempos, “pelo mesmo motivo”. E duvidaria da eficácia das fraldas nesses traseiros políticos sem trava ou tramela.
Títulos de filmes
• O Mercador de Ilusões – estreou nos cinemas em 1947, direção de Jack Conway, estrelado pela nata de Hollywood na época: Clark Gable, Ava Gardner e Débora Kerr.
• Por um Punhado de Dólares -“western spaghetti” lançado em 1964 com direção do italiano Sergio Leone, estrelado por Clint Eastwood.
Gene Hackman e Morgan Freeman.
• Os Intocáveis- estreou nos cinemas em 1987 com direção de Brian de Palma, estrelado por Kevin Costner.
Sean Connery e Andy Garcia.
*Com informações de Orbis News