Champanhe foi inventado por três mulheres e um monge
As histórias de invenção e surgimento do champanhe são as mais diversas e variadas, com muito desencontro de informações e dúvidas acerca de datas. Mas, sem dúvidas, o surgimento do champanhe como conhecemos e apreciamos hoje se deve a três mulheres e um homem: Madame de Pompadour, Barbe-Nicole Clicquot Ponsardin, Louise Pommery e Monge Pérignon. Apesar de viverem em momentos distintos da história, todos tiveram sua contribuição e influência para a popularização da bebida.
Considerada uma bebida “jovem”, com menos de 400 anos, o champanhe no início era vista como uma bebida defeituosa e chamada de “vinho do diabo” por alguns monges vinicultores. Suas bolhas surgiam acidentalmente, decorrente de erros, e aos pouco, com o passar dos anos, a bebida foi se desenvolvendo e caindo no gosto de nobres e burgueses.
Os primeiros relatos de surgimento do champanhe remetem ao Monge Pérignon, nos séculos 17 e 18. Pierre Pérignon foi um monge beneditino que viveu na região nordeste da França em um vilarejo chamado Hautvillers. O monge era mestre de uma adega na região e tinha como um de seus objetivos ajudar seus irmãos que dominavam o comércio dos vinhos de boa qualidade. Suas primeiras produções de algo parecido com o champanhe, entretanto, foram considerados erros e definidos como intragáveis.
Para se produzir vinho, uvas maduras, ricas em açúcares, são colhidas e esmagadas. Em seguida, o líquido é colocado em barris onde as leveduras, que são microrganismos presentes na uva, consomem o açúcar da fruta para desencadear uma reação orgânica que dará origem ao álcool e ao gás carbônico.
Depois de mais alguns procedimentos o vinho é estocado em barris fechados para chegar ao ponto ideal, mas foi nesse etapa que surgiu o problema de Pérignon que deu origem a algo próximo ao champanhe. Em um período em que as temperaturas despencaram na Europa, as leveduras acabavam não consumindo todo o açúcar, e quando a temperatura se elevava novamente, elas despertavam e voltavam a devorar o açúcar. Mas, como os barris estavam fechados, o gás carbônico produzido na segunda fermentação não saía e assim surgiam as bolhas no vinho.
O monge era um grande e renomado produtor de vinhos sem bolhas, portanto seu projeto de espumante era considerado um grande erro e ele sequer tinha a intenção de criar uma nova bebida. De qualquer forma, suas contribuições são consideradas muito importantes para o surgimento do champanhe como conhecemos hoje.
A influência feminina
Anos depois do “erro” de Pérignon, três mulheres foram essenciais para a popularização e aperfeiçoamento da bebida. Jeanne Antoinette Poisson, a Madame de Pompadour, foi amante do rei Luís XV e era uma pessoa que lançava moda por onde passava. Ajudou a divulgar o rococó, patrocinou escultores e pintores e também foi uma das responsáveis pela disseminação da cultura do champanhe.
Muito apreciado pelos ingleses, foi a relação de Pompadour com um comerciante da região da Champagne, no século 18, que selou a entrada da bebida na alta corte francesa e fez surgir a associação com a sofisticação. A família da Madame também possuía terras na Champagen, o que ajudou no processo de fazer o diferente vinho se espalhar cada vez mais por Versalhes.
Já no início do século XIX, quando a bebida andava em baixa e desprestigiada, Barbe-Nicole Clicquot Ponsardin, conhecida como viúva Clicquot, resolveu dar um novo rumo para a história. Após a morte de seu marido, que era um produtor da Champagne, em 1805, Ponsardin transformou a indústria como uma marca que evidenciava a sua condição de mulher na sociedade francesa.
Ela desenvolveu técnicas como inclinar as garrafas de cabeça para baixo e retirar as borras do gargalo da garrafa que ajudaram na popularização da bebida e provocaram uma nova alta em sua popularidade. Suas novidades permitiram às vinícolas aumentarem sua produção e fazerem um champanhe límpido e dourado, que caiu no gosto da nova burguesia que ascendeu após a Revolução Francesa.
Barbe-Nicole Clicquot tornou-se uma das primeiras mulheres da história a comandar uma empresa de alcance internacional e, mesmo nos anos de guerra, conseguia chegar a outros mercados e países da Europa mesmo contra algumas leis e também enfrentando portos fechados.
A trajetória de Clicquot abriu as portas para alguns anos depois Louise Pommery seguir pelo mesmo caminho. Ela também havia perdido seu marido e resolveu assumir a vinícola da família, tomando algumas medidas consideradas ousadas. Pommery abandonou a produção de lã, de vinhos comum e também diminuiu a produção de champanhes mais adocicados, focando nas bebidas mais secas. Ela também foi pioneira no armazenamento da bebida em temperatura constante de 10°C em algumas cavernas.
Além de ter expandido e popularizado o champanhe francês entre ingleses, Louise também foi uma das primeiras empresárias francesas a criar planos de saúde e de aposentadoria para os empregados. Suas inovações e contribuições fizeram com que após sua morte, fosse a primeira mulher do país a receber um funeral com honras de estado.
*Com informações do Hypeness.