As 52 cartas do baralho representam as semanas e os naipes simbolizam as quatro estações?

É uma publicação viral nas redes sociais, com mais de 40 mil partilhas acumuladas só no Facebook. Supostamente revela “o significado original das cartas de um baralho. As 52 cartas representam as 52 semanas do ano. As duas cores o dia e a noite. Os quatro naipes as quatro estações e 13 semanas por temporada”. O Polígrafo falou com a historiadora e investigadora Fernanda Frazão, autora do livro “História das Cartas de Jogar em Portugal e da Real Fábrica de Cartas de Lisboa” (2010).
As 52 cartas do baralho representam as semanas e os naipes simbolizam as quatro estações?

“Sabe o significado original das cartas de um baralho? As 52 cartas representam as 52 semanas no ano. As duas cores o dia e noite. Os quatro naipes as quatro estações e 13 semanas por temporada. São 12 cartas judiciais representando os 12 meses. Se somarmos cada uma das cartas (ás + ás + ás + ás + dois + dois + três + sete + oito… e etc.) do jogo teremos 364. O jogo de cartas é um calendário agrícola que nos falava das semanas e das estações do ano. A cada nova temporada, era a semana do rei, seguida pela semana da rainha, do valete e assim por diante, até que a semana do ás muda de estação e começa com uma nova cor. Os jokers foram usados em anos bissextos”, lê-se no texto do post, datado de 30 de novembro de 2020.

O Polígrafo falou com a historiadora e investigadora Fernanda Frazão, autora do livro “História das Cartas de Jogar em Portugal e da Real Fábrica de Cartas de Lisboa” (2010), questionando-a sobre este pretenso “significado original das cartas de um baralho”.

“Inicialmente, as cartas de jogar, em especial as portuguesas, não tinham este número de cartas. Não tinham o 10, eram 12 cartas [de cada naipe]. Portanto, eram 48 ao todo e não 52”, começa por ressalvar.

“Estes esoterismos ligados às cartas começaram no século XIX. As cartas não foram criadas por estas razões. É um acaso, não tem rigorosamente nada a ver. Em alguns países, o baralho começou com 13 cartas [de cada naipe], noutros com 12. Não tem realidade histórica. É uma falsa questão. Não foi inventado com esse objetivo, de maneira nenhuma. É uma coincidência, não passa disso”, sublinha Frazão.

“E o que fazem aos anos bissextos? O joker só foi inventado em finais do século XIX e surgiu nos Estados Unidos da América. Até aí não havia a carta do joker nos baralhos. Era utilizado o número dois, que ainda hoje se usa em jogos como a canastra”, acrescenta.

Japão emitiu selos comemorativos em homenagem aos navegadores portugueses?

“Enquanto em Portugal andam por aí uns tolinhos que pretendem eliminar páginas gloriosas da nossa História e derrubar os seus mais emblemáticos monumentos, no Japão acontece isto em homenagem aos navegadores portugueses”, destaca-se num “post” de 22 de março no Facebook.
Os jogos de cartas em Portugal remontam ao século XV. “Há registo de um jogo, que foi legislado, que só pode ser de cartas de jogar. D. João I determinou que era proibido jogar a dinheiro. Só era permitido jogar a molhados [géneros] e para consumo na casa de jogo”, descreve a historiadora.

Em nome da verdade

Segue o Polígrafo nas redes sociais. Pesquisa #jornalpoligrafo para encontrares as nossas publicações.
As cartas começaram a ser fabricadas em Portugal a partir de 1769, altura em que foi criada a Real Fábrica de Cartas de Jogar de Lisboa e a Impressão Régia (ou Régia Oficina Tipográfica), fundada no dia 24 de dezembro de 1768. Apenas a partir de 1833 é que passou a ser denominada como Imprensa Nacional.

“Ninguém sabe exatamente onde as nossas cartas foram criadas, mas inicialmente não eram feitas cá. Eram vendidas em Portugal com um desenho para Portugal muito característico, os ases tinham dragões. E este baralho foi parar ao Japão e a outros países daquela zona. Ainda hoje os japoneses fabricam cartas assim”, conclui Frazão.

Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:

Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:

FALSO

*Com informações do UOL

Related post

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *