Aqui é só trabalhar!

Para quem nasce numa cidade, ela própria é surgida sob a égide de indústria siderúrgica, a percepção de que ali é só trabalhar, se consolida. Quando Tom Zé, em 1968, venceu o Festival da Música Popular Brasileira, com a canção “São São
Paulo Meu Amor” e, antes disso, em 1964, o Prêmio Nobel da Paz era conferido a Martin Luther King, o 1º de Maio já era comemorado como um dia de homenagem aos trabalhadores. O reconhecimento desse dia se deu a partir de 1886, mesmo ano da primeira venda da Coca-Cola, nos EUA. A visão do poeta, na música, é que, enquanto o resto do mundo descansa e repõe suas energias, em São Paulo só se trabalha. De sol a sol.

O Dia do Trabalhador deveria ser o dia de se reconhecer que, por todo um ano, pessoas laboriosas se empenharam por melhorar o estado das coisas ou pessoas.Incluindo a si próprias no contexto. Com o tempo, como em muitas datas comemorativas, apenas alguns, cada vez mais raros, se lembram o que se comemora, nesse dia. Basta ser feriado, mais um dia de folga.

Especialmente entre nós, num país quinhentista, de uma história vaga, portuguesa,até 1822. Portanto, por longo tempo, embrião de Estado. Como país, temos pouco mais de duzentos anos. O longo período embrionário forjou no povo a cultura equivocada de que tudo o que é bom viria de outro lugar; que não seríamos capazes de criar, inovar, produzir com qualidade, transformar para melhor.

E recrudesce esse “complexo de vira-lata”, escancarado por Nelson Rodrigues, como condição auto infligida, que faz com que nos sintamos inferiores a qualquer que seja de fora. E essa síndrome explica a causa de não termos um único Prêmio Nobel, apesar de tantas contribuições ao mundo e à humanidade.

Quando ouço “desculpe qualquer coisa”, assumindo uma culpa que nem sabe de que ou por que, penso nas PcD que, por vezes, não se reconhecem como pessoas de direito, quando se culpam pela própria deficiência, quando se ressentem de estar desempregadas. Como comemorar, então?

Mário Sérgio

Mário Sérgio Rodrigues Ananias é Escritor, Palestrante, Gestor Público e ativista da causa PcD. Autor do livro Sobre Viver com Pólio.

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Site: Mário S. R. Ananias – Sobre Viver com Pólio (mariosrananias.com.br)

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8 Comments

  • show demaisss

  • Ótima redação!

  • Trabalho, o motivo do feriado de hoje! E, lembrando Gonzaguinha:
    “E sem o seu trabalho
    O homem não tem honra
    E sem a sua honra
    Se morre, se mata”
    Tem que ter trabalho para todos, pra nós PCDs também.

  • Ótima reflexão sobre o Dia do trabalhador.

    Só acrescentaria que toda essa nossa culpa internalizada, síndrome de vira-lata e falta de consciência a respeito da história e contexto do feriado não é uma falha, mas um projeto. Por aqui, a classe dominante sempre teve como projeto a manutenção da ignorância da parte de baixo da pirâmide. E, como podemos notar, o projeto vem sendo frutífero até os dias de hoje.

    • Obrigado Senhor Júlio.
      A causa PcD tem, realmente, diversos pontos de tangência com a questão da cultura, educação e história.

      Abraços.

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