Antigamente os carros eram feitos para durar

Os carros antigamente duravam muito mais! Com certeza você já ouviu essa afirmação. É uma daquelas frases que seu tio Haroldo prega como verdade após uma análise rasa como poça: “eu tive um Fusca por 30 anos, e nunca precisei gastar três fortunas para trocar o módulo do ABS…” Lógico, meu caro ser: Fuscas não têm ABS. Você, no fundo, sabe que seu tio está errado. Mas não sabe ao certo como ele está errado… Seus problemas acabaram! Estamos aqui para esclarecer essa dúvida. 

Algumas pessoas imaginam que, um belo dia, toda a indústria mundial se reuniu e disse: “quer saber, acho que devemos começar a fabricar coisas que não duram… Assim os clientes vão ter que comprar novas coisas com mais frequência!” Não foi bem assim… A perda de durabilidade foi uma consequência, e não um objetivo. Uma consequência ruim, de fato, mas bem menor que o benefício gerado.  

Saindo um pouco do planeta dos carros e entrando no universo da engenharia: sistemas puramente mecânicos têm como característica a durabilidade e a demanda por manutenção preventiva. Enquanto sistemas eletrônicos têm como característica a eficiência e a ausência quase total de manutenção preventiva. Meu Deus Antonio: O que isso quer dizer? Calma, amigo! Desfaça a cara de “hein” e vem comigo: vou me explicar usando uma comparação um tanto quanto esdrúxula. Se você nasceu antes de 1990 você sabe o que é uma máquina de escrever. Se você não sabe, era uma máquina que era usada para escrever (nossa, que surpresa!), onde cada caractere do teclado (similar ao de um computador) acionava uma haste que imprimia o referido caractere no papel. 

Reprodução

Após nosso breve Telecurso sobre “como ser velho”, retomo: uma máquina de escrever pode facilmente durar décadas, funcionando perfeitamente bem. Desde que seja lubrificada e limpa periodicamente. Sua operação é lenta, exige perícia e não possui tecla “delete”. Um computador, por outro lado, é rápido e qualquer um usa razoavelmente bem. Serve para criar textos ou filmes 3D cheios de efeitos especiais. Computadores requerem praticamente zero manutenção preventiva, e quando quebram, geralmente, são jogados fora e substituídos por modelos mais novos. 

O mesmo acontece com os carros. Seu tio Haroldo conta, cheio de orgulho, que o Fusca rodou trinta anos sem dar um problema. O que ele não te conta é que a cada dois ou três anos, no máximo, ele precisava regular o carburador. Não conta que, de vez em quando, colava o platinado da ignição e o carro não pegava. Ou ainda: que demorara uma vida para chegar a 100 km/h, e que era impossível viajar acima de 120 km/h, e o carro consumia, no máximo, seus 12 km/l. Enquanto seu HB20 1.6 consome o mesmo, sendo muito mais ágil, atingindo velocidades muito mais altas, e com ar-condicionado. Então, agora, quando seus tios começarem com essa conversa no almoço de domingo você sabe se defender! Ainda pode, de quebra, avisar ao seu tio Alfredo que seu HB20 1.6 é mais rápido do que o Opala 6 cilindros que ele comprou zero km em 1988… 

Como engenheiro mecânico eu tenho, e sempre vou ter, uma paixão maior por sistemas mecânicos. Mas é inegável que em termos de eficiência a eletrônica é imbatível. E hoje temos um maravilhoso casamento entre mecânica e eletrônica que nos permite extrair 110, 120 ou até 130 cv de motores 1.0, que possuem turbocompressor, um componente mecânico, com um gerenciamento eletrônico fantástico. Lógico, para tudo existe um, porém… Componentes eletrônicos tem vida “curta”, e normalmente não existe o reparo, e sim a troca. Isso aliado ao seu maior custo, acaba dando uma machucadinha na carteira, e nos levando a fazer com os carros o que fazemos com os computadores.  

Sinto muito te dizer, mas seu HB20 não vai durar 30 anos… Aproveite enquanto ele está com você. Ou compre um Fusca! 

Antonio Frauches, engenheiro mecânico e entusiasta do mundo automotivo. 

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