Alucinógeno do cogumelo mágico se mostra eficaz contra depressão grave
Pesquisadores estudam e comprovam eficácia de fungo contra depressão
A psilocibina, substância presente nos chamados “cogumelos mágicos”, que tem caráter psicoativo e alucinógeno, pode apresentar diversos no corpo, como a distorção da realidade, por exemplo. Contudo, um estudo conduzido pela farmacêutica britânica Compass Pathways apontou possíveis efeitos terapêuticos em pacientes diagnosticados com depressão grave. As descobertas foram publicadas na revista Translational Psychiatry.
O ativo, quando ingerido, é absorvido pelo intestino e convertido em psilocina. Essa, por sua vez, atua sobre os receptores do cérebro, induzindo efeitos psicodélicos — ativando receptores de serotonina, principalmente no córtex pré-frontal, parte do cérebro que afeta o humor, a cognição e a percepção.
Neste sentido, os pesquisadores estavam interessados em examinar os efeitos da psilocibina em dois conceitos relacionados à capacidade do sistema nervoso de modificar sua estrutura e função em decorrência dos padrões de experiência: primeiro a flexibilidade cognitiva (alternar adaptativamente entre processos mentais), e, segundo, a flexibilidade neural (variabilidade na atividade cerebral e conectividade).
A pesquisa foi feita em dez países da América do Norte e Europa e incluiu 233 participantes, divididos em três grupos, que receberam diferentes doses de psilocibina (25, 10 e 1 mg). A dose de 1 mg serviu como placebo, sem interagir com o organismo. Todos os voluntários interromperam tratamentos com outros antidepressivos antes do início da pesquisa e, durante o estudo, foram acompanhados por psicólogos.
Interpretando os resultados
Os pesquisadores utilizaram a Escala de Depressão de Montgomery-Asberg (MADRS, em inglês) para entender e classificar os sinais. Após três semanas de terapia, 79 pacientes que receberam a dose mais alta da substância (25 mg) apresentaram o melhor resultado do estudo: queda de 6,6 pontos no parâmetro comparativo, verificada a partir da melhora nos sintomas. Os demais participantes, que se dividiram entre as doses de 10 mg e 1 mg, não apresentaram diferenças significativas.
Ainda na terceira semana, a remissão pode ser observada em 29,1% das pessoas que receberam 25 mg — em comparação com apenas 7,6% do grupo placebo. Depois de três meses de tratamento, 24,1% dos voluntários que tomaram a maior dose de psilocibina ainda apresentavam uma resposta considerável, além de manterem baixos os níveis da MADRS.
A equipe também apresentou dados de efeitos colaterais referentes à terapia. Conforme escreveram os pesquisadores, a maioria dos eventos adversos foram leves ou moderados e 12 pessoas apresentaram algum sintoma grave, como comportamento e idealização suicida ou automutilação intencional. Metade delas estava no grupo de 25 mg, cinco no de 10 mg e uma no de 1 mg.
A farmacêutica afirmou em comunicado que esse tipo de sintoma é comum “em uma população que resiste ao tratamento” e que alguns incidentes de comportamento suicida ocorreram em pacientes que já estavam demonstrando resistência à potencial terapia.
O autor principal do estudo, Manoj Doss, cientista no Centro de Pesquisa Psicodélica e da Consciência da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, disse ao PsyPost, que, como todo estudo tem suas ressalvas, esse não haveria de ser diferente. De acordo com o pesquisador, “a plasticidade neural parece apoiar a flexibilidade cognitiva até certo ponto, mas muita plasticidade neural pode não ser adaptativa, como no caso de atenção insuficiente ou esquizofrenia.”
Depressão resistente a tratamento (DRT)
A DRT é uma condição que afeta uma a cada três pessoas com depressão e é classificada quando dois ou mais tipos de tratamento não apresentam resultados significativos. A doença afeta cerca de 100 milhões de pessoas em todo o mundo, e segundo o estudo, cerca de 30% delas tentam suicídio pelo menos uma vez na vida.
George Goldsmith, CEO e cofundador da Compass Pathways, disse em comunicado que ninguém está intocado pela crise de saúde mental e que todo mundo tem uma história. “Precisamos urgentemente de opções para pessoas que não são ajudadas pelas terapias existentes.”
O próximo passo, segundo Goldsmith é utilizar os dados para progredir com urgência no programa de desenvolvimento clínico e nos orientar para tornar esta terapia acessível aos pacientes necessitados — caso seja aprovada pelos órgãos reguladores.
*Com informações do Canal Tech