Alicudi: a ilha italiana onde mulheres podem voar

No coração do arquipélago vulcânico das Eólias, uma ilha esconde segredos mágicos e lendas fascinantes. Conhecida como o lar das mahare arcudare — bruxas que voam pelos céus em barcos ou se transformam em animais — Alicudi é uma terra de mistério e magia. Essa ilha remota e selvagem, habitada por pescadores e agricultores, guarda segredos que remontam aos tempos antigos. Através das histórias transmitidas de geração em geração, emergem as figuras enigmáticas das mulheres dotadas de poderes que desafiam a lógica e conectam o local a um reino mágico.

Mestres do domínio das marés

Éolo, deus do vento. (Fonte: Getty Images / Reprodução)
Foto:  GettyImages  / Mega Curioso

Enquanto Lipari, a ilha mais turística do arquipélago, preserva tradições e lendas, Alicudi permanece como um tesouro intocado. Escassamente povoada, essa ilha remete a uma terra mágica, onde os “cortadores” desafiam as tempestades. O ritual ancestral de “cortar” as trombetas do mar revela uma ligação direta com Éolo, o deus dos ventos, conferindo aos habitantes da ilha uma habilidade única para domar as forças da natureza.

A essência mágica de Alicudi transcende a realidade nas histórias das mahare. Essas mulheres não apenas voam nos céus, mas também decolam em pequenos barcos de pesca. Suas jornadas noturnas em direção ao mar aberto, muitas vezes interpretadas como a busca por pescadores em perigo, revelam uma relação profunda entre o sobrenatural e a vida cotidiana dos habitantes.

Viagem psicodélica: pão, ergot e visões extraordinárias

Ergot. (Fonte: Getty Images / Reprodução)
Foto:  GettyImages  / Mega Curioso


Alicudi é também o cenário de visões extraordinárias, atribuídas ao consumo de pão feito com centeio contaminado pelo fungo ergot, também conhecido como esporão-do-centeio, cravagem, grão-de-corvo, dente-de-cão ou cornecha. Este parasita, conhecido por suas propriedades alucinógenas, sugere que os habitantes da ilha foram involuntariamente os pioneiros de uma experiência psicodélica coletiva entre 1902 e 1905. As histórias de banquetes suntuosos durante esse período, muitas vezes associadas à fome e emigração, revelam um capítulo intrigante na história local.

Enquanto algumas teorias atribuem as visões à ingestão inconsciente do ergot, outras sugerem um conhecimento ancestral das práticas xamânicas. A conexão com os Mistérios de Elêusis na Grécia antiga e a possível influência do esporão-do-centeio na preparação de rituais sugerem uma tradição mágica mais profunda. As bruxas arcudare, guardiãs de um saber milenar, mantêm viva a interseção entre o real e o mágico na ilha.

A ilha de Alicudi, com sua aura de mistério e magia, continua a encantar aqueles que exploram suas histórias. A lenda das mulheres que voam, permeada por rituais antigos e visões psicodélicas, confere um lugar único no folclore eólico. Seja nas tempestades domadas pelos “cortadores”, seja nos céus noturnos adornados pelas bruxas, a ilha permanece um lugar onde a fronteira entre o real e o fantástico se desfaz, convidando os visitantes a testemunharem a magia que perdura nas ondas do tempo.

*Com informações de Terra

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