Abacaxi invertido, às de espadas: símbolos são usados para práticas liberais de sexo
Desenhos ganham popularidade nas redes sociais e viram até tatuagens entre os adeptos do swing, por exemplo
Abacaxi invertido, um balanço sobre fundo vermelho, às de espadas… São nada óbvios os símbolos que codificam o universo de pessoas e casais liberais, ligados a práticas como o swing. Embora não sejam tão comuns no Brasil, esses “selos” começam a ganhar popularidade entre os adeptos, conforme viralizam nas redes, como o caso de uma senhora americana que colocou, por engano, um abacaxi na porta de seu quarto, enquanto fazia um cruzeiro, no ano passado. Ao fazer postagens sobre a viagem no TikTok, foi alertada pelos seguidores sobre o possível significado da fruta. Embora a troca de casais não fosse a praia dela, a “fofoca” mostrou-se reveladora para muita gente.
As imagens mais usadas (conheça algumas abaixo) aparecem em tatuagens, acessórios e até em semijoias, como as produzidas pela Hilua Intense, fundada por Rosane Gonçalves e o marido, que vivem em Curitiba e fazem parte da cena liberal. “As pessoas querem algo discreto para ajudar no flerte”, comenta a empresária. “É uma forma de dizer que você é do meio sem usar as palavras.”
Diretora da rede social liberal Sexlog, Mayumi Sato afirma que muitos desses símbolos aparecem nos próprios perfis dos usuários para que suas preferências já fiquem claras. Mas há até mesmo quem faça tatuagens. “É um jeito de mostrar comprometimento. Querem se diferenciar de pessoas que entram nesses ambientes apenas pela ‘zoeira’”, afirma.
Sim, swing não é bagunça, e um símbolo desses, salientam os entrevistados, jamais deve ser confundido com consentimento ou passe livre para abordagens inconvenientes. “Ainda que esteja comunicando algo, é preciso ter todo o cuidado para que a pessoa não se sinta constrangida. É para chegar com sutileza e não propondo algo, por exemplo”, diz Renato Sousa, criador do perfil @guiameioliberal, juntamente com a sócia Bibihot.
A ideia, afinal, é justamente se conectar com quem tem familiaridade com o assunto, algo que pode se transformar numa surpresa na hora H. Foi o que aconteceu com o casal Marina Rotty e Marcio Wolf. Adeptos do swing há 18 anos, eles falam sobre o tema no site marinaemarcio.com.br e criaram um símbolo próprio: uma borboleta cujas asas são formadas pelas iniciais dos dois e, no meio, aparece a silhueta do casal. Mariana tatuou o desenho na lombar e viu outras pessoas aderirem ao símbolo sob a pele. “Certa vez, fomos ao motel com um casal e, quando tiramos a roupa, descobrimos que ambos haviam feito a nossa tatuagem”, conta.
Professora de semiótica da Escola de Comunicações e Artes da USP, Clotilde Perez afirma que a adesão faz sentido, visto que “a sexualidade se alimenta da fantasia”. Daí a graça de ter esses códigos usados num pingente ou de um jeito que poucos vão entender o significado. “Quanto mais velado, mais sedutor”, observa. “E, por se tratar de figuras e não palavras, ficam ainda mais potentes, já que atravessam os idiomas.”
Não por acaso, Rosane Gonçalves costuma ter suas semijoias encomendadas por casais que estão prestes a viajar para o exterior. Seriam eles passageiros de algum cruzeiro?
*Com informações de O Globo