A “Lambuzada” que pode valer o mandato de uma petista em Campinas
Festa que contou com verba de vereadora do PT é alvo de acusações por promover cenas de nudez e simulação de sexo explícito
Uma festa promovida por um movimento cultural de apoio à comunidade LGTQIAP+ em Campinas, no interior de São Paulo, está gerando controvérsias e dores de cabeça para políticos locais. O evento Lambuzada, realizado em 14 de abril no distrito de Barão Geraldo, foi alvo de acusações de promover cenas de nudez, simulação de sexo explícito, apologia ao crime e incentivo ao uso de drogas.As críticas ao evento resultaram em uma representação contra a vereadora Paolla Miguel (PT), que discursou na festa e destinou R$ 10.690 por meio de emendas parlamentares para sua realização. A Câmara Municipal decidiu instaurar uma comissão para analisar o pedido, que pode levar à cassação do mandato da vereadora.
Evento incompatível com a dignidade
O autor da ação, vereador Nelson Hossri (PSD), alega que sua colega no Legislativo apoiou um evento incompatível com a dignidade e o decoro esperados de uma vereadora. Hossri acusa Paolla de ter exercido seu mandato sem dignidade e respeito à coisa pública, o que considera inaceitável e merecedor de uma resposta enérgica da Câmara.
Imagens divulgadas nas redes sociais mostram uma das apresentações do evento com simulação de sexo oral entre bailarinos no palco. Letras de algumas músicas também estão reproduzidas na representação contra Paolla Miguel, com referências explícitas a atos sexuais e palavras de baixo calão.
O que diz a petista
Em entrevista ao jornal O Globo, a vereadora afirmou que os recursos destinados por ela foram exclusivamente para a contratação de banheiros químicos, instalação de grades e montagem do palco. Paolla negou ter conhecimento prévio da programação do evento e disse que, embora tenha passado pelo local, não presenciou as cenas que estão sendo criticadas.
A vereadora ressaltou que a direita está tentando reduzir toda a sua atuação política a esse episódio. Ela reconheceu que o ocorrido foi inadequado, mas destacou que não participou da escolha dos artistas nem discutiu o conteúdo das apresentações. Se soubesse, Paolla afirma que teria sugerido à prefeitura que dialogasse com os produtores para evitar a realização do evento em praça pública.
Diante das críticas, Paolla decidiu se afastar temporariamente do diretório nacional do PT para ter mais tranquilidade e tempo para lidar com o processo em curso na Câmara Municipal.
Outra denúncia contra a vereadora do PT
Além da representação na Câmara, a vereadora também é alvo de uma denúncia apresentada ao Ministério Público de São Paulo pelo deputado estadual Rafa Zimbaldi (Cidadania). O pedido requer a devolução dos recursos utilizados de maneira indecorosa. A denúncia também atinge a secretária municipal de Cultura, Alexandra Capriolli, e o prefeito Dário Saadi (Republicanos), aliado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Segundo Zimbaldi, o prefeito foi negligente ao liberar recursos sem verificar previamente sua destinação. Apesar de ter criticado a festa, classificando-a como deprimente e inconcebível, Saadi também tem sido responsabilizado nas redes sociais pelo evento, já que foi promovido pela Secretaria de Cultura do município. O prefeito garantiu que os produtores da festa não realizarão mais eventos durante seu mandato e está empenhado em punir os responsáveis.
Em sua conta no X, antigo Twitter, Saad culpou a vereadora do PT pela verba destinada para a realização da festa Lambuzada. “Esse evento foi feito com dinheiro público através de emenda impositiva de uma vereadora do PT“. Escreveu o prefeito.
Classificação indicativa de eventos culturais
Em resposta às críticas, a prefeitura publicou uma portaria em 16 de abril, dois dias após o evento Lambuzada, alterando as regras para a classificação indicativa de eventos culturais na cidade. Agora, essa sinalização será obrigatória e de responsabilidade dos organizadores dos eventos.
A Bicuda, organizadora da festa, divulgou uma nota informando que assim que perceberam uma conduta inadequada para o local, solicitaram aos artistas que interrompessem o ato, que durou apenas dois minutos em um evento com oito horas de duração.
Os produtores afirmaram que a vereadora Paolla Miguel não tinha conhecimento do conteúdo das apresentações e estão em contato com a Secretaria de Cultura para definir a classificação etária adequada de seus eventos e evitar constrangimentos futuros.
O grupo informou também que reconhece que deveria ter se atentado à possibilidade de conteúdos inadequados para crianças e adolescentes, uma vez que o evento ocorreu em um espaço de acesso público aberto.
Descendo até o chão pela saúde do Brasil
Em outubro do ano passado, o governo Lula se envolveu em uma polêmica um pouco parecida com a da Lambuzada após o Ministério da Saúde promover o 1º Encontro de Mobilização da Promoção da Saúde no Brasil. O evento ficou marcado por imagens que não parecem ter muito a ver com a promoção da saúde. Em um vídeo que viralizou nas redes sociais, uma dançarina faz movimentos que remetem aos programas dominicais dos anos 1990, nos quais grupos de axé desciam até a boquinha da garrafa.
Na gravação, uma mulher realiza movimentos provocativos no palco, enquanto outra pessoa ao microfone entoava uma versão de Batcu, de Aretuza Lovi, com participação de Valesca Popozuda. A performance foi acompanhada por aplausos, tanto do público presente quanto dos demais participantes do evento.
O encontro, que tem como objetivo apoiar a implementação da Política Nacional de Promoção da Saúde e fomentar o diálogo para o fortalecimento de ações voltadas para a promoção da saúde no Brasil, virou alvo de críticas de políticos após o vídeo começar a circular.
O senador Ciro Nogueira (PP-PI) publicou em seu perfil no X, antigo Twitter, um texto em que questiona se esse tipo de dança salva vidas. “Atenção primária é isso aí? É isso que salva vidas num sistema que a OMS colocou em 125º lugar?”.
O que disse o ministério de Nísia Trindade
O Ministério da Saúde divulgou uma nota para lamentar apresentação de dança. Segundo a gestão de Nísia Trindade, a apresentação, que viralizou nas redes sociais, “surpreendeu pela coreografia inapropriada”.
Na gravação, uma mulher dança de forma provocativa ao som de Batcu, funk cantado por um dos participantes da apresentação. A performance foi acompanhada por aplausos do público presente e dos demais participantes a apresentação. Segundo o Ministério da Saúde, a programação do evento contou com a participação de sete grupos artísticos nos seus intervalos.
“O Ministério da Saúde lamenta pelo episódio isolado e adotará medidas para que não aconteça novamente”, diz a nota divulgada pelo ministério, que aproveita para detalhar que o objetivo “é apoiar a implementação e a gestão participativa da Política Nacional de Promoção da Saúde a partir do compartilhamento de experiências e da ampliação do diálogo entre gestores e trabalhadores de diferentes estados, com momentos dedicados à diversidade cultural”.
*Com informações de Agência da Notícia