A história de Pureza estreia nos cinemas dia 19 de maio
Pureza Lopes Loyola nasceu em Presidente Juscelino, município a 85 km de São Luís, e se
mudou para Bacabal, a 240 km da capital, onde o marido tinha parentes. Com o fim do
casamento, a sobrevivência passou a depender da olaria e da venda de tijolos na qual
trabalhava ombro a ombro com seus cinco filhos. Evangélica, alfabetizou-se aos 40 anos com o
objetivo de ler a Bíblia.
Em 1993, depois de meses sem notícias do filho caçula, Antônio Abel, que partira em busca da
sorte no garimpo, Pureza decidiu seguir seu rastro. Com a roupa do corpo e munida de uma
bolsa, sua Bíblia e uma foto de Abel, Pureza estava decidida a encontrá-lo vivo ou morto. Sabia apenas que ele tinha ido ao Pará.
Em sua busca determinada por Abel, Pureza visita fazendas e descobre um perverso sistema de aliciamento e escravidão de trabalhadores “contratados” para derrubar grandes extensões de mata nativa a fim de converter a área em pastagem para o gado.
De fazenda em fazenda, Pureza conheceu de perto o drama dos peões, tornando-se amiga e
confidente de muitos trabalhadores. Conheceu por dentro o sistema pelo qual os empregadores
confiscavam documentos de identidade dos empregados e tornavam-nos totalmente
dependentes dos encarregados para obter roupa, comida e produtos básicos. Ouviu relatos
dramáticos de trabalhadores que poderiam ser mortos se tentassem se rebelar ou fugir.
Com a ajuda da Comissão Pastoral da Terra – a CPT, Pureza entrou em contato com o Ministério
do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho no Maranhão, no Pará e em Brasília. Chegou a
escrever cartas para três presidentes da República: Fernando Collor, Itamar Franco (o único que lhe respondeu) e Fernando Henrique Cardoso. Até hoje, ela guarda uma cópia de cada uma dessas cartas.
A batalha de Pureza para encontrar Abel deu impulso decisivo à criação, em 1995, do Grupo
Especial Móvel de Fiscalização, que uniu auditores-fiscais do trabalho, policiais federais e
procuradores do trabalho para viabilizar o cumprimento da lei e a observância de direitos
trabalhistas em todo o território nacional.
Em 1997, Pureza recebeu em Londres o Prêmio Anti-Escravidão da Anti-Slavery International, a
mais antiga organização de combate ao trabalho escravo em atividade no mundo.
Hoje, Abel vive em Bacabal com Pureza e a família.
Entre 1995 e 2021, o Grupo Móvel libertou mais de 57 mil trabalhadores em condições análogas
à escravidão.
Em 2018, segundo estimativas da Walk Free Foundation, 369 mil pessoas foram submetidas à escravidão no Brasil. No mesmo ano, segundo a OIT, 40,3 milhões de pessoas foram submetidas à escravidão no mundo. A política de combate ao trabalho escravo no Brasil se tornou referência mundial. Atualmente, o combate ao trabalho escravo enfrenta retrocesso no atual governo federal e no Congresso.
“O filme apresenta o retrato inglório de uma sociedade que, até hoje, em pleno século 21, não conseguiu se desvencilhar das amarras da escravidão. Filme intenso, cenas fortes, belíssimos enredo e fotografia. É o cinema brasileiro mostrando que veio para ficar.” (Alessandra dos Santos Teixeira , Auditora Fiscal do Trabalho)