A aesthetic dos anos 2000 é legal, mas a década tinha lá seus problemas
Copiar o look e ouvir bandas da década é cool, agora repetir os erros definitivamente não é
A aesthetic (termo em inglês correspondente a estilo) dos anos 2000 voltou com força neste ano, começando pelo guarda-roupas dos jovens e depois influenciando nas novidades do universo da música e do cinema. Quer ver? Entre os exemplos de celebridades que incorporaram muito da década em seus álbuns e estilos estão Olivia Rodrigo e Luísa Sonza. É normal que esse tipo de reciclagem de tendências de uma década aconteça de tempos em tempos, principalmente por causa da moda – e pelo sentimento de nostalgia que fazer essas conexões traz.
Mas, como tantos elementos da década voltando à tona, incluindo filmes como Garotas Malvadas e Legalmente Loira, é importante olhar para aqueles anos com um certo distanciamento e saber fazer as críticas necessárias. Não faz muito tempo, mas com a popularização da internet e o surgimento dos smartphones, muita coisa mudou – e ainda bem. Por exemplo, quando você pensa em filmes teen dos anos 2000, como imagina a protagonista? Uma garota alta, magra, branca, popular e líder de torcida, provavelmente. Por muitas décadas, Hollywoood produziu e reforçou estereótipos e clichês através de narrativas focadas em personagens brancos, corpos padrões e vivendo relações heterossexuais.
A maior parte dos filmes dessa época seguia quase sempre uma fórmula pronta: uma garota tímida é incomodada por uma garota popular, que namora um jogador de futebol americano. O menino se apaixona pela garota tímida e eles são felizes para sempre – uma releitura dos contos de fadas. Na maior parte das vezes, essas histórias compactuavam com a rivalidade feminina e colocavam o garoto como um prêmio, como se quem ficasse com ele ganhasse. Além disso, quantos relacionamentos entre dois meninos ou duas meninas apareciam nas produções da época? É claro que muito ainda precisa ser feito, mas hoje vemos séries como Sex Education e Atypical.
Outro ponto importantes: corpos que apareciam nas telas, capas de revista e propagandas também não faziam com que a maior parte das garotas se sentisse representada. Pouco antes, nos anos 90, a magreza virou o foco nas passarelas e começou a ser o padrão dos corpos que apareciam na mídia. Começava então uma corrida pelo corpo dito como “perfeito”, e o aumento de produtos que ajudariam a alcançá-lo. A indústria era cruel com mulheres que não estavam dentro dos padrões (e ainda é) e, Alicia Silverstone, que atuou em As Patricinhas de Beverly Hills, (que, vale lembrar, tinha também certos privilégios por ser uma mulher loira e branca) foi uma de suas vítimas.
Após ganhar 12 Kg, Silverstone virou alvo de comentários tóxicos e gordofóbicos. “A imprensa fazia piada com o meu corpo. Era dolorido, mas eu sabia que eles estavam errados. Não fiquei confusa. Eu sabia que não é certo fazer piada com o corpo de alguém, não é algo correto para fazer com ninguém“, disse recentemente.
Ainda há muito o que ser discutido e refletido, mas hoje temos acesso a conteúdos sobre a importância da autoaceitação em um clique e também é muito mais fácil encontrar garotas com quem nos identificamos – com o corpo, estilo, gênero, identidade… Crescer nos anos 2000 foi sim legal, mas é importante rever o que acontecia naqueles anos e refletir sobre o que não deve ser reproduzido hoje. Copiar o look e ouvir bandas da época é cool, agora repetir os erros da década definitivamente está longe de ser.
*Com informações da Capricho.