A abominável chamada em vídeo

Entardeceu, o frio dá as cartas e deixa claro para o que veio.

De repente uma chamada no celular : oba, uma amiga querida e a promessa
de muita conversa gostosa, dessas que fazem a gente se esquecer das
horas e aquecem a gente melhor que uma xícara de chocolate quente.
Epa, mas é uma chamada de vídeo, e a primeira tentação é deixar o
telefone tocar até a ligação cair.

Mas gente, nunca foi tão necessária a interação entre as pessoas,
pois estamos frágeis, carentes e sombrios.

Daí que mesmo não retendo mais na face o frescor da juventude, mesmo
você sabendo que deveria ter retocado a raiz do cabelo que já está
branca, mesmo elencando intimamente todos os reparos faciais que têm
urgência em serem feitos, você se dá conta que quem lhe chama é uma
cara amiga. Está bem, vá se danar vaidade, porque por hora você vai
ficar num cantinho qualquer.

A conversa como sempre flui, e os assuntos abordados são inesgotáveis.
Até que sua amiga lhe conta que ao sair com seu filho de uma clínica
onde o havia levado para se consultar, uma senhorinha à sua frente, uma
velhinha, atropelou um motociclista.

A clínica estava de um lado da rua e do outro estava um hospital de
grande prestígio. Minha amiga, desde sempre uma alma altruísta, desceu
prontamente do seu carro para socorrer o motociclista. A velhinha, como
minha amiga já estava se referindo à senhorinha, estava ali porque seu
marido seria submetido a uma cirurgia ainda naquela manhã.

De repente interrompi minha amiga para dizer-lhe que achava muita sorte
a senhorinha não ter sofrido um enfarte. Minha amiga caiu numa gostosa
gargalhada, não por ser insensível ao drama que poderia ter
acontecido, mas pelas intervenções que costumo fazer quando escuto
histórias. Cecília, minha amiga, me tranquilizou dizendo que a
velhinha estava “de boa”, firme diante da situação… aí disparei :
ela acalmou você dizendo que é uma atropeladora profissional e que
aquele era o décimo quarto atropelamento cometido por ela, não?
Minha amiga querida disse que ficaria muito feliz se tivesse apenas 5%
do meu bom humor, e rimos muito.

Mas ainda vou encabeçar um movimento pelo fim das vídeo chamadas, com
certeza vou.

*Colaboradora: Ângela Beatriz Sabbag