Sex Education: terceira temporada alavanca temáticas queer e repressão de identidades
Uma das séries mais relevantes da Netflix, Sex Education volta em uma temporada afiadíssima que mostra a influência do sistema na construção de personalidade de jovens adolescentes
É uma série adolescente, mas uma série adulta. A série que todos nós, millennials, queríamos ter visto quando jovens. Sim, Sex Education vai muito além de um excelente entretenimento, e traz para a pauta reflexões necessárias sobre identidade, sexualidade, masculinidade tóxica, intimidade, sororidade e mais. Se nas duas primeiras temporadas já tivemos vislumbres muito bem construídos de tudo isso, prepare-se: a terceira temporada chega afiadíssima no discurso aprofundando ainda mais na visibilidade queer e na repressão de sistemas na identidade de jovens adolescentes.
Para quem não se lembra, o final da segunda temporada mostra a demissão de Mr. Groff (Alistair Petrie) da direção da Moordale Secondary School, o que já abre espaço para uma nova personagem entrar na história: Hope (Jemima Kirke). A jovem coordenadora educacional parece um tanto quanto empática e divertida, por causa da idade, do currículo, das roupas descoladas. Porém, uma vez conquistado o coração dos alunos pelo seu coolness, se mostra mais uma peça da manutenção do sistema. Triste, mas acontece (e muito).
Ela implementa regras rígidas para tentar livrar a imagem da escola daquela sexual, “the sex school”. Filas únicas, uniformes, reformas na escola (nada de cores, nada de arte, nada de nada), controle sobre a aparência dos alunos (sim), aulas ridículas de educação sexual e repressão da identidade queer de outras novas personagens, entre elas, Cal Bowman (Dua Saleh). Dentro desse contexto, vemos todos os alunes ficarem sem energia, sem vitalidade, sem vontade de viver. A personalidade de cada um é ridicularizada e levada ao fundo do poço. E isso tira o brilho dos olhos das pessoas.
No paralelo, as histórias individuais se desenrolam a partir dos acontecimentos da temporada anterior. Vemos Eric (Ncuti Gatwa) e Adam Groff (Connor Swindell) se encontrando e desencontrando em uma recém-relação; Otis (Asa Butterfield) tentando fingir que não sente falta de fazer a clínica e transando com uma pessoa bastante ~inesperada. Tem também a amizade da Maeve (Emma Mackey) e da Aimee Gibbs (Aimee Lou Wood), que se desenrola de jeitos tão bonitos e interessantes para as mulheres olharem melhor para as outras mulheres, e amigas, e colegas. A mãe de Otis, Jean Millburn (Gillian Anderson), buscando caminhos saudáveis para fazer a sua segunda (e inesperada) gravidez funcionar — sem falar sobre o amor na maturidade e os impasses da intimidade nessa fase da vida também, só que diferente.
Enfim, todas as histórias trazem novos debates sobre afetos, confiança, ser verdadeiro com o “si próprio”, lutar pela libertação coletiva e não só individual, e as dores também, normais de qualquer vida enquanto ser humano.
Sex Education sempre entrega tudo num pacote completo: roteiro bem construído e super relacionável, personagens complexos, estética deliciosa, atuações ótimas. Mas, vale reparar, que a cada temporada eles se superam em relação ao conteúdo tratado (com a naturalidade que sempre deveria existir), cavam mais fundo os tabus sociais e fazem jus ao nome que carrega. Saudades do que a gente não viveu? Talvez. Feliz demais, porém, em assistir isso hoje, considerando todo o nosso contexto político-social.
*Com informações da Glamour