Precisamos falar sobre: cabelos, representatividade e empoderamento
Muito mais do que apenas estética ou aparência, o cabelo traz uma carga muito grande para muitas pessoas, em especial mulheres. Existe uma ideia machista e patriarcal de que mulher deve ter um cabelo comprido para atingir um padrão de beleza imposto pela sociedade e que o cabelo curto está associado à masculinidade. Para além da questão do tamanho do cabelo, durante anos mulheres fizeram de tudo para esconder seus cabelos brancos ou grisalhos. Ao primeiro sinal desses fios indesejados, a tintura entrava em cena correndo para esconder qualquer vestígio. Para nos ajudar a entender questões de aceitação e também representatividade, o ‘Prosa’ convidou a consultora de imagem e estilo, Michele Passa e a modelo Cláudia Porto para um debate.
Mas quando falamos de cabelos, não podemos nos esquecer que também estamos falando de uma pauta extremamente racializada e de toda a sua representatividade. Sendo um tema muito sensível para esse recorte de mulheres, as madeixas também possuem uma importância muito grande de ancestralidade e linguagem visual de determinados grupos étnicos. Michele, inclusive, destacou a importância da representatividade para empoderar outras mulheres e também relembrou do episódio que a fez assumir sua transição capilar.
“Eu dava aula de física em uma escola e me perguntaram se eu dava aula ou era cozinheira. Foi muito importante e foi naquele exato momento que eu decidi que era uma pessoa negra que precisava impor minha representatividade naquele espaço que dava aula para mais de 100 alunos brancos”.
Cláudia afirmou que precisou buscar referências no exterior para poder assumir seus cabelos grisalhos. “Eu já vislumbrava a possibilidade por acompanhar modelos de fora e aí comecei perceber que também era observada na rua e as pessoas vinham perguntar se meu cabelo era natural. Meu objetivo principal sempre foi quebrar esses preconceitos e paradigmas que nos limitam muito. Minha transição foi radical, deixei crescer dois dedos da raíz e cortei bem curtinho”.
Pressão estética e transição capilar
Durante a conversa a modelo Cláudia Porto pontuou que é difícil não sucumbir a uma pressão estética que é imposta pela sociedade. “Comecei a ter cabelo branco bem cedo desde os 20 e poucos anos ou 30 eu pintava. Meu cabelo curto é liso, então cresce rápida e a raíz aparecia. Era uma escravidão sempre ter que retocar porque meu cabelo com sete dias já apontava um branco que se destacava no meio dos cabelos pretos. Não sei porque demorei tanto para tomar a decisão e minha chave virou em uma conversa com minha filha quando ela disse que aquele cabelo não era meu e não sabia quem eu realmente era. De toda forma a sociedade sempre vai te cobrar”.
Michele contou que mostrou todo seu processo de transição capilar em suas redes sociais porque percebeu que haviam poucas pessoas falando sobre o tema. A consultora de imagem e estilo também recordou que sofria bullyng na infância por causa de seu cabelo crespo e que foi um processo de aceitação longo.
“Comecei a criar esse conteúdo na internet em 2014 ou 2015 e sempre sofri muito na escola por esse processo de que cabelo crespo era horrível. Desde muito cedo meu cabelo foi cortado então passei minha infância e pré-adolescência com o cabelo bem curtinho e crespo. Imagina o tanto que sofri e o tanto de apelidos e situações de bullyng. Eu lembro de uma situação que alguns meninos jogaram carrapicho, que é uma bolinha cheia de espinhos, no meu cabelo e foi um horror tirar aquilo. Também chamavam meu cabelo de capacete pelo volume e não se falava tanto da questão do empoderamento, de entender que seu cabelo é bonito. Foi um tempo extremamente difícil para se entender, aceitar, amar e se sentir bonita”.
*Com informações do Hypeness.