Criadores de conteúdo da OnlyFans ‘culpam’ famosos por banimento de sexo explícito na plataforma
“Celebridades realmente apareceram e arruinaram tudo para aqueles que estavam usando isso para ganhar a vida”, dizem os chamados trabalhadores do sexo que construíram seus meios de subsistência no site adulto
Usuários que construíram seus meios de subsistência no OnlyFans estão criticando a plataforma, que anunciou nesta quinta-feira (19) a decisão de banir todo o conteúdo sexualmente explícito a partir do dia 1 de outubro.
A plataforma OnlyFans, que ficou conhecida justamente por hospedar conteúdo adulto, afirmou que está “evoluindo suas diretrizes de conteúdo” após enfrentar uma pressão de seus financiadores, que tramitam milhões de dólares para a empresa.
Com o anúncio da mudança de perfil no OnlyFans, os membros passaram a ter uma reação mais do que amarga e chegaram inclusive a ameaçar boicotar a plataforma por completo.
Segundo o DailyMail, uma influencer norte americana da plataforma, chamada Camila Elle, de 21 anos de idade, acusou o site de ‘usar’ seus criadores para promovê-lo nas redes sociais e atrair usuários. Ela também pontuou que muitos, incluindo ela, transformaram OnlyFans em uma carreira de tempo integral, abandonando outras oportunidades profissionais para se dedicarem à criação do tipo de imagens e vídeos picantes.
“Eu me sinto traída por OnlyFans, fiz disso tudo o meu sustento e desisti dos meus sonhos de me tornar um médica para seguir uma carreira em tempo integral no site. As trabalhadoras do sexo construíram esta plataforma, é um negócio para nós. Fomos nós que promovemos o OnlyFans nas redes sociais. Eles nos usaram para construir a plataforma e agora estão nos descartando”, desabafou Camila.
O comentário de Camila é um no meio de tantos lamentos de criadores de conteúdo adulto do OnlyFans, que se indignaram com a decisão anunciada nesta quinta-feira. Outro ponto abordado pelos membros da rede social é quantidade exponencial de pessoas famosas aderindo à plataforma e criando seus perfis.
Eles alegam que nomes como Bella Thorne, Cardi B, Tyga cobram preços muito altos por imagens que são muito mais moderadas do que o conteúdo explícito que os chamados trabalhadores do sexo oferecem no site.
Ainda de acordo com o Daily Mail, outra criadora de conteúdo do OnlyFans, Ona Artist, pontuou que a nova decisão da companhia pode ser considerada um suicídio. “Eles podem alegar que é por causa das regras dos patrocinadores, mas essas empresas realizam compras de pornografia em toda a internet. E as modelos sempre encontrarão uma maneira de compartilhar conteúdo sexual com quem quiserem”.
Famosos no site e a reação dos criadores de conteúdo populares
Segundo a imprensa internacional, atualmente as celebridades mais bem pagas na plataforma são Blac Chyna, Bella Thorne, Cardi B, Tyga e Mia Khalifa. A presença das estrelas, no entanto, vem incomodando outros criadores de conteúdo da plataforma, que alegam que acabam perdendo dinheiro por conta dos famosos.
Bella Thorne por exemplo, acabou recebendo amargas críticas depois de ingressar na plataforma e cobrar U $ 200 (R$ 1 mil) por uma única imagem que, segundo ela, continha nudez – no entanto, ela não estava realmente nua.
No dia que ela entrou na plataforma, Bella abocanhou US$ 1 milhão (R$ 5,3 milhões) em menos de 24 horas, e este valor dobrou nas 48 horas seguintes. Na época, a OnlyFans chegou inclusive a implementar um limite de pagamento diante das polêmicas entre os criadores de conteúdo. A partir dali, as fotos passaram a ter um teto de US$ 50 (R$ 269), bem abaixo do anterior.
Após a reação, Bella Thorne pediu desculpas às trabalhadoras do sexo, insistindo em uma série de tweets que ela sempre pretendeu apenas normalizar o trabalho do sexo, e não prejudicar financeiramente aqueles que trabalham na indústria.
Com a polêmica decisão da OnlyFans, os criadores de conteúdo e os internauta começaram a discurtir e atacar os famosos por conta da nova política. “Celebridades realmente apareceram e arruinaram tudo para aqueles que estavam usando isso para ganhar a vida”, disse uma pessoa no Twitter. Outra continuou: “Eles arruinaram a plataforma [por] serem gananciosos”.
Um terceiro descreveu a mudança como um “tapa na cara” para as trabalhadores do sexo, escrevendo: “OnlyFans banindo conteúdo sexual é um tapa na cara de quem realmente construiu o site. E grite para todas as celebridades que arruinaram o espaço seguro para as trabalhadoras do sexo”.
Renda focada em Sexo
Um criador de conteúdo influente – porém não exatamente famoso – na plataforma, pode ter bons ganhos na platafoma. É o caso de Nita Marie, que chegou a arrecadar US $ 1,8 milhão (R$ 9,7 milhões) em um ano usando apenas o OnlyFans.
Nita alerta que a proibição explícita de conteúdo do site pode colocar as trabalhadoras do sexo em risco sem uma plataforma “Segura e regulada” para ganhar dinheiro. “OnlyFans ajuda a reduzir o tráfico sexual e o trabalho sexual ilegal, pois depende dos criadores que optam por postar o conteúdo. O trabalho sexual online é verificado, seguro e legal e OnlyFans também oferece uma oportunidade para o usuário interagir com o criador em um ambiente seguro. Mudar suas condições pode causar enormes problemas para as pessoas”.
De fato, uma pesquisa feita recentemente pelo MrQ, que estudou os lucros dos perfis famosos do site e comparou com a renda anual de trabalhadores do Reino Unido, revelou que as estrelas da plataforma de conteúdo adulto ganham até 270 vezes mais do que um trabalhador médio das áreas de comunicação, educação, direito e medicina.
Atualmente, o perfil mais popular da OnlyFans é o da modelo conhecida como gem101, que faz cerca de US $ 29,4 milhões (R$ 159 milhões) por ano. Já a décima conta mais famosa, a modelo capriceG92, ganha US $ 4,3 milhões (R$ 23,1 milhões) em 12 meses. Em comparação com médicos britânicos, que estão trabalhando na área há 20 anos, a renda não passa de US $ 109 mil (R$ 587 mil) por ano.
Posicionamento do OnlyFans
A OnlyFans diz que os criadores podem continuar a compartilhar conteúdo com nudez “desde que seja consistente com nossa Política de Uso Aceitável”. Com isto, a plataforma deixará de exibir conteúdos de sexo explícito, bem como estupro, tortura, pornografia de vingança e tráfico sexual.
Atualmente a plataforma já conta com 130 milhões de usuários, e ficou conhecida justamente por ter perfis vendendo conteúdos de sexo explícito. Como resultado, a adesão do site disparou nos últimos 18 meses e agora possui mais de 2 milhões de criadores, que já arrecadram, juntos, mais de US $ 5 bilhões (R$ 26,9 bilhões) desde que a OnlyFans foi lançada, em 2016.
Os fãs pagam aos criadores para acessar o seu conteúdo por meio de uma assinatura mensal, que pode variar de US $ 4,99 (R$ 26,9) a US $ 49,99 (R$ 269,5). A OnlyFans recebe uma comissão de 20% sobre todas as assinaturas.
No entanto, a empresa se tornou uma espécie de ‘zona proibida’ para empresas de capital de risco que têm regras contra o investimento em aplicativos e sites que promovem e hospedam conteúdo adulto. É por isso que se entende que a falta de oportunidades de investimento é a razão por trás da proibição de conteúdo sexualmente explícito da OnlyFans.
A equipe de relações públicas da plataforma insiste que o site foi configurado para todos os criadores, “de fitness, dança, DJs até música”, com a premissa de que se fãs de influenciadores fossem realmente fãs, eles pagariam uma taxa de assinatura para ver o conteúdo seus ídolos produzidos.
No entanto, grande parte da popularidade de OnlyFans deriva de seu conteúdo adulto, que atraiu milhões e até celebridades. Também se tornou um porto seguro para profissionais do sexo que poderiam gerar uma renda sem conhecer um cliente pessoalmente.
*Com informações da Quem