65 anos de Brasília: distritais pleiteiam cidade que desejam para o futuro
No bojo das cobranças, melhorias na saúde, na educação e no transporte são as mais requeridas

Na esteira do aniversário de 65 anos da capital do Brasil, celebrado na última segunda-feira (21), os deputados da Câmara Legislativa discursaram na sessão ordinária desta terça-feira (22) sobre o modelo de cidade que almejam para o presente e o futuro de Brasília. Entre queixas e declarações de amor ao Distrito Federal, cobranças na saúde, na educação e nos transportes despontaram como pontos mais requeridos pelos parlamentares.
“É preciso que a Câmara Legislativa se levante contra essa situação na saúde pública do DF. Tem que encontrar uma saída, não pode continuar desse jeito, à míngua. Tem gente saindo de Brasília para se tratar no Piauí, Maranhão, porque o atendimento aqui realmente está inaceitável. As pessoas estão me ligando dizendo que o parente delas vai morrer”, contextualizou o decano da Casa, deputado Chico Vigilante (PT), ao iniciar as falas em plenário.
De modo análogo, o também distrital Max Maciel (Psol) contou ter recebido uma série de reclamações da população para problemas na rede pública de saúde do Distrito Federal. Unidades de Pronto Atendimento (UPA) sem pediatras e pessoas internadas em macas foram relatados nos últimos dias. Conforme informou Maciel, tais extremos se somam a outras denúncias mais antigas, como casos de macas emendadas com gazes e pacientes com caixas como encosto de cabeça enquanto recebiam atendimento.
“O problema da saúde é de gestão sim, nós temos um orçamento de R$ 14 bilhões. A verdade é que a saúde do DF não tem sido prioridade e isso é uma decisão política”, criticou Dayse Amarilio (PSB). “Para onde está indo o dinheiro da saúde no Distrito Federal? Porque para as pessoas a gente não vê, a população está peregrinando nas UPAs e nos hospitais”, completou a distrital, que preside a Comissão de Saúde da CLDF.
“Quantas pessoas já perdemos por falta de política pública? Por falta de humanidade?”, questionou a deputada Paula Belmonte (Cidadania).
Com foco na história da cidade, o parlamentar Gabriel Magno (PT) lembrou que o cenário na saúde pública nem sempre foi esse. Ele apontou que Brasília se antecipou à própria construção do Sistema Único de Saúde, pois já na década de 1960 o médico Bandeira de Mello apresentou um Plano Diretor de Saúde que previa um sistema público que garantisse acesso universal.
Segundo Magno, uma das vias para reconstruir os serviços está nas mãos do próprio Legislativo, que no exercício do seu poder fiscalizador pode reivindicar reformas da política comandada pelo Executivo. Citou, como exemplo, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Instituto de Gestão Estratégica da Saúde (Iges). Protocolada em 2024 na Casa, segue na fila das CPIs a serem instaladas na Câmara Legislativa.
Caminhos para a educação
Com palavras em homenagem à cidade, o deputado Pepa (PP) evocou que Brasília “simboliza o sonho de um país unido, moderno e acolhedor”. Na mesma linha, Magno concordou que a cidade é a capital dos sonhos, da esperança, da democracia e das oportunidades. Contudo, o petista contrastou tal imaginário com a realidade que cidadãos de todas as regiões administrativas enfrentam no dia a dia da educação.
À frente da Comissão de Educação da CLDF, Magno lamentou na sessão ordinária que os professores da rede pública — os quais já foram os mais bem pagos da categoria no Brasil — hoje ocupem as piores posições nacionais em termos de remuneração. Logo depois, sinalizou que amanhã (23) docentes promovem uma assembleia com vistas a negociar com o Buriti a recuperação das perdas salariais ao longo dos anos.
Também no campo da educação, o distrital Ricardo Vale (PT) comemorou o anúncio do governo de que vai adotar um ‘cartão uniforme’ para alunos de baixa renda adquirirem diretamente as peças do vestiário. Segundo ele, atrasos e erros nas vestimentas fornecidas pelo GDF se sucedem sem que se chegue a resolver a questão.
Vale apontou que tramita na Câmara Legislativa um projeto de lei da autoria dele dedicado a tratar da matéria, o de nº 505/2023. “Vamos acelerar a tramitação para que seja aprovado e o governo regulamente”, declarou Vale. Com a medida, espera potencializar a produção de confecções e indústrias locais, uma vez que as compras por licitação do Executivo frequentemente provêm de outras unidades da federação.
Transporte para o futuro
A pauta da mobilidade também atravessou os discursos. “O transporte é caro para todos nós, bilhões e bilhões de reais são tirados do nosso bolso para subsidiar os grandes empresários do transporte de Brasília”, disparou Belmonte. Além de constatarem as adversidades no deslocamento coletivo dos habitantes, os deputados propuseram soluções.
Maciel, por exemplo, detalhou que ao menos 117 cidades no Brasil zeraram as tarifas de transporte público. Nesse sentido, o deputado celebrou que aos fins de semana e feriados a população do DF possa transitar pela cidade de graça no transporte coletivo, política implementada neste ano. O distrital, que preside a Comissão de Mobilidade da Casa, vislumbrou os efeitos positivos da mudança. Em comparação com o Carnaval de 2025, quando ainda se exigia a tarifa, o uso do transporte público aumentou 71% no feriadão da última semana. Na média geral, verifica-se um crescimento de 51% quando se analisam os finais de semana e feriados como um todo.
Na próxima sexta-feira (25), o Legislativo do DF sedia um seminário sobre o Tarifa Zero. Membros do governo, representantes federais e especialistas se reúnem a partir das 14h, na Sala das Comissões, para estudar a ampliação do transporte gratuito no DF. A participação é aberta ao público, com emissão de certificado para os inscritos.
Daniela Reis – Agência CLDF