O Fim do Mundo
– Mãe! O mundo vai acabar?
– (Risos) Que história é essa, menino? Quem te falou isso?
– Ouvi no rádio, de manhã. Vai acabar, mesmo?
– (Mais risos) Acho que não, meu filho. O que você ouviu?
– Que o pessoal da NASA estudou um asteroide… O que que é asteroide?
– Ah! Acho que que é uma espécie de estrela pequena, sem luz.
– Ahn! Tá. Pois é, acho que ele chama Bennu, com dois enes, que vai cair daqui a uns cento e sessenta anos. Com uma forçona de um monte de bomba atômica.
– Nossa! Cento e sessenta? Mas, até lá eu nem vou estar mais aqui.
– Aonde que você vai, mãe?
– (Muitos risos) Acho que já vou estar morando com Papai do Céu. E acho que você também.
– Por que?
– Ah! Porque eu já ia estar velhinha. E você também. Então é melhor nem ficar pensando nisso. Já fez a tarefa da escola?
– Mas, mãe, no rádio falou que quando ele cair, todo o mundo vai morrer. Igual aos dinossauros… Porque que os dinossauros morreram?
– Olha, eu vou fazer uma proposta. Depois da sua aula nos dois vamos fazer uma pesquisa sobre essas coisas, está bem? Vamos saber tudo sobre esses asteroides, sobre os dinossauros, sobre essas coisas todas. O que você acha?
– Eu num quero morrer, não, mãe.
– Mas vai demorar muito!
– Eu num quero. Quando eu ‘ver’ o asteroide vindo, já que eu não posso correr com esse aparelho (ortopédico) eu enfio debaixo da cama e fico lá até o mundo acabar de acabar.
– (Risos) E o quê que você vai fazer? Num vai ter ninguém. Todo mundo morreu. Você vai ficar sozinho. Não vai ficar muito triste, não?
– Ah! Se todo mundo morrer, eu vou ficar com tudo pra mim. E aí, eu vendo as coisas todas e fico muito, muito rico. Com mais de um milhão. Depois eu vou comprar uma casa e um carro novinho. Um Mercedes, igual aquele da propaganda da televisão. Aí eu vou saber dirigir e vou ficar passeando de carro pra baixo e pra cima, pra todo lado.
Nesse ponto do diálogo, a mãe se enternece e pensa no quanto há para se conquistar nos sonhos de uma criança. O quanto aquele menino poderia projetar a partir de sua tenra idade. E sabe, no fundo do coração, que cada conquista, por menor que seja, abre um novo leque de possibilidades, um novo espectro de desafios. Para ela, mãe amorosa, a maior dádiva seria conseguir reverter aquele quadro da sequela de poliomielite que, infelizmente, ela sabia, iria reduzir as chances de ele escapar, correndo, da queda do asteroide. E que também as oportunidades, pensando de forma realista, sofreriam sérias restrições.
– Então tá, meu filho. Agora “sebo nas canelas” que já está na hora de ir pra escola.
– (Risos) Sebo nas canelas???… que bobeira, mãe! (Muitos risos)

Mário Sérgio Rodrigues Ananias é Escritor, Palestrante, Gestor Público e ativista da causa PcD. Autor do livro Sobre Viver com Pólio.
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4 Comments
mais um excelente texto…. leve, sóbrio e que nos faz pensar sobre os grandes problemas da vida a partir de uma nova perspectiva.
Sorriso de criança, sonhos de criança! Não existe nada mais gostoso, mais terno, maior!
E como é importante! Afinal ser grande trás grandes desafios, e a criança que existe em cada um de nós precisa ser preparada para transcender os obstáculos. Melhor seria não precisar de mais esse desafio das sequelas da poliomielite. Já temos a solução: vacina!
Lindo artigo Mário Sérgio Rodrigues Ananias!
Sorriso de criança, sonhos de criança! Não existe nada mais gostoso, mais terno, maior!
E como é importante! Afinal ser grande trás grandes desafios, e a criança que existe em cada um de nós precisa ser preparada para transcender os obstáculos. Melhor seria não precisar de mais esse desafio das sequelas da poliomielite. Já temos a solução: vacina!
Lindo artigo Mário!
Obrigado.