Tecnologia desenvolvida por médico especialista permite preservar a fertilidade durante o tratamento do câncer de colo do útero
Dispositivo Duda aumenta chances de gravidez em mulheres tratadas por câncer ginecológico
Uma invenção inovadora promete transformar o tratamento do câncer do colo do útero em estágio inicial, e dar esperança a mulheres que desejam manter a fertilidade após o diagnóstico. Criado em 2019 pelo cirurgião oncológico Dr. Marcelo Vieira, ex-chefe da Ginecologia do Hospital de Câncer de Barretos, o dispositivo Duda atua como um suporte interno para evitar o fechamento do canal endocervical após a cirurgia, permitindo que a menstruação continue e preservando a possibilidade de engravidar. No total, mais de 120 mulheres passaram pelo procedimento.
A motivação para a criação veio de um problema recorrente nos procedimentos cirúrgicos realizados pelo médico. “Ao retirarmos uma parte do colo do útero para remover o tumor, o canal de saída da menstruação tende a cicatrizar e se fechar completamente, impedindo a gravidez”, explica Vieira. A ideia para a solução surgiu de forma inusitada, durante um chá de bebê. Observando um suporte plástico de balão, o cirurgião pensou em adaptar um modelo semelhante para o corpo humano. A partir desse conceito, desenvolveu um protótipo junto a um especialista em produtos médicos e iniciou os primeiros testes.
O Duda, sigla para Dispositivo Uterino para Dilatar o Anel Endocervical, foi produzido com um material plástico biocompatível, semelhante ao utilizado em próteses médicas. “O material é seguro, não causa rejeição e evita infecções, pois não possui porosidades”, detalha o médico.
Impacto na fertilidade e no tratamento oncológico
O câncer do colo do útero, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), é o terceiro mais comum entre as mulheres brasileiras e um dos principais responsáveis pela mortalidade feminina. Para pacientes em estágio inicial da doença, a cirurgia é uma alternativa eficaz, mas frequentemente resulta na perda da fertilidade. Com o Duda, essa realidade começa a mudar.
Antes da introdução do dispositivo, o fechamento do canal ocorria em 100% dos casos. Com o novo método, a permanência do canal aberto subiu para 60% das pacientes tratadas. Em um estudo preliminar com 25 mulheres, quatro já engravidaram após o procedimento, um número significativo considerando que nem todas tentaram a gestação imediatamente.
Além de preservar a fertilidade, o dispositivo também melhora o acompanhamento pós-operatório, permitindo que médicos avaliem o canal endocervical para verificar possíveis recidivas da doença. “Para mulheres mais velhas, que já não têm intenção de engravidar, a importância do dispositivo está na possibilidade de realizar exames de acompanhamento de forma mais eficiente, prevenindo a volta do câncer”, destaca Vieira.
Estudos clínicos e perspectivas futuras
Atualmente, a pesquisa está em fase de ensaio clínico. Para validar cientificamente sua eficácia, 120 pacientes serão operadas com o uso do Duda e outras 120 sem o dispositivo, conforme determinação de um sorteio computadorizado. O estudo já conta com 120 cirurgias realizadas, e a expectativa é concluir os testes no próximo ano.
Ana Paula, de Naviraí (MS), enfrentou um dos momentos mais desafiadores de sua vida ao receber o diagnóstico de câncer do colo do útero. Com o tumor ainda em estágio inicial, ela viajou 800 km até Barretos em busca de uma alternativa que lhe permitisse continuar sonhando com a maternidade.
Após a cirurgia e o implante do dispositivo Duda, foi liberada para tentar engravidar seis meses depois. No sétimo mês, veio a notícia tão esperada. “Eu apostei todas as minhas cartas lá em Barretos. Não imaginava que chegaria até as 37 semanas, e agora estou aqui, esperando meu filho nascer. Para mim, isso é uma verdadeira vitória”, conta Ana Paula, que deu à luz Vitor com 3,5 quilos e 51 centímetros.
Para viabilizar a produção em larga escala, o Hospital de Câncer de Barretos passou a financiar a pesquisa e iniciou os trâmites para o registro do dispositivo na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Esperamos que até o final deste ano o Duda possa ser comercializado e oferecido gratuitamente pelo SUS”, afirma o cirurgião. A acessibilidade é um dos principais objetivos da iniciativa, considerando que tratamentos de fertilidade privados são caros e inacessíveis para grande parte da população.
O Dr. Marcelo Vieira, que também é mentor de cirurgiões e referência em técnicas minimamente invasivas, reforça a necessidade de conscientizar mais médicos sobre a possibilidade de preservar a fertilidade de pacientes oncológicas. “Muitas mulheres não sabem que existe essa opção. Precisamos garantir que elas tenham o direito de decidir sobre seu futuro reprodutivo. O Duda poderá representar um avanço significativo na medicina oncológica e na saúde da população feminina, garantindo que um diagnóstico de câncer não signifique, automaticamente, o fim do sonho da maternidade”, defende.

Sobre o Dr. Marcelo Vieira
Dr. Marcelo Vieira é cirurgião oncológico, especialista em cirurgias minimamente invasivas e mentor de cirurgiões. Com mais de 20 anos de experiência, iniciou sua trajetória no Hospital de Câncer de Barretos, onde atuou como chefe da Ginecologia e se dedicou ao atendimento 100% SUS. Em 2019, realizou o primeiro transplante robótico intervivos do Brasil, um marco na medicina nacional.
Após essa conquista, decidiu empreender e criou o Curso de Metodologia Cirúrgica, com a missão de transformar cirurgiões e salvar vidas. Também fundou o Cadáver Lab, um treinamento imersivo de dissecção e anatomia pélvica avançada, além de liderar programas de mentoria de alta performance, como Precisão Cirúrgica e Cirurgião de Elite.
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