Gene Hackman

Minha saudosa e querida avó viveu por longos 105 anos. Até os 100 era completamente independente. Preferia morar sozinha em sua humilde casa em Piumhi, cidade cafeeira no interior oeste mineiro. Além de se sustentar com sua aposentadoria rural, visitava os filhos em cidades esparsas, viajando sempre, acompanhada por Deus. Aos 100, sofreu uma queda em que fraturou o ílio e sobreviveu apenas mais cinco anos, e a partir do evento, com companhia constante.

Quando morria alguém jovem e famoso, artista, esportista, cientista ou outros, sempre imaginávamos que a nossa avó com toda a sua longevidade não teria vivido tanto quanto aquela personalidade que teria passado para o andar de cima com menos de 30 anos. Todas as viagens, todas as relações, tudo aquilo que aquelas pessoas experimentaram, imaginávamos, faria com que a sua vida tivesse sido mais ampla no sentido de conhecer e vivenciar as coisas do mundo, gentes de todos os tipos; terras de todas as nuances. Dependendo do prisma pelo qual se observasse a questão, talvez até fosse verdade. Hoje, muitos anos passados, pela sorte de acesso à cultura e ao conhecimento, tenho outra perspectiva.

Me senti compungido com a notícia da morte do excelente ator americano Gene Hackman. Não só pela perda significativa para o cinema e as artes como um todo, mas também pela forma dolorosamente triste como aconteceu. O homem digno, que se expressou, com maestria, dizendo: “Se você se considerar um astro, você já perdeu alguma coisa na representação de qualquer ser humano.”

Já não era jovem, 95 anos. Vivia em quase reclusão com a esposa Betsy Arakawa, de 64 anos, que também teve um fim trágico. Ele, vítima de Alzheimer, em estágio avançado, era totalmente dependente de terceiros, até para as tarefas mais simples. Ela, que assumia as funções de cuidadora zelosa, foi acometida por violenta desidratação provocada pelo hantavírus; não conseguiu ser auxiliada em tempo e sucumbiu. Ele, que não pode ajudá-la, morreu de fome e sede, inanição, pois sua condição não lhe instrumentalizava para, sequer, cuidar de si mesmo. Segundo os legistas, durou alguns dias após a morte dela e, até mesmo o cão do casal, que não teve acesso a água e alimentos, após a morte dela, também não resistiu.

Há relatos de situações como a do ator, experimentadas por pessoas com deficiência grave. E importa aqui fazer um alerta a todas os tutores que tenham crianças sob sua reponsabilidade: não permitam que doenças passíveis de imunização, como a poliomielite (paralisia infantil) consiga atingi-las. E a forma mais simples – e por quê não dizer(?), econômica – de demonstrar esse amor é vacinar os pequenos contra toda e qualquer doença passível de prevenção.

Como muito bem colocado por David Arnold e David McAlmont, na delicada e magnífica canção “No Good About Goodbye” (2009), tema do filme de ação “007-Quantum of Solace”:

“Não há consolo num beijo / nem conforto num suspiro / Não há nada de bom no adeus!”.

Que o cenário celeste o acolha, Sr. Hackman.

Mário Sérgio Rodrigues Ananias é Escritor, Palestrante, Gestor Público e ativista da causa PcD. Autor do livro Sobre Viver com Pólio.

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